Porto Alegre Ano 5 # 1577 |
Um sábado que começo no sul e deve terminar em voo rumo a mais setentrional das 27 capitais brasileiras. No final desta tarde inicio viagem rumo a Boa Vista, capital de Roraima, onde devo chegar às 3h (4h horas pelo horário de Brasília) em uma viagem de cerca de 10 horas.
É primeira vez que vou a este estado brasileiro. Não estive ainda em um dos 8 estados dos Nordeste (Piauí), um dos 5 do Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal (Tocantins) e em três dos 7 do Norte (Acre, Amapá e Roraima). Assim já dei aulas/palestras em 22 das 27 unidades federadas. Este número passará na próxima semana para 23. Da minha extensa estada em Roraima (só retorno na sexta-feira) falarei durante a semana. Na minha agenda para 4 dias, estão 3 palestras, 1 mesa-redonda, 1 fala para um grupo indígena e 4 x 2 horas de minicurso.
Coincidentemente a dica de leitura tem a ver com um dos estados brasileiros onde o tema do livro – questão indígena – é mais significativo.
SCLIAR, Moacyr. A Majestade do Xingu. São Paulo: Companhia de Bolso. 1ª Ed, Companhia das Letras, 2000. 201 p. 12.50 x 18.00 cm ISBN 978-85-359-1438-2
Primeiro algo do autor, depois acerca do livro. O autor – já muito presente neste blogue por suas apreciadas crônicas e também por livros que foram dicas de leitura – e um dos 40 ‘imortais da Academia Brasileira de Letras.
Moacyr Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim
, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica, a 23 de março de 1937. Cursou, a partir de 1943, a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Rosário, uma escola católica. Em 1963, após se formar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica. Especializou-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969. Em 1970, frequentou curso de pós-graduação em medicina em Israel. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Já foi professor na faculdade de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Scliar publicou mais de setenta livros, entre crônicas, contos, ensaios, romances e literatura infanto-juvenil. Seu estilo leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APC
Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida de classe média e vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas
Abro meu comentário do livro com uma resenha da página da editora: A majestade do Xingu é uma história de imigrantes, de russos, de judeus, de comunistas, de índios, de Noel Nutels, de pequenos comerciantes, de várias formas de ser brasileiro, de pais e mães, de filhos e amigos, de diferentes qualidades de amor e ódio, de cartas que não escrevemos, de lutas contra a dor. Dando voz a um dono de armarinho que dispersou afetos entre miudezas empoeiradas, Moacyr Scliar enlaça todas as histórias neste romance. Elas às vezes nos fazem rir, sempre nos confrontam com uma melancolia irremediável e se incorporam à nossa experiência de leitores de forma definitiva.
Adito a ela uma frase que está na quarta capa do livro: “No centro da história, iluminando-a, está a figura singular de Noel Nutels, o médico judeus de origem russa que dedicou sua vida a cuidar dos índios brasileiros”. Marcado por estas duas citações, acrescento um pouco desconfortado: Senti-me um pouco vítima de propaganda enganosa. Comprei o livro porque queria conhecer mais a figura quase mítica de Noel Nutels. Continuou, ao terminar a leitura, realizada nos meus longos voos desta semana, apenas o mito. Finda a leitura, conhecemos bem, ou melhor muito bem, o menino imigrante russo, companheiro de travessia de Nutels que se transforma em mal sucedido comerciante no Bom Retiro em São Paulo. Noel Nutels, ao longo de todo o livro, não passa de objeto de fixação do comerciante que conta a sua história (e pretensamente a história de Nutels) para um médico quando parece viver seus últimos momentos de vida em hospital.
Esta minha observação não significa que o livro não seja de agradável leitura ou por sua comicidade ou até por algumas pitadas de ‘sacanagem’. [Na acepção de tabuísmo: palavra, locução ou acepção tabus, consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas demais na maioria dos contextos. São os chamados palavrões e afins, e referem-se geralmente. ao metabolismo, aos órgãos e funções sexuais, incluem ainda disfemismos pesado. Isto, como ensina Houaiss, trata-se do emprego de palavra ou expressão depreciativa, ridícula, sarcástica ou chula, em lugar de outra palavra ou expressão neutra (p.ex.: ficar puto por ficar com raiva)].
Acrescento ainda: a leitura é, às vezes, cansativa, pois opera na tecla da continuada repetição. Há cenas ou situações que são repetidas quase em demasia, mesmo que aceite que ocorram em uma situação usual de um paciente terminal querendo narrar para um médico toda a sua vida.
Votos de um muito bom sábado e amanhã nos lemos de Boa Vista, Roraima.
Nossa, essa semana promete,
ResponderExcluirteremos muito o que aprender
com as impressões de sua
estada em Roraima!
Muito boa viagem,
Malu.
Muito querida Maria Lúcia,
ResponderExcluiressa viagem a Roraima encerra as viagens 2010 donde a memorável foi na noite de 7 de outubro catalisada por ti.
Será bom ter tua companhia na próxima semana,
attico chassot