Ano 6 | PORTO ALEGRE | Edição 1903 |
Esta manhã, antes de nascer o sol, estarei partindo para Rio Grande. Os 420 quilômetros de ida serão feitos na companhia Prof. Guy Barcellos. Vou para participar amanhã e sexta-feira do 31º Encontro de Debates de Ensino de Química. O EDEQ é um evento do qual sou um dos fundadores e me envolveu em todas as edições.
Antecipo minha viagem para, ao meio dia atender a um atencioso convite do Prof. Lauro Barcellos – diretor do Complexo de Museus da FURG e fundador do Museu Náutico, Eco-museu Ilha da Pólvora e Museu Antártico – para um almoço na cozinha náutica do Museu Oceanográfico. Este almoço será antecedido de uma entrevista à imprensa. À tarde, participo da oficina (que se faz como aperitivo ao 31º EDEQ): "Implantação de Museu Escolar" onde o Prof. Guy mostra uma forma de fazer alfabetização científica construindo um Museu de Ciências com o trabalho de pesquisa e curadoria dos próprios alunos. Após, integro-me à visitação do Complexo de Museus da FURG (os quatro antes citados), o traslado entre os museus será de barco, navegando pelo estuário do Rio Grande. Sobre esta jornada museológica falo amanhã.
Depois deste destaque preambular à quarta-feira que se anuncia promissora, tenho um presente às minhas leitoras e aos meus leitores: Zero Hora do último sábado, publicou em seu caderno ‘Vida’ o texto A profissão mais antiga do médico Franklin Cunha. Ofereço-o aqui, pois faz outra leitura daquilo que trato em A Ciência é masculina? É, sim senhora! isto é as históricas posturas machistas.
Num baixo relevo do templo de Esneh, no Egito, vê-se representado o nascimento de um filho de Cleópatra. Assistem o parto mais cinco pessoas, todas mulheres. No desenho, aparece a parteira, primeira e mais antiga das profissões femininas, embora os historiadores, na sua visão falocrática da história, digam que a prostituição a antecedeu. A segunda das profissões foi a de cuidadora de crianças, a terceira foi a de cozinheira, as seguintes, de enfermeira e de professora de seus filhos e assim por diante. Dizer que a prostituição antecedeu todas estas atividades da mulher é um equívoco histórico, pois assim se admite que o prostíbulo antecedeu o clã familiar, o lar. De qualquer forma, na divisão do trabalho entre os sexos, tanto na função reprodutiva e a de lides domésticas situadas na esfera privada, como na prostituição localizada na esfera pública, o corpo da mulher sempre foi usado e abusado.
Na Ilíada de Homero – relato sobre façanhas guerreiras – entre os espólios arrebatados aos vencidos, incluem-se mulheres e meninas. Em parte alguma da epopeia grega é levantada a questão sobre o direito das mulheres roubadas deixarem de ser objetos de propriedade particular e escravas sexuais dos vencedores. Se o maior relato épico da literatura ocidental assim trata as mulheres, toda a posterior herança cultural greco-romana-judaico-cristã não deixou por menos.
Não é melhor a situação da mulher nas diversas culturas orientais e africanas, às do xador (véu que cobre a mulher da cabeça aos pés) e da infibulação (mutilação genital feminina). E nem melhor na cultura brasílica, da mortalidade materna de taxas medievais, dos salários de nível escravista e de discriminações laborais que incluem até condições biológicas como a gravidez, a tensão pré-menstrual, a menopausa e a própria menstruação.
Enfim, cabe a pergunta: depois da tão decantada revolução sexual, a situação da mulher no Terceiro Mundo melhorou – ou piorou?
usado,abusado, outros dizem que protegido... mesmo sobre o véu. Alguém que usa, que abusa, que protege: Quando as sujeitas destas ações serão as mulheres?
ResponderExcluirCaro Chassot,
ResponderExcluirarrisco uma resposta à questão final: melhorou. Essa é a nossa luta e essa perspectiva que alimenta nossa esperança. Se perdermos essa noção, não temos mais por quê lutar.
Boa viagem!
Garin
Caro Chasot,
ResponderExcluirA ativista e escritora somali, Ayaan Hirsi Ali, enceta uma campanha mundial pelo fim das discriminações e humilhações que sofrem as mulheres, principalmente as islâmicas. Se olharmos com olhar crítico a atual situação da mulher no terceiro mundo veremos que se mudou foi para pior. Infelizmente esse é o mundo no qual vivemos e não me vejo vivendo até o dia em que alguma coisa vai mudar. Abraços, JAIR.