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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

14.- Tu és um neopata?

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1898

O tema desta blogada não é novo. Ele está em mais de um livro ou artigo que escrevi. Este blogue também já o referiu em mais de uma oportunidade. Ocorre que, na semana passada, mencionei em um curso a palavra ‘neopatia’ e o auditório cobrou-me o significado. Entre os participantes, mais de 40 pessoas, incluindo-se muitos professores universitários, ninguém conhecia o significado. Claro que quando decompus as duas palavras gregas, a resposta estava dada.

Em junho de 2010, em uma fala para alunos do curso médio de uma escola técnica na Zona da Mata Mineira, perguntei quantos tinham telefone celular. Em cerca de meia centena, dois não possuíam. Perguntei mais, quantos aparelhos cada um já havia tido. Três, quatro, cinco... Uma adolescente se fez ícone de uma grave doença: ela, com seus 16 anos, estreara no dia anterior o seu 15º aparelho de telefone celular. “És uma Neopata!”, exclamei.

Meu precário diagnóstico me permitia inferir que ela era vítima, em estado grave, de neopatia -- a doença moderna cuja característica é ter sempre tudo novo. É um neopata quem tem (ou sonha em ter) o último modelo de aparelho de televisão, com uma tela de plasma delgada, que confere maior status a seus possuidores; o último carro (hoje, último carro parece não ser mais de bom tom, por problemas de segurança, que recomenda a não ostentação), o último computador; a última versão do Windows; o último telefone celular; a última câmera digital. A última parafernália eletrônica, que, em breve o mercado definirá qual seja e que dias depois de adquirida já é obsoleta.

Quantas pessoas, no final de 2010, fizeram vigílias em lojas (que necessidade determinou isso?) para serem as primeiras a terem – um dos verbos mais e prazerosos dos neopatas – um Ipad, um produto mágico e revolucionário, por um preço incrível, de R$ 1.649,00 (conforme um anúncio). O propagado produto revolucionário nos primeiros dias de março já estava ‘gloriosamente’ superado.

Um sintoma muito próprio dessa doença é fazer o novo subitamente velho. Assim, um telefone celular de dois anos é ‘mais velho’, leia-se mais obsoleto, que um telefone fixo de 20 anos.

A palavra neopatia não está dicionarizada nem no Priberam, Houaiss, Aurélio, Aulete. Vi esta

palavra usada por primeiro pelo prof. dr. Guy Bajoit, do Instituto de Ciências Políticas e Sociais da Universidade Católica Louvain, em 9 de setembro de 1998, quando, então, ele era professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos. Desde então venho usando extensamente em textos e palestras.

O Professor Guy também trabalhou como professor na Universidad Complutense de Madrid, Universidade de Friburgo, na Suíça e em universidades da América Latina. Atualmente ele Professor Emérito de Antropologia e Sociologia da Universidade Católica de Louvain.

Não me julgo consumista. Ao contrario. Lateralmente, devo professar que não apenas resisto, mas combato a neopatia, uma doença pós-moderna que grassa qual epidemia. Aliás, parece ser fácil aceitarmos que é o mercado que define a moda do momento para bombar nossos desejos. A ação verbal, também, ainda não dicionarizada, mas de muito trânsito entre os neopatas, foi escolhida com muita propriedade. A neopatia nos atinge gravemente em nossos afazeres. Ela é a vilã que não apenas erode nossas economias, mas também colabora para a degradação do planeta. Ela também faz visíveis as desigualdades, pois na distribuição do muito para alguns, determina o pouco e a falta para outros.

Com votos de uma muito boa sexta-feira a expectativa de nos lermos amanhã. E o assunto será livros, como querem ser as edições sabatinas.

12 comentários:

  1. Caro Chassot,

    é a neopatia que movimenta o 'Sr. Mercado' e faz a dita 'economia' girar sempre para o lado de quem está em seu controle, é claro. A última 'coqueluche' televisiva é a TV de Light Emitting Diode, mais comumente chamada de TV de LED. É mais fininha que as de Plasma e que as de Liquid Cristal Display, ou de LCD.
    Mas há também a paleopatia que não deixa de ser uma moda de quem está sempre cultuando coisas antigas: acho que não chega a ser uma doença, mas incomoda uma certa parcela da população que paga 'montanhas' de dinheiro por coisas antigas (carros, mesas, cadeiras, vasos, etc.)

    Boa sexta-feira.

    Garin

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  2. JOSÉ CARNEIRO escreveu de BELÉM/PA


    Caro amigo prof. Chassot:
    Felizmente faço parte do seu time de não neopatas, até quando não sei. essa introdução foi só para dizer que adorei a blogada da sexta feira, que acabei de ler. Sobretudo as duas imagens comparativas. Chocantes! Me lembrei de uma história antiga. Acho que seria de um neopata, aborrecido por não poder comprar um sapato novo e, ao sair de casa, deparou-se com um homem sem pés. Que tal?
    Grande abraço amigo

    José Carneiro

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  3. Carissimo Mestre Chassot

    A primeira pergunta que me fiz, ao ler seu texto, foi: O quanto estou contaminado pela neopatia?. Penso que quando se quer muito algo especificamente, se por utilidade, se por futilidade, faz diferença, uma ou outra. Há doença do século, é a neopatia pela futilidade, o consumo indiscriminado e o descarte do que ainda é util, mas utilidade esta ligado a aquisição por necessidade. Se, analisarmos do ponto de vista da aquisição, da satisfação do ter pelo ter, que não se sacia quando adquire, e precisa adquirir, outro e mais outro, a contaminação da neopatia é grave. Neste caso, os sintomas, serão percebidos no cartão de crédito e no cheque especial. Ai, será necessário consultar dois especialistas, um psicologo e um economista.

    Ótima sexta feira, a todos.

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  4. Meu caro colega Garin,
    neste consumismo existe algo que somos ~~ inexplicavelmente ~~ forçados a consumir.
    Estou trocando interruptores e tomadas de meu apartamento. Tenho que colocar tomadas de um novo padrão que não servem para a maioria dos aparelhos elétricos que tenho, pois as ‘tradicionais’ não são encontradas nem em pequenas ferragens. Considero um crime contra o consumidor.
    Uma boa sexta-feira que em seu ocaso se transforma em shabath

    attico chassot

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  5. Meu caro José,
    fiz uma autopostagem de teu comentário. Queria repartir com os mais anosos a evocação que trazes. Trata-se de um texto de ‘Poemas para rezar’ de Michel Quoist que embalou nossa religiosidade nos anos 60. Dele também tinha ‘Diário de Dany’ e ‘Diário de Ana Maria’ acho que eram este os títulos de alguns dos livros de um francês, que mais tardiamente se converte e se torna padre.
    Quanto as duas fotos antípodas com motivo calçados me felicitei pela sua edição.
    Agradeço ao prestígio de tê-lo como leitor,

    attico chassot

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  6. Olá Mestre Chassot! Sem dúvida tenho a impressão que esse é um mal dos tempos pós-modernos, onde a roda da economia deve girar, segundo os próprios "papas" que medem a saúde de um país pelo crescimento contínuo do PIB. E para isso, se deve estar constantemente adquirindo, mesmo que não haja necessidades. Elas vivem sendo criadas pelo apelo marqueteiro. Aliás, tenho reafirmado que se o Diabo escolhesse uma graduação para cursar, certamente ela seria de Propaganda e Marketing. Ainda durante o periodo em que cursei o Mestrado na Unisinos, assisti um seminário com o Prof. Bajoit. Foi maravilhoso escutar suas experiências em suas falas. JB

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  7. Meu querido ex-aluno Adão,
    que sempre me faz evocar uma turma muito especial da Filosofia permito-me aditar as tuas duas neopatia uma terceira, que é ligada a tema que tens expertise: neopatia forçada. Escrevi no comentário para o nosso amigo comum Garin a situação de que somos forçados a colocar tomadas que não servem para os eletrodomésticos que possuímos pois as tradicionais’ desapareceram.
    Obrigado por matares saudades aqui,
    com estima,

    attico chassot

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  8. Meu caro Jairo,
    ontem, quando depois de nosso almoço, elegia um assunto para esta blogada, pensei em tuas lutas, também na dissertação de mestrado, para evitar o desperdício e opor-te a neopatia.
    As diferentes passagens do Prof. Guy Bajoit foram memoráveis.
    Um bom fim de semana e saúde,

    attico chassot

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  9. Caro Chassot,
    Literalmente uma blogada sumarenta para usar tuas palavras. Quando do surgimento da febre dos celulares na década de noventa, eu me perguntei se necessitava de tal aparelho, a resposta foi NÃO. Com a passar do tempo me fiz a mesma pergunta e cheguei a conclusão sempre igual, NÃO NECESSITO DE TELEFONE CELULAR. Assim, até hoje não possuo um. Pois é, sempre que surgem novidades - e elas surgem todos os dias - eu avalio se a novidade serve para mim, se me fará mais feliz ou me trará a solução de problema, se a resposta for Não, não a compro. Portanto, não sou NEOPATA (palavra que acabo de aprender com tua blogada). Até escrevi um texto a respeito dessa febre de consumismo que faz as pessoas comprarem "gadgets" para os quais não têm uma utilidade imediata. Gosto muito de fotografia, tenho algumas boas máquinas do tempo dos filmes, só agora tenho uma máquina digital porque ganhei do meu filho que adquiriu uma mais potente e me deu a "antiga" dele que tinha a avançada idade de três anos. Tenho máquinas de mais de cinquenta anos que atendem perfeitamente qualquer fotógrafo exigente. Abraços de um não neopata, JAIR.

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  10. Muito estimado Jair,
    obrigado pela qualificação de ‘sumarenta’ para a edição de hoje e mais, vibro com tua repulsão à neopatia.
    Com admiração

    attico chassot

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  11. Alô, Mestre!
    Apreciei bastante sua abordagem!
    Eu mesmo conheço vários neopatas, que precisam ter sempre as novidades, mesmo as inúteis (nem todas são).
    Eu tive um chefe que chegava quase todo o dia com um CD e instalava programas "goiabinhas" nos computadores de todo o mundo. Programinhas de efeitos, salva-telas, enfim, bobagens que só aumentavam o risco de infectar o computador com vírus, já que eram de procedência duvidosa. E ninguém fazia uso delas!
    Assim também ocorre com o "hardware": tem esses maníacos pelos últimos modelos de I-Pod, I-Pad, I-Pud...Ao contrário do Jair, eu hoje tenho celular, mas, provavelmente fui uma das últimas pessoas a faze-lo!
    Hoje, gosto muito do meu, não tanto para telefonar, mas para usa-lo como despertador, lembrar de compromissos, aniversários e coisas assim! Ah! E também para tirar fotos!
    Abraços!

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  12. Muito estimado colega Leonel escrevinhador do cotidiano da vida,
    primeiro obrigado pela valorização desta edição. É muito bom saber da parceria que busca combater a neopatia. Resisti como muito ao telefone celular, hoje uso com moderação um modelo simplérrimo, e veja já tem mais de três anos, logo velho.
    Com estima

    attico chassot

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