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terça-feira, 18 de outubro de 2011

18.- Uma Semana para Ciência & Tecnologia

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1902

Dois tópicos preambulares: 1) Cumprimentos, reconhecidos e com gratidão, aos médicos pelo seu dia. 2) agradecimentos àqueles que difundiram a edição de ontem amealhando assinaturas ao manifesto e fazendo a edição de segunda-feira bater record de visitação.


Ontem começou no Brasil a Semana da Ciência & Tecnologia. Não quero fazer julgamento precipitado, mas parece-me que este ano não o ‘entusiasmo’ de anos anteriores. Talvez, labore em julgamento equivocado.

A propósito do assunto, trago duas matérias publicados na Folha de S. Paulo de ontem (17OUT2011), no caderno ‘cotidiano’. O primeiro: Ciência em baixa, assinado por Sabine Righetti, mostra que oferecer mais museus e atividades lúdicas não adianta; é preciso mais realidade nos currículos. O outro Projeto de Nobel visa estimular aprendizagem. Assinado por Cláudia Colucci, desde Washington.

Iniciativas lúdicas para atrair estudantes para as ciências funcionam. Mas, de acordo com especialistas, só se houver continuidade na escola, com um ensino que relacione fórmulas a problemas do cotidiano dos jovens.
"Precisamos de mais espaço para o aluno pesquisar o que lhe interessa e que tenha utilidade. Não adianta saber as leis de Newton e não saber o que é mudança climática", diz Paulo Blikstein, professor da Universidade Stanford (EUA).
Ele defende uma reforma no currículo do ensino de ciências, com a cobertura de menos tópicos com mais profundidade. O Brasil ocupa hoje um dos últimos lugares (53ª posição entre 65 países) em educação de ciências. A avaliação é da OCDE (Organização de Nações Desenvolvidas).
Os principais problemas por aqui são professores pouco qualificados e laboratórios (quando há) nada atrativos.
Além de deixar o país menos competitivo internacionalmente, com menos jovens motivados a seguir carreiras científicas e engenharias, a educação de má qualidade nessa área também é um instrumento de exclusão social.
"Não há como viver num mundo estruturado pela cultura científica sem estar informado sobre ela", diz Carlos Vogt, coordenador de um grupo de estudos da Unicamp que pesquisa a relação entre ciência e sociedade.
Jorge Werthein, doutor em educação pela Universidade Stanford, concorda. "Só quem entende um pouco de ciência consegue interpretar rótulos de alimentos e bulas de remédios", exemplifica.
Para ele, a relação entre educação, ciência e inclusão social é "evidente".
A "exclusão" mencionada por Werthein e Vogt pode também ser traduzida na maneira como a sociedade fica de fora de debates científicos importantes.
É isso que tem pregado Miguel Quintanilla, professor de lógica e filosofia da ciência da Universidade de Salamanca, na Espanha. "Se meu país desenvolve transgênicos com dinheiro público, por exemplo, eu tenho de entender minimamente o que é transgenia e tenho a obrigação de opinar", analisa o especialista.

O problema é que o Brasil vai mal na escola e também fora dela: de acordo um levantamento do MCTI (Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação), apenas 8% da população frequenta museus de ciência.
"A gente tem de estimular os professores e os estudantes", defende o físico da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Ildeu Moreira.
Ele é coordenador da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, do MCTI. O evento mobiliza instituições de todo o país a criarem atividades para para chamar atenção dos jovens para o tema.
A edição deste ano começou ontem (17) e vai até o dia 23. São mais de 650 instituições inscritas na programação, oferecendo mais de 9.000 atividades.
Em Rio Branco, a Biblioteca Pública Estadual do Acre vai exibir gratuitamente documentários sobre ciência. No Rio de Janeiro, a Fundação Planetário fará sessões sobre "as maravilhas do Universo". E por aí vai. Para Moreira, esses "eventos mobilizadores" podem estimular o sistema educacional. Mas melhorar o ensino de ciências nas escolas continua sendo fundamental.
"Não podemos deixar que a criança, quando volta para a escola, encontre o mesmo ensino desestimulante e de má qualidade de sempre", conclui Blikstein.

Projeto de Nobel visa estimular aprendizagem Ele levou o Prêmio Nobel de Química em 1996 por descobrir uma nova molécula composta por 60 átomos de carbono.
Desde 2007, porém, o inglês Harold Kroto, 71, dedica-se a estimular professores e alunos a se interessarem mais pelas ciências. Kroto é criador do Geoset (Global Educational Outreach for Science Engineering and Technology), um programa para melhorar o ensino de ciências, engenharia e tecnologia (geoset.fsu.edu), vinculado à Universidade do Estado da Flórida (EUA).
Para o cientista, a maneira mais eficiente de avançar na educação é possibilitar o intercâmbio de ideias entre professores.
Kroto grava suas apresentações em um pequeno estúdio na universidade, onde ainda leciona. No site do programa, há material feito por cientistas do mundo todo, incluindo vários colegas de Nobel. "A internet é a maior revolução de nosso tempo", diz.
O Geoset tem parcerias com universidades no Japão, Índia, Malásia, Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra. No Brasil, apoia o projeto do físico Alexandre Fonseca, o Landau Global (landauglobal.co.uk), que visa despertar o interesse para carreiras em ciência e tecnologia.
Leia a entrevista com Harold Kroto sobre ensino de ciências em
folha.com/no990213

4 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Assunto espinhoso. Quero lembrar uma crônica do Érico Veríssimo de quando ele esteve nos EUA, na década de quarenta, como professor convidado. O texto se chamava "86 microscópios" e tratava do assombro do autor ao se deparar com oitenta e seis microscópios num laboratório de ensino fundamental daquele país. Ele tratava com tristeza o fato de que aqui no Patropi era impensável imaginar uma escola aparelhada assim para ensinar ciência, mesmo no ensino superior, quanto mais no fundamental. No Ginásio público que estudei existiam dois microscópios da sala de ciências e eu, já adulto, contei como curiosidade isso a um colega de trabalho que era engenheiro químico. Observação dele: no laboratório da faculdade que estudei não existia UM microscópio sequer! Diante dessa realidade, discutirmos se ciências são prioridade neste país, parece até piada. Abraços, JAIR.

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  2. Ah sim, não adiante falar o milagre e esquecer o Santo. O nome do livro do Érico Veríssimo é: "Gato preto em campo de neve". Abraços escleróticos, JAIR.

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  3. Muito estimado Jair,
    tens razão: esta é uma discussão crucial. A realidade de sala de aula mudou muito desde o relato de Érico Veríssimo. Mas não porque a Escola mudou, mas porque ela foi mudada. Sempre digo que aí está um bom exemplo para entender ‘voz ativa’ e ‘voz passiva’. Tua escola lá em Palmeira era o centro irradiador do conhecimento. Hoje o conhecimento não parte mais da Escola, ele chega à Escola. Claro que no ensino de Ciências, alvo de nossa olhada hoje, continuamos ficar a dever (e muito) a um grande número de países.
    A maioria dos professores, até porque tem uma postura dogmática, não sabe trabalhar com a ‘incerteza’ que é a marca da Ciência nesta aurora trimilenar.
    Esta postura tantas vezes assumidas no ensino de Ciências de formar cientista é um equívoco. Teriamos de aceitar que cada nível se conclui em si. A Educação Infantil, não é para preparar para o Ensino Fundamental, como este não é para preparar para o Ensino Médio, que também não deveria ser para preparar para o Ensino Superior.
    São estas apenas umas divagações que teu pertinente comentário enseja.
    Seja benvindo ao clã dos que sonham com uma Educação melhor para todos.
    Com admiração

    attico chassot

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  4. Caro Chassot,

    por conta de um compromisso na PUC só agora estou chegando no teu blog.
    A propósito de Ciência e Tecnologia tenho uma história para contar. Na primeira série do Ginasial (eu sou desse tempo), o professor de Ciências me estimulava muito a seguir a 'carreira de cientista'. Na época gostava muito da disciplina e tinha facilidade ainda que praticamente não houvesse laboratório da minha escola estadual. O professor, por sua conta e risco, levava alguns tubos de ensaio para a sala de aula e fazia algumas poucas experiências de física e química conosco. Um dia ele me perguntou qual a carreira que pretendia seguir. Quando lhe respondi que era a Teologia (e isso está muito claro na minha mente), ele ficou muito frustrado. Não adiantou, já estava pendido para esse lado e por aí construí minha trajetória.

    Um abraço,

    Garin

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