Porto Alegre * Ano 5 # 1632
Hoje é o sesquicentenário de nascimento de um cientista genial e incompreendido. Na esteira da edição de ontem, expandimos hoje a reconhecida homenagem deste blogue ao Padre Roberto Landell de Moura. Permito-me convidar àqueles que não leram a postagem de ontem a fazê-lo.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT)
emite, hoje às 09h30min, um selo e um carimbo, em comemoração aos 150 anos de nascimento do padre Roberto Landell de Moura, inventor do Rádio. Às 08h30min haverá missa presidida pelo arcebispo de Porto Alegre na igreja do Rosário (à rua Vigário José Inácio, 402) onde o homenageado foi pároco e o fiéis poderão ver o painel no teto onde o rosário é uma das ‘armas’ junto com espadas para vencer os turcos na batalha de Lepanto (que na verdade foram três batalhas ocorridas entre 1499 e 1571). Na Prefeitura Municipal, às 11h30min será lançado o “Ano da Inovação padre Roberto Landell de Moura” que pretende promover concursos, eventos sociais e atividades culturais.
Como na edição de ontem mesmo com quase uma centena de visitas, de cinco países minha questão de tivesse apenas uma respondente (do exterior) a represento aqui, uma vez mais.
Permito-me antecipar uma questão de pesquisa. ¿Qual a sua resposta à questão proposta, antes do se narra aqui? Agradeço a postada de um comentário nesta edição.
Minha adesão a esta comemoração se faz na transcrição do texto Landell ou Marconi? Cada um na sua, de autoria de Hamilton Almeida, jornalista e escritor, um dos biógrafos de Landell de Moura, autor de quatro livros sobre o padre, entre eles Herói sem glória, a obra mais completa. O artigo foi publicado no Caderno de Cultura da Zero Hora do último sábado. Hoje o jornal refere-se ao evento com matéria na coluna ‘túnel do tempo’. A AGERT – Associação de Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão – publica um anúncio com dose marcada pelo exagero: “Obrigado padre Roberto Landell de Moura, sem você não existiríamos!” .
Landell ou Marconi? Cada um na sua Marconi não inventou o rádio. A primeira transmissão de rádio do mundo foi feita nos últimos anos do século 19 pelo padre-cientista gaúcho Roberto Landell de Moura. Essas afirmações podem soar estranhas para quem aprendeu – e a informação é muito difundida – que o italiano Guglielmo Marconi inventou o rádio. Marconi e Landell fizeram transmissões pioneiras de mensagens à distância, sem fio. Mas os seus aparelhos eram diferentes.
Enquanto Marconi transmitia sinais em código Morse (conjunto de pontos e traços), Landell foi além, transmitindo a voz humana através de ondas eletromagnéticas – o rádio tal como o conhecemos – ou de um feixe luminoso. E, ao usar a luz, o brasileiro colocou em ação o mesmo princípio do laser e das fibras ópticas, desenvolvidos nos anos 1980.
O que Marconi inventou foi o telégrafo sem fio, sistema que em seu tempo também foi batizado de radiotelegrafia. Daí a “confusão” com o termo rádio, que pode ser um prefixo. Na acepção da palavra, a radiotelegrafia de Marconi é divergente da radiotelefonia de Landell, embora utilizem ondas eletromagnéticas como meio transmissor. Em síntese, as telecomunicações nasceram com fio e evoluíram para a era do sem fio. Assim como houve a telegrafia (Samuel Morse) e a telefonia com fio (Graham Bell), também houve a radiotelegrafia (Marconi) e a radiotelefonia (Landell).
O italiano conseguiu ser um dos pioneiros nas comunicações sem fio. O telégrafo sem fio foi muito útil no século 19. Ganhou especial notoriedade no naufrágio do Titanic, em 1912. A mensagem SOS (três pontos, três traços e três pontos), transmitida desesperadamente pelo telégrafo do então maior navio do mundo ajudou a salvar centenas de vidas.
Segundo o primeiro biógrafo de Landell, o gaúcho Ernani Fornari, que teve o privilégio de conhecê-lo, o início das suas experiências aconteceu por volta de 1893 e 1894. Marconi transmitiu os seus primeiros sinais à distância sem fio em 1895 e patenteou a invenção no ano seguinte, na Inglaterra.
De acordo com registros da imprensa, Padre Landell realizou experiências públicas com sucesso na cidade de São Paulo, transmitindo a voz numa distância de oito quilômetros, entre a Avenida Paulista e o alto de Santana, na Zona Norte. Tais experimentos foram noticiados pelos jornais O Estado de S.Paulo (16 de julho de 1899) e Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro (mesma data e 10 de junho de 1900). Antes disso, edição do JC, de 14 de junho de 1899, divulgou que Landell fazia experiências “há muitos anos”.
Padre Landell patenteou o rádio no Brasil em 9 de março de 1901, e esse fato não gerou apoio. Apesar das dificuldades, não esmoreceu e foi para os Estados Unidos, onde, em 1904, obteve três patentes. Recomendou, então, a utilização de ondas curtas para aumentar a distância das transmissões. Marconi só reconheceu o valor das ondas curtas em 1916. Ele também transmitiu pela primeira vez em ondas contínuas, empregadas até hoje.
Landell projetou a televisão e o teletipo no início do século 20, muitos anos antes das descobertas oficiais dessas invenções – 1926 e 1928, respectivamente. Ao lado de Nikola Tesla, foi um dos pioneiros na concepção do controle remoto pelo rádio. Como se não bastasse, vislumbrou as comunicações interplanetárias.
No campo da transmissão da voz, o Canadá reconhece que o físico Reginald Aubrey Fessenden, e não Marconi, é o inventor do rádio. Fessenden se destacou por ter feito experiências em dezembro de 1900. A patente de radiotelefonia de Fessenden é de setembro de 1901 – obtida, portanto, após a patente brasileira de Landell. Os cientistas Poulsen (1902) e Majorana (1903) também transmitiram a voz à distância. Marconi só realizou experiências do gênero em 1914!
Infelizmente, Padre Landell pagou um preço caro por tanta genialidade. Não deram a devida atenção às suas notáveis invenções: não conquistou patrocínio; foi perseguido; acusado de ter pacto com o demônio, destruíram os seus aparelhos e foi “forçado”, conforme as suas próprias palavras, a abandonar a carreira científica quando ela estava no auge.
Consciente, Padre Landell dizia que, “em coisas de ciência, o que avança em relação à sua época não deve esperar justiça dos contemporâneos”. Ele lutou para mostrar que a religião não é inimiga da ciência. Não deu certo. E, assim, o Brasil importou tecnologia para entrar na era das radiocomunicações e perdeu a grande chance histórica de largar na frente de outras nações.
Que a comemoração aos 150 anos de nascimento do padre Roberto Landell de Moura, enseje a recordação de seus feitos e da busca da aceitação de conhecimentos que às vezes parecem exóticos, algo que se repete ainda hoje. A melhor sexta-feira para cada uma e cada um de meus apreciados leitores. Adito um convite para a dica de leitura de amanhã.
Parabéns pelo artigo.
ResponderExcluirO também gênio Marconi aprimorou diversos inventos e conseguiu transmitir sinais de telegrafia, ou seja, 2 sons: "di" e "dá".
O invento de Landell de Moura transmitiu a voz humana, lógico, muito mais complexa.
É o que conhecemos hoje como rádio, seja radiodifusão, radicomunicações etc.
Incluí os 2 artigos na H. Page que mantenho sobre o Padre Landell de Moura: www.landelldemoura.com.br
Procure em Artigos/Notícias.
Tudo de bom.
Ronaldo (www.ps7ab.com.br)
Estimado Rony,
ResponderExcluirmuito orgulho pela visitação a este blogue de um radioamador – figura que evoca tanto a minha infância pelos relevantes serviços que vi prestarem –. Sei o quanto os radioamadores cultuam, com razão o Padre Landell de Moura, figura que hoje reverenciamos.
Este blogue a cada dia que trazer algo para contribuir com a alfabetização científica. Apareça de vez em vez.
Parabéns por tua página que visitei com satisfação.
Com admiração
attico chassot
Ave Chassot,
ResponderExcluiradorei que fizeste esta homenagem ao Landell de Moura. Esquecido e injustiçado pela História, tal como Santos Dumont; Ou até mais.
Lera sobre ele no livro do Ernani Fornari há alguns anos e fiquei encantado.
Estive no Metropolitan Museum of Art em NYC ontem e lembrei muito de ti ao me deparar com a "Moça do brinco de pérola" entre outras obras do nosso amigo Vermeer.
Tirei uma foto; Mandar-ta-ei logo.
Grande abraço,
Guy.
Muito querido Guy,
ResponderExcluirobrigado por oportunizares nos Estados Unidos uma homenagem a Landell de Moura.
Que bom que reencontraste Vermeer que catalisou nosso encontro maior.
Obrigado por esta dica do AMHN onde em 2005 vi uma impressionante exposição de Darwin.
Um excelente sábado estadunidense
attico chassot
Dileto Mestre Chassot, parabéns pela iniciativa de resgatar a memória do nosso ilustre inventor Padre-cientista Roberto Landell de Moura. Sucesso. Fico por aqui inteiramente à sua disposição. Forte abraço. Ivan Dorneles Rodrigues > e-mail: ivanr@cpovo.net ; Site: www.memoriallandelldemoura.com.br
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