14.- Quase partindo para uma viagem de corvo

Buenos Aires Ano 5 # 1564

Esta blogada despede Buenos Aires. Não é uma despedida trivial. Devo deixar o hotel às 12h para chegar na Morada dos Afagos – numa hipótese que se tudo der como o programado – depois das 23h. Qual será tão fantástico roteiro, se na vinda para cá, o voo Porto Alegre / Buenos Aires em 80 minutos? Aliás, a Gelsa que volta por um voo direto, gastará isto para retornar. Meu voo, que era também direto, foi cancelado, e foi trocado unilateralmente pela Gol, por um roteiro: Buenos Aires / Assunção / Curitiba / Porto Alegre. Será a primeira vez que passarei pela capital guarani.

A manchete: Quase partindo para uma viagem de corvo tem a ver com este meu voo. "Viagem do Corvo": Costumava se referir quando a pessoa saía para a casa de um parente e não o encontrava, ou chovia muito no local, ou algo saía muito errado e a viagem ou passeio não saía como planejado. A alusão está ligada ao fim do dilúvio universal, quando as águas começaram a diminuir e os topos das montanhas emergiram. Noé enviou um corvo, que "voou de um lado a outro e não voltou". Em seguida, Noé enviou uma pomba, mas ela retornou à arca sem ter encontrado nenhum lugar para pousar. Depois de mais sete dias, Noé novamente enviou a pomba e ela voltou com uma folha de oliveira no seu bico e então ele soube que as águas tinham abrandado.

Dentre os diversos registros sabatinos de uma Buenos Aires que estava primaveril destaco dois: um de insucesso (para nós) e outro de sucesso.

Havíamos nos programados para participar de uma das festas imperdíveis nos últimos anos aqui, que nesta noite alcançou sua sétima edição: A Noite dos Museus: das 20h até as 03h da manhã, 170 museus estavam abertos gratuitamente. Elegêramos o Museu de Arde Moderna de Buenos Aires. Quando ali chegamos, minutos antes da 20h, a fila de acesso era quilométrica. Desistimos e também não buscamos alternativa.

O sucesso foi a visita a cerca de meia dúzia de livrarias onde o destaque foi a visita a El Ateneo, Grand Splendid, que é um ícone de Buenos Aires. Este ano distinguida como a segunda livraria mais bonita do mundo de acordo do artigo do jornal britânico The Guardian. Junto com a Livraria El Ateneo, encontra-se Boekhandel Selexyz em Maestricht na Holanda, localizada em uma antiga igreja (inaugurada em dezembro passado), no terceiro lugar esta a Livraria Lello de Portugal. No quarto lugar a livraria “Secret Headquarters Comic” em Los Angeles nos Estados Unidos ; Borders de Glasgow na Escócia no 5ª lugar; Scarthin’s em Peak District em sexto lugar; Posada Bruselas em sétimo; El lugar de la Mancha em México, oitava ; Keibunsya em Kyoto, nono lugar; e Hatchards em Londres em décimo lugar.

El Ateneo Grand Splendid, que já foi teatro, cinema e hoje abriga uma das maiores livrarias da América Latina. O Grand Splendid foi construído em 1919 pelo austríaco Max Glücksmann, que queria fazer ali uma catedral das artes cênicas. A partir de 1924, concursos de tango começaram a acontecer ali e, em 1926, o Grand Splendid passou a funcionar como cinema, sendo um dos primeiros a exibir filmes sonorizados.

Devido à concorrência com as grandes redes de cinema, porém, o teatro foi fechado e adquirido, em 2000, pela cadeia de livrarias Yenni. O acordo foi criticado por alguns, que defendiam a manutenção do cinema como tal, e elogiado por outros, que viam na livraria a possibilidade de preservação do edifício.

A adaptação do espaço se manteve fiel à estrutura do teatro. Só que fileiras de estantes substituem as de poltronas. No subsolo, há seção de literatura infantil e, nos pisos superiores, uma galeria de arte e uma seção de música clássica. A loja tem cerca de 100 mil títulos de livros e 10 mil de CDs. No antigo palco, hoje um café, pode-se folhear livros e ouvir música.

Vivemos na tarde noie deste sábado algumas horas privilegiadas. Não conheço as outras nove da lista. Asseguro que a que detém o segundo posto merece.

Mas envolvido no mundo maravilhoso dos livros recordo que nesta quinta-feira deixei de fazer algo que programara há semanas. Anunciar a sessão de autógrafos na 56º Feira do livro, do lançamento de “Os Desafios na Escola: olhares diversos sobre questões cotidianas” [Porto Alegre: Sulina & Editora Universitária Metodista IPA 14 x 21 cm, 118 p., R$ 22,00 ISBN: 978-85-205-0580-9] uma produção de meus colegas do Centro Universitário Metodista do IPA: Carolina Contreiras Rodrigues, Jose Clovis de Azevedo, Denise Fonseca, Marlis Morosini Polidori e Sumaia Fuchs Curço.

O livro – cuja apresentação fui honrado com o privilégio da escritura – reúne um conjunto de textos que trazem a discussão temas que desafiam e preocupam os sujeitos envolvidos com a educação em seus diferentes níveis. Os autores trazem reflexões – a partir de suas experiências como docentes e pesquisadores – sobre questões que desafiam o cotidiano das escolas, tais como: a necessidade de desenvolver práticas coletivas e participativas, os desafios teóricos e práticos da aprendizagem e da avaliação, a (in)disciplina, o bullying e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Os temas são enfocados a partir dos lugares e olhares relacionados aos campos do conhecimento onde se situam os autores, sendo cada tema tratado a partir de suas implicações com os processos de exclusão e inclusão na escola.

Tomo conhecimento que a sessão de autógrafo foi um sucesso. Vibro com a notícia e junto-me àqueles que aplaudem sua publicação, sabendo do significado de sua contribuição.

Encerro essa blogada dominical, com expectativa de nesta manhã curtir mais um pouco essa cidade vibrante. Amanhã, depois de minha incursão pelo Mercosul, pretendo escrever de Porto Alegre. Provavelmente traga alguns comentários acerca dos significados da viuvez de Cristina que ouvi e vi nestes dias aqui, Um bom domingo a cada uma e cada um.