Porto Alegre Ano 5 # 1621
Porto Alegre Ano 5 # 1621
Depois de um fim de semana com um sábado de sumarenta dica de leitura e de um domingo onde este blogue dourou a pílula de “uma historia de paixão, traições e ódio” (da manchete desta segunda-feira da capa de jornal de Porto Alegre) com uma fábula bimilenar chegamos a segunda-feira que na madrugada já é quente.
Já estamos na segunda semana do ano. Para mim, e para muitos colegas professores está é a ultima semana antes de começar as férias.
Na semana passada, na quarta, quinta e sexta-feira fiz um tríduo acerca das modificações em nossos ferramentais de escrita. Permito-me hoje aditar algo mais sobre o mesmo assunto, sempre trazido de um dos capítulos do livro que preparo para o 50tenário que compartilho com meus leitores neste 2011.
Poderia colocar outra significativa alteração que a nossa migração da caneta para o computador determinou: desaparece(ra)m os chamados originais ou até os rascunhos, onde se poderia ver a própria evolução das ideias durante as sucessivas (re)escritas. Os escritores do final século 20 não terão arrematados em leilões seus rascunhos ou originais (muitas vezes com preciosas anotações), pois hoje remetem para as editoras seus textos em disquetes sem qualquer comentário marginal. Como desaparecem os rascunhos, praticamente desapareceu o borrador ou a costaneira (livro onde os comerciantes anotavam, dia a dia, as suas operações, e que servia de base para a escrituração regular), pois a contabilidade da maioria dos estabelecimentos comerciais já pode ser feita on-line. A caderneta bancária era, ainda na segunda metade século passado um instrumento que se apresentava no banco para que manualmente se fizesse os registros das retiradas, dos depósitos e dos juros. Quanto contemplamos a automação bancária, onde há registros on-line de operações que fazemos em pontos distantes de nossa agência, não conseguimos imaginar estas operações realizadas com caneta, tinteiro, calculadoras mecânicas ou talvez ábaco. A evocação destas cenas, como referi tão próximas temporalmente, mas fantasticamente distantes quando olhamos as transições, mais uma vez, oferecem comparações para as modificações que ocorreram / ocorrem / ocorrerão.
Parece ser fantasioso imaginar quantas outras modificações ainda assistiremos no trabalho de escrever, pois se em apenas ao contemplar a minha história enquanto escrevinhador – alfabetizado em uma lousa, logo da Idade da Pedra –, pudemos contemplar tantas, com a aceleração das modificações determinadas pela tecnologia, qualquer projeção se assemelharia à ficção científica, pois se há vinte anos atrás o leitor ou a leitora visse alguém falando em telefone celular provavelmente julgaria que a pessoa fosse um Extraterrestre... Se há vinte e cinco anos alguém lhe contasse que uma mensagem, com desenhos e fotografias poderia ser mandada por fax, quase instantaneamente para o Japão talvez se diria que isto se tratava de ficção científica. Ou se alguém, há 20 anos nos mostrasse um CD (compact disc) e dissesse que o mesmo continha mais músicas e de melhor qualidade de reprodução que num enorme LP destes de cloreto de vinila — que hoje em nossas casas já são coisas do passado —, isto seria quase incrível, como, ainda, nos parece quase impossível que, apenas um CD, possa conter mais informações (e ainda com muito mais recursos visuais e sonoros) que uma enciclopédia de dezena de volumes e que esta recente invenção da tecnologia já foi superada, por exemplo, pelo pen-drive.
Assim é imprevisível o que poderemos ainda esperar de modificações nesta fantástica tarefa de escrever. Tenho insistido em algo que penso oportuno repetir aqui como encerramento deste capítulo onde ousei fazer uma mirada nos ferramentais da escrita que vi acontecer: a nossa responsabilidade de mulheres e de homens comprometidos com o fazer Educação, onde temos a responsabilidade de buscar minimizar o que nas palavras de um dos mais considerados historiadores da atualidade está colocado como um dos grandes problemas deste final de milênio e perpassou para século 21. Eis o que Hobsbawm diz no seu livro: O breve século XX:
A destruição do passado — ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas — é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. (Hobsbawm: 1995, p. 13) [1]HOBSBAWM, Eric Era dos extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Aposso-me das recomendações de Hobsbawm e o parafraseio: As professoras e os professores cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no começo do terceiro milênio. Também é pelas continuadas tentativas de resgatar a nosso História, particularmente aquela que nos mais próxima, que conseguimos introduzir (re)leituras do mundo, facilitando assim o nosso fazer Educação.
Uma muito boa segunda-feira. Com muitos fazeres neste 2011 que já chega ao seu décimo dia.
Professor, volto a ler seu blogue ainda agoniada com os jovens analfabetos que encontrei nesta virada de ano, e por surpresa, o assunto é a evolução da escrita.
ResponderExcluirLembrei de uma aula em que o prof Gilson falou sobre as possíveis mudanças nas articulações de nossas mãos, devido ao manuseio com teclas. Será que as diferenças sócias serão visíveis pela anatômia das mãos? rsrsrs
abraço
Muito querida Marília,
ResponderExcluirvibro com teu retorno. Ofereço espaço para relato de tuas experiências. No aguardo.
Realmente a evolução nos nossos hábitos de escrita leva a modificações em nossas mãos, por exemplo, observa como perdemos habilidades na escrita manual.
Mais uma vez um bom retorno
attico chassot