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sábado, 1 de janeiro de 2011

01.- Dia de transições

Porto Alegre Ano 5 # 1612

Esta blogada é postada quando ainda a fumaça dos fogos da virada do ano se confunde com névoa que tolda uma possível noite estrelada. Assim por primeiro os votos de um 2011 com muita Paz a cada uma e cada um dos leitores deste blogue.

Hoje é dia de transições: pela manhã, assumem governadores. À tarde será a histórica posse de uma primeira mulher como Presidenta da República.

Há Estados que ocorre a posse de reeleitos. Aqui no Rio Grande do Sul há uma troca significativa em termos políticos. O Partido dos Trabalhadores volta ao governo do Estado, depois de uma primeira e única gestão, que se encerrou há oito anos.

Tanto Tarso e Dilma encontram cenários diferentes de há 12 e 8 anos quando os petistas Olívio e Lula assumiram pela vez primeira. O Brito afastou-se do governo para não passar o cargo. Olívio teve uma imprensa e oposição despudoradamente adversária. Antes da posse de Lula, as perspectivas eram muito piores. Empresários preparavam-se para fugir em massa do país se suas piores conjeturas sobre o PT no poder se confirmassem. Banqueiros tremiam, temendo estatização sem indenização. Donas de casa escondiam a prataria. Anunciavam-se anos de privação e sacrifício sob o socialismo iminente.

Parece natural que Tarso e Dilma nos evoquem esperanças ainda maiores. É por tal que estamos torcendo muito.

Alexandre Elmi escreveu na ultima edição Zero Hora um excelente texto que eu sonhei pudesse ter sido o autor. Por tal brindo meus leitores com ele.

Sou uma boa aluna. Disse sobre si mesma a primeira mulher a governar o país, em uma entrevista na qual comentava a convivência com o seu mentor. Mas Dilma Rousseff é bem mais do que uma boa aluna, mais, também, do que a exitosa aprendiz das lições políticas de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao receber do ex-metalúrgico e sindicalista a faixa de presidente do Brasil, ela se transforma, na tarde deste sábado, 1º de janeiro de 2011, em uma personagem da história brasileira. Os caminhos de Dilma e Lula se cruzaram no final de 2002. Entrelaçaram-se de uma maneira singular, em um roteiro repleto de barreiras rompidas e marcas notáveis.

O primeiro feito da filha de um imigrante búlgaro que desembarcou no Brasil na década de 30 foi conquistar o Palácio do Planalto em uma eleição com poucos sobressaltos. Foi uma realização maiúscula. Herdeira da imensa popularidade de Lula, Dilma obteve logo na sua estreia em disputas eleitorais a confiança de 55 milhões de brasileiros, superando inclusive os patamares de votação do ‘professor’.

No primeiro pronunciamento após eleita, Dilma confessou um desejo: pediu a pais e mães que olhassem nos olhos de suas filhas e dissessem a elas “sim, a mulher pode”. A frase tomada emprestada de Barack Obama é um refúgio. Nele, Dilma depositou em formato de incentivo a compreensão que tem da façanha produzida ao virar a primeira mulher a governar o país.

A economista leva para o Planalto a sensibilidade de mãe e avó, a garra feminina de quem viveu a resistência clandestina no período da ditadura militar (1964-1985), a paciência de quem perseverou na carreira administrativa que escolheu. Mas a mudança de poder que acontece neste final de semana não é apenas uma troca de gênero.

Nasce com a posse de Dilma um novo estilo presidencial – e os brasileiros terão de se acostumar com isso. A ex-ministra cresceu à sombra de Lula, mas tem seu pulso e sua batida. Lula deixa o palco e leva o improviso, o deboche político, a emoção em cada palavra, a gramática popular, o carisma do metalúrgico nordestino que colocou para girar ao contrário a roda do destino social até alcançar a Presidência.

No lugar, entra a discrição, o discurso pensado, muitas vezes escrito para evitar surpresas e medir as palavras, o timbre tecnocrático. Lula delega tarefas, poucas vezes demonstra paciência com os afazeres de governar. Dilma, não. Lula é animal político, e Dilma, fera domesticada na jaula da gestão pública. Ela centraliza, administra por parâmetros. É enérgica – a força motriz que ele colocou para conduzir o PAC. Lula sonha, Dilma projeta.

Serão tempos sem frases insólitas, bordões e provocações políticas que marcaram as aparições do presidente. O tempo que começa no sábado é a era do riso contido, do protocolo, o império das metas. Lula é Corinthians até debaixo d’água e não esconde. Alguém imagina Dilma gritando gol diante da TV?

Mesmo que Lula nunca tenha revelado apetite para a gestão, pode ir para casa descansar com um estoque de realizações para contar aos netos. Distribuiu renda e reduziu a pobreza a partir de um novo e sustentável ciclo de crescimento econômico. O Brasil mergulhou nas promessas de riqueza do pré-sal, ampliou o acesso universitário, turbinou investimentos públicos.

Ela assume com o país embalado. Iniciará o governo com um olho no mundo, acossado pelos desdobramentos da crise financeira persistente. Já deu sinais de que governará com rigor fiscal, segurando ainda mais o gasto, principalmente as despesas com o funcionalismo. Temas urgentes que irritam o brasileiro por não saírem do lugar – como o combate à corrupção e as reformas política e tributária – serão alguns dos deveres de casa.

O Rio Grande do Sul pode ter esperança de dias com um tratamento pelo menos mais carinhoso. Não se espere privilégios. A competência administrativa e o rigor técnico exercitados na Esplanada fazem de Dilma aquele tipo de governante pouco afeito à subjetividade política. As regras, para ela, são mais claras e objetivas. Mas Dilma viveu aqui, sabe como sopra o vento, conhece os problemas do Estado, mora em Porto Alegre, e na Capital estará muitas vezes até o final de 2014, em almoços de família e para mimar o neto, Gabriel.

Dilma e Lula são produtos de oportunidades históricas. Também no discurso de eleita, em outubro, a nova presidente disse que se inspirou na capacidade do povo brasileiro de se apegar às chances que aparecem no caminho. Sob a sombra de um ex-presidente que atuou como professor dedicado, Dilma agarrou a chance dela para entrar na história pela porta da frente do Palácio do Planalto. Bons alunos não perdem oportunidades.

Uma vez mais meus votos de uma torcida muito grande por todos que assumem neste sábado. Agora, nesta parceria intelectual com meus queridos leitores, registro que vou formalmente inaugurar o 28º volume de meus diários manuscritos (no real sentido do adjetivo) – desde 01 de janeiro de 1984 não há um dia sem uma linha.

Ontem acrescentei algo inédito em minha biografia. Fui ao mercado e depois à cozinha e preparei uma lentilha que merecia ser premiada em um concurso de culinária. Mesmo tendo saboreado lentilha não acertei nenhum número da sena.

Há outro detalhe dessa biografia. Vibro, também, no ingresso do ano no qual no dia 13 de março completarei 50 anos de professor.

Quando aceno um ‘até amanhã, adito, a cada uma e cada um de meus leitores, o melhor hoje e em cada dos outros 364 dias de 2011.

2 comentários:

  1. Meu caro Mestre Chassot! Quero ser convidado futuramente para experimentar esta perola da culinaria chassotiana. So assim vou poder avaliar e dar nota ao cozinheiro. Quanto ao texto sobre a nova presidente, gostaria de utiliza-lo tambem em minha blogada deste fim de semana, se permitires. Grande abraco e um bom inicio de ano. JB

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  2. Meu querido Jairo,
    obrigado pelos votos de feliz ano novo enviado por outra plataforma.
    Estás convidado pra qualquer meio-dia deste janeiro a vir saborear um prato das ’minhas lentilhas’. Confesso-te que me desconheci como cozinheiro. Parece que até levo jeito.
    Quanto ao uso do texto, aquilo que está indentado deve ser dado os créditos ao jornalista Alexandre Elmi.
    Gostei das duas falas do Tarso na Assembleia e não Piratini.
    Reitero o convite para um prato de lentilha aqui na Morada dos Afagos e meus votos de um bom 2011 para ti e para os teus,
    attico chassot

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