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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

26.- Ênfase em testes empobrece a qualidade da educação

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1909

Inicio a edição desta quarta-feira com um agradecimento. Ontem no preâmbulo trazia um interrogante ¿Por que a cada dia edito uma edição deste blogue? e justificava até marcado por uma inquietude acerca da oportunidade destas postagens diárias. Um leitor – também comentarista diário –, fraternalmente, me confortou: Caro Chassot, mais que um compromisso com os leitores é uma questão de saúde. Se não fazes uma postagem, nalgum dia, a gente irá te telefonar para saber como estás, como está a tua saúde etc. Já nos consideramos, os leitores, partes da tua família. Um abraço, Garin. Vou me esmerar para na abertura de cada novo dia dar sinal de vida, para privar de preocupações meus leitores.

Trago um assunto que recorrente em nossas falas enquanto professores: Ênfase em testes empobrece a qualidade da educação. Agora, isto dito por um Prêmio Nobel tem outro status. Para o economista estadunidense James Heckman, as escolas estão deixando de trabalhar habilidades como motivação, controle emocional e interação social. Eis parte da matéria assinada por Antonio Gois publicada na quarta capa do primeiro caderno da Folha de S. Paulo de 17 de outubro.

Pressionadas pela cobrança de resultados em testes que medem o desempenho de alunos em leitura e matemática, as escolas estão cada vez mais negligenciando outras disciplinas e aspectos da formação igualmente importantes para explicar o sucesso na vida adulta. Essa crítica não é feita por alguém avesso a avaliações. Pelo contrário. O autor é o professor da Universidade de Chicago James Heckman, 67 anos.
Ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2000 justamente por sua contribuição na criação de métodos estatísticos que ajudaram a medir com mais precisão o impacto de políticas públicas. Seus estudos mostram que intervenções de qualidade que beneficiam crianças de famílias pobres desde a primeira infância têm impactos duradouros na vida adulta.
Os impactos mais significativos, porém, não são medidos em testes de matemática ou linguagem. São, principalmente, o que chama de habilidades não cognitivas, como motivação, controle emocional, disciplina ou capacidade de interação social.
Essas são características que também devem ser trabalhadas pela escola e que têm impacto significativo em fatores com renda futura, envolvimento em crimes, gravidez precoce e outros apontados em seus estudos.
Alguns deles foram feitos com o economista brasileiro Rodrigo Pinto, doutorando da Universidade de Chicago que participou da entrevista.
Folha - O papel da escola está sendo reduzido a preparar para testes?
James Heckman - Com certeza. É curioso porque, se pesquisarmos o que diziam os criadores desses testes, hoje aplicados a milhões de estudantes, eles sempre afirmaram que os exames captavam apenas parte do que se esperava da escola. Antes dos testes, a visão tradicional da educação era que as pessoas iam para escola para aprender a ter caráter, persistência, sociabilidade, coisas assim.
Daí surgiram medidas para avaliar outras habilidades. Foi o caso do teste de QI, criado no início do século passado para prever quem ia ser bem sucedido na escola. Um dos primeiros pesquisadores a desenvolver avaliações como essa, o psicólogo francês Alfred Binet, já admitia desde aquela época que outras habilidades importantes para o sucesso na escola não eram medidas por esses testes. O mesmo diziam os criadores do teste de Iowa, que foi uma enorme inovação nos EUA, há 60 anos, ao permitir que respostas fossem marcadas em cartões lidos por máquinas que facilitaram a aplicação de provas em massa. É irônico que o foco da escola tenha sido revertido para ensinar apenas os alunos a ir bem nesses testes. É uma subversão. As escolas nos EUA têm abandonado aulas de música, física ou outros assuntos por entenderem que isso é irrelevante e que o que importa é ir bem em testes de leitura e matemática.
Se eu digo que algum aspecto da sua vida será recompensado e outros não, as pessoas vão naturalmente desenvolver mais a parte que é recompensada. É o que está acontecendo nos EUA. Professores e diretores estão agindo assim
não porque estão interessados em desenvolver a criança, mas em prepará-las para testes para que eles sejam vistos como bons professores e diretores.

FolhaMas não é importante também avaliar os estudantes para saber se estão aprendendo o básico em leitura e matemática?
Testes têm o seu lugar, e não estou dizendo que devam ser abolidos. Você pode medir a performance de um professor, mas não deve reduzir essa tarefa a saber se um aluno passou ou não num teste. É importante também avaliar como o estudante encara tarefas que lhe são dadas, se é perseverante, se sabe trabalhar em grupo.
Rodrigo Pinto - Um bom exemplo é o processo seletivo de Harvard. Quando alguém tenta uma vaga, não avaliam apenas o desempenho em testes. Querem saber quais atividades paralelas o candidato tem, que esporte pratica, se já foi representante de classe, como é sua rede de relacionamento social.
Harvard não faz isso só por achar interessante ter um aluno com esse perfil, mas porque sabe que esses aspectos também são importantes para definir que sucesso o estudante terá na vida adulta. Boa parte dos recursos de Harvard vêm da doação de ex-alunos, então é preocupação deles admitir quem tem maior probabilidade de ser bem-sucedido.

Amanhã, certamente este tema de testes poderá ser continuado. Todos tenham uma excelente quarta-feira acalentando sonhos deste final de semestre, lembrando que a próxima será feriado, pois estaremos em 2 de novembro.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,

    afinal de contas, desde Antoine de Saint-Exupéry, cada um é responsável pelo que cativa: assim, todos queremos cuidar, com carinho, da tua vida.

    Este tema dos testes e da educação, tão polêmico como atual, sempre será um desafio à sociedade contemporânea. É preciso avaliar, medir, claro que é preciso. Mas como evitar que isso se transforme na meta de quem trabalha "por resultados"? Gostei da prática de Harvard, discordando, é claro, das finalidades. Como é difícil conscientizar que o fundamental é a formação do ser humano enquanto humano e que essa formação acabará trazendo os resultados mais importantes para cada pessoa!

    Uma boa quarta-feira,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Realmente, se basear em habilidades cognitivas apenas para julgar a capacidade do ser humano, é deixar aquilo que convencionou chamar "inteligência emocional" de fora. Ainda bem que alguém de peso James Heckman está chamando a atenção para essa falha do sistema, assim pode ser que as autoridades enxerguem o erro e passa a uma nova orientação. Abraços, JAIR.

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  3. Bom dia, Mestre!
    Eu só espero que argumentações como esta, que tem seus fundamentos e se refere a coisas específicas, não sejam usadas para justificar coisas que não tem nada a ver, como a tal "progressão continuada" usada em algumas instituições de ensino brasileiras, por orientação do MEC.
    Porque no caso brasileiro, me parece que o objetivo foi diminuir o índice de reprovações sem melhorar a qualidade do ensino. Ou seja, fazer o problema desaparecer de vista, sem soluciona-lo!
    O que o Sr. Heckman critica é a validade de determinados testes e a forma como os estudos passam a ser dirigidos e concentrados apenas visando que o aluno seja bem sucedido nestes testes, e não para sua proposta principal de consolidar a cultura e os conhecimentos.
    Pelo menos, foi assim que eu entendi.
    Abraços!

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  4. Meu caro Garin,
    obrigado pela fidalguia nos cuidados. Vou fazer sempre por merecer. Realmente o propósito de Harvard deslustra a excelência da avaliação. Pelo menos fica também ali que é preciso não deixar-se seduzir pelo quantitativo apenas.
    Com estima

    attico chassot

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  5. Meu caro Jair,
    se nos dermos conta que Lord Kelvin (1824–1907) afirmara que ‘só se pode falar daquilo que se pode medir’ o posicionamento de um prêmio Nobel (de Economia em 2000, por sua contribuição na criação de métodos estatísticos) mostrando que a ênfase em testes empobrece a qualidade da educação na Escola traz, como disseste, possibilidade de termos nova postura na avaliação.
    Com estima

    attico chassot

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  6. Muito estimado Leonel,
    bem entendeste. Realmente podemos medir parafusos, velocidade de um móvel ... mas inteligência, emoções parece requer outros cuidados.
    Aproveito para no convidar a ver na edição de amanhã uma novidade que começou hoje na tua Porto Alegre.
    Até então,

    attico chassot

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