TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

01* Fazendo turismo na própria cidade.

Porto Alegre Ano 4 # 1278

Inauguramos agora fevereiro. Não tenho no pensamento mágico o meu óculo de mais fidedignidade para uma crível leitura de mundo. Todavia, parece que vale a pena pensar que vencemos janeiro de 2010 – um mês marcados por tragédias: as da virada do ano no Rio de Janeiro, a ponte no ‘meu’ rio Jacuí, o terrível terremoto no cada vez mais miserável Haiti. Poderia ainda acrescentar as catastróficas chuvas quase diárias em São Paulo:
depois de bater recordes de precipitação, deixou pelo menos 65 corpos sobre e sob a terra encharcada, além de 4.700 desabrigados e 18.600 desalojados. Assim, crendo em presságios, sonhamos com um fevereiro diferente, para desmarcar 2010 como um ano trágico.

A Gelsa e encerramos o mês fazendo turismo em nossa cidade. Algo inusual. Depois de uma manhã de leituras sob a parreira fazendo companhia à Columbina – que foi destaque na blogada de ontem – quando falamos a murmúrios para não atrapalhar-lhe o choco, convidados pela minha cunhada Sílvia fomos à Ilha da Pintada para saborear o famoso peixe assado na taquara.

Aqui, uma confissão da qual não me orgulho: mesmo morando em Porto Alegre há mais de meio século – como essa afirmação adensa o tempo e é mais enfática do que dizer, por exemplo há 52 anos – nunca tinha ido a ilha da Pintada, onde já passei certamente mais de uma centena de vezes, toda vez que deixo a capital rumo a zona sul do Estado.

Vou oferecer uma pequena aula de geografia – com uma especialização em hidrografia, em homenagem a meus leitores menos ambientados com o Rio Grande do Sul. Tenho o privilégio de eventualmente ter leitores outros Estados brasileiros e até do exterior. Já são 13 países, excetuado o Brasil, que se conectaram a esse blogue desde sua nova fase iniciada há dois meses. Ainda ontem me interrogava que poderia estar por um tempo conectado em Slough no Reino Unido.

Um primeiro ponto de dissenso, que divide os cientistas com expertise é se o Guaíba é um rio, uma ria, uma laguna ou um lago. Afilio-me às defesas feitas com convicção pelo meu colega e amigo Dr. Rualdo Menegat e assumo que Porto Alegre está às margens do majestoso lago Guaíba. O Lago Guaíba recebe as águas dos rios Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí, formando, na confluência de todos eles um arquipélago composto por 28 ilhas, a maioria delas ainda desabitada. Algumas ilhas são ligadas ao continente pela Travessia Regis Bittencourt, a popular Ponte do Guaíba. Os ilhéus vivem da reciclagem do lixo e da pesca, produzindo também artesanato.

Dentre as mais importantes estão Ilha do Chico Inglês – que recebe esse nome porque diz-se que viveu ali um homem chamado Francisco, que era português, mas fazia negócios com os ingleses, o povo não vendo com bons olhos aquilo resolveu apelidá-lo de Chico Inglês. Ilha das Flores – cenário de premiado filme homônimo de Jorge Furtado. Ilha Grande do Domingos José Lopes, Ilha Grande dos Marinheiros. Ilha do Pavão, onde está uma das sedes do Clube Grêmio Náutico União, um dos principais clubes do Rio Grande do Sul, Ilha da Pintada e Ilha da Pólvora. A Ilha Grande dos Marinheiros, Pavão, Flores e Pintada abrigam uma população de 15 mil pessoas.

É usual referir também ao Delta do Jacuí: um conjunto hidrográfico de 28 ilhas, canais, pântanos e charcos, que se formam a partir do encontro dos rios Gravataí, Sinos, Caí e Jacuí. O Delta se localiza nos municípios de Porto Alegre, Canoas, Nova Santa Rita, Triunfo, Charqueadas e Eldorado do Sul, com uma área de 17.245 hectares. A diversidade do Parque do Delta do Jacuí possui mais de 100 espécies de aves aquáticas, 320 espécies vegetais, 30 espécies de peixes além de centenas de animais como lontras, jacarés-de-papo-amarelo, capivaras etc

São as águas que passam pelo Delta do Jacuí que formam o lago Guaíba, cujas águas seguem para a Laguna dos Patos e, por seqüência, para o Oceano Atlântico. Sua denominação passou a ser Área de Proteção Ambiental, APA, Delta do Jacuí.

Nossa meta nesse domingo era a Ilha da Pintada. No final do século 18, a ilha passou a ser ocupada por imigrantes açorianos que, com o trabalho ali desenvolvido, abasteciam a cidade de peixes, verduras, frutas e leite. Atualmente esta ilha se destaca por possuir melhor infra-estrutura e pela singular identidade cultural que se mostra através de lendas e crenças contadas pelos ilhéus. Atualmente, a pesca artesanal é o meio de subsistência da ilha.

Um grupo artesãs, batizado de "Art'Escama", ganha a vida transformando escamas de peixes em verdadeiras obras de arte. Confeccionam brincos, anéis, broches e bijuterias em geral. Além disso, o material é aplicado em echarpes, chalês, mantôs, camisetas e vestidos. O trabalho das artesãs não contribui apenas para aumentar a renda das famílias envolvidas na atividade, é também um incentivo cultural.

A Ilha da Pintada se destaca por suas ruas arborizadas, com lindas árvores cobrindo sua entrada principal. É a ilha mais populosa do arquipélago e em grande fase de desenvolvimento. Pode-se dizer que há três níveis de habitações na Ilha da Pintada: mansões imensas e luxuosas (também invisíveis da parte interna da ilha) onde os muito ricos têm

refúgios para veraneio; casas de famílias de relativas posses que vivem das atividades produtivas da ilha, inclusive de prestação de serviços aos das residências antes citadas; e, residências muito humildes, em geral palafitas, habitadas por um extrato de poder econômico muito baixo. A Ilha da Pintada é assim uma micro região que poderia ser bastante representativa de um Brasil muito desigual.

Fomos à ilha. É possível conhecer um pouco desta cultura e saborear um prato típico da

ilha: o Tainha na Taquara, que é servido sempre aos domingos na Colônia de Pescadores Z5, que estava saboroso. É possível ver os profissionais responsáveis por assar numa

churrasqueira o famoso peixe na taquara. Eles mostram que há dois tipos de peixes na grelha: a piava e a tainha. Enquanto a piava é de água doce, mais clara e com formato mais quadrada, a tainha é de água salgada, mais alongada e escura. O tempero dos peixes é apenas o que há de melhor: limão e sal. Depois, os dois mostram uma fileira de taquaras cortadas ao meio, uma invenção simples e funcional que serve como um espeto. Assim o peixe fica preso na taquara e pode ser colocado facilmente sobre a grelha sobre a lenha em brasas. Há ainda um buffet com feijão, arroz e pirão e outros pratos quentes, saladas e também um gostoso

bolinho de peixe que fica ainda melhor com algumas gotas de limão.

Tivemos a oportunidade de visitar no mesmo prédio da Colônia a loja de artesanatos locais na qual é possível comprar bijuterias com escamas de peixe e espinhos de peixes. São brincos, colares e anéis, tudo feito pelos moradores da ilha.

Agora uma informação turística lateral. Fizemos esse passeio de carro, há apenas 20 km de Porto Alegre. Mas há uma alternativa mais turística e pitoresca. É possível ir com o barco Seival, partindo da Usina do Gasômetro. Saída aos domingos às 12h30min Duração: 2h (retorno pelas 14h30min) Valores: cerca R$ 20,00 – com passeio e almoço (bebidas não incluídas).

Talvez possa parecer fora de tom numa segunda-feira fazer uma blogada turística. Desculpo-me; estou em férias e muitos porto-alegrenses vivem um feriadão, pois 2 de fevereiro é dia festivo em Porto Alegre, na foto vista desde a Ilha da Pintada. Assim meus votos de uma muito boa abertura de fevereiro e com votos de que novo mês seja o melhor.

5 comentários:

  1. Mais uma alternativa cultural e gastronomica que trazes e que me faz curioso certamente. Tenho amigos na Ilha da Pintada, e que sequer fizeram referencia à Tainha na Taquara em todo esse tempo que os visito. Vou cobra-los como que, morando num local com tamanha iguaria, são incapazes de me convidar para experimenta-la? Aqui desde o QUINTÃO, onde fico essa semana de descanso com meus pais, um grande abraço e uma muito boa semana. JB

    ResponderExcluir
  2. Meu caro Jairo,
    obrigado por me acessares aí no Quintão. Essa praia está nas minhas mais remotas evocações de encontros com o mar. Sinto-me lisonjeado ser lido ao sabor da maresia. Realmente mereces cobrar de teus amigos ilhéus essa gastronomia que os faz distinguido.
    Espero que tenhas dias agradáveis aí. Ontem tivemos sensação térmica que superou os 40ºC.
    Mais uma vez agradeço o prestígio que oferece não deixando de brindar com comentários quando o Marcos – comentarista estrela desse blogue – estão em rincão que a rede WWW não lhe é acessível.
    Curta as férias com os teus, tu as merece,
    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. Mestre Chassot, é extremamente comum vivermos por muito tempo em um local e não o conhecermos completamente, ainda mais quando se trata de uma metrópole como Porto Alegre. Para nós que não fomos até à Ilha da Pintada, ficamos temporariamente satisfeitos em, pelo menos, poder acompanhar, por via internética, a sua empreitada turística.

    Ótimo dia.

    ResponderExcluir
  4. Meu caro Marcos,
    que bom que pudeste dar uma viajadinha internética a Ilha da pintada, pela qual cruzaste ainda nesta terça-feira quente vindo da Zona Sul.
    Obrigado pela companhia
    attico chassot

    ResponderExcluir
  5. Boa noite! Alguem já ouvio falar em tainha do Rio Caí...Meu sogro pegou uma na tarafa...

    ResponderExcluir