22* Temperaturas: definindo novos recordes

Ålborg Ano 4 # 1299

Se nesse fevereiro se disse que um dia vivemos a temperatura mais alta do planeta no Rio Grande do Sul (+44) nesse domingo eu bati meus recordes pessoais de temperatura negativa. Estive na rua com – 10º C. Esta manhã tomamos o ônibus para a Ålborg Universitet com temperatura ‘mais amena’: – 6º C. Todavia, pelo sexto dia consecutivos, tivemos neve. A chegada no campus teve lances dramáticos, pois o ônibus, devido à nevada, não pode fazer seu caminho usual. Tivemos que descer uma perigosa escada, da qual quase não se enxergava os degraus. A porta de acesso ao prédio estava inacessível e tivemos que usar outra.

Há uma semana chegamos à Ålborg. A cada dia, desde então, tenho trazido para meus leitores um pouco das emoções desta fascinante viagem. Nela ao lado de conviver com pessoas que nos diferentes contatos me trazem novas maneiras de ver o mundo, tenho mergulhado nesta geografia tão díspar do cenário de meu cotidiano. Isso tem ensejado emoções que jamais havia imaginado viver.

O meu primeiro domingo escandinavo foi excepcional e poderia dizer que teve três momentos muito prenhes de significados. Mas esses estiveram inseridos em um clima – no sentido literal – totalmente inédito. Antes das 10h da manhã deixamos a residência com uma temperatura de – 8ºC. Nunca vivera antes uma temperatura tão

fria. Nevava e tinha um sol que dava aos montes de neve um brilho singular. As ruas eram quase desertas. Os automóveis em sua maior parte estavam irremovíveis. Uma foto ilustra um pouco minha narrativa.

Voltamos depois das 18h. Era noite cerrada e a temperatura era –10ºC, fazendo desejarmos, no percurso de cerca de 300 m entre a parada do ônibus e a Badehusvej, 12, onde moramos, apenas uma coisa: adentrar no útero aquecido que o nosso apto 102.

Mas eis os três momentos que antes referi. Nossa meta primeira era o Kunsten: Museu de Arte Moderna de Ålborg . Percorremos cerca de 1,5 km para chegar. O percurso foi em mais de um momento aumentado, pois mais de uma das quadras de acesso estavam simples intransponíveis para pedestre tanta era a neve. Quando chegamos ao Kunsten mos julgávamos merecedores de uma láurea, pois parecia impossível que outrem enfrentasse tamanhos reveses. Conhecemos então o acervo permanente, centrado em pintores danêses contemporâneos que desconhecíamos. Apreciamos também uma exposição temporária do pintor Erik Veistrups Samling, de 40 anos que ora tem muito destaque na Dinamarca.

O lindo prédio do museu parecia ainda mais bonito, quando de suas amplas janelas se via paisagens com a da foto.

Agora o segundo momento: Do Kunste nos propusemos outra quase epopéia: chegar ao moderno Utzon Center, à margem do Fiorde, inteiramente congelado. Novamente percorremos cerca de 2 km, em vários trechos praticamente intransitáveis, como é exemplo a foto onde a Gelsa quase submerge na neve.

Cecília que já nos são próximas. ParticiparaQuando chegamos ao destino, com um final quase heróico, entramos pelo lindo e aquecido café-restaurante: tive a impressão de chegar ao paraíso.

O Utzon Center, inaugurado em maio de 2008 é um tributo ao arquiteto dinamarquês Jørn Utzon (1919-2008), que se tornou conhecido conhecido pelo projeto do Sydney Opera House, na Austrália. Na ocasião de sua morte, a Sydney Opera House, além de publicar um tributo a ele, reduziu a iluminação externa do edifício por uma hora. Além disso, a ponte do porto de Sydney teve suas bandeiras hasteadas a meio mastro na segunda-feira seguinte à sua morte.

No Utzon Center assistimos a duas muito significativas exposições. Uma o resultado do fotógrafo dinamarquês Niels Fabæk ~~ www.nielsf-foto.dk ~~ que por mais de três anos percorreu dezenas de diferentes lugares da Dinamarca para fotografar uma estante com livros. Outra foi um amplo panorama acerca da Arquitetura sustentável na Dinamarca. Fruímos ainda por alguns minutos da moderna cafeteria do Centro.

O terceiro momento de nosso gélido domingo foi uma cálida recepção na casa de Per Moritzen e Paola Valero em Gistrup, postergada do sábado devido à nevasca. O Per nos buscou no Utzon Center. Ao chegar à aconchegante casa encontramos Rebeca e Cecília.

Participaram também conosco do saboroso almoço/janta a Cristina e o Mateus, que referi aqui no sábado, e o Alexandre Pais, um professor português, que faz seu doutorado na AAU. Já tive o privilégio de receber a querida visita do Alexandre na Morada dos Afagos no ano passado. Trago uma foto do jardim da casa da Paola e do Per para mostrar a intensidade da neve em dia de sol e céu azul.

Quase 18 h, encerramos o gostoso encontro; com a Cristina, Mateus e Alexandre, tomamos o ônibus para Ålborg. O trecho entre a parada e nossa casa branqueou nossas roupas.

Na alegria de trazer o relato de mais um dia escandinavo, meus votos de uma muito boa segunda-feira e a expectativa de lermos de novo amanhã.