ANO
7
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Agenda em www.professorchassot.pro.br
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EDIÇÃO
2469
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Hoje inicia em
Porto Alegre a edição de 2013 de conferências do Fronteiras do Pensamento. Não participei das edições anteriores —
parece-me um evento elitista: 10 palestras R$ 925,00 — mas usufruo — e reparto
com leitores deste blogue —, o que publica a imprensa.
A primeira
conferencista é Karen Armstrong (foto) (Wildmoor, Reino Unido, 14NOV1944), uma
autora especialista em temas de religião, em particular sobre judaísmo,
cristianismo e islamismo, tendo também escrito um livro acerca de Buda.
Ex-freira
católica (Irmã Martha) da Irmandade do Sagrado Menino Jesus, a inglesa Karen
Armstrong abandonou a vida religiosa, mas não a religião. Anos depois de deixar
o convento, Armstrong deu início a uma trajetória intelectual que a tornou uma
das mais respeitadas historiadoras da religião.
Karen
Armstrong concedeu entrevista por e-mail à Zero Hora, que a publicou no Cultura do último sábado. Por razões de
editoração divido a entrevista e a apresento hoje e amanhã.
Zero Hora – A senhora pode antecipar qual deve ser
o teor de sua conferência em Porto Alegre.
Karen
Armstrong – Devo falar sobre a natureza do conhecimento religioso, lembrando
que é um conhecimento derivado da prática – especialmente a prática da
compaixão – e não da correção doutrinária. É como nadar ou dirigir, algo que só
é possível aprender através da prática diligente e não pela leitura de livros e
textos. Eu também devo falar de questões sociais, ressaltando, por exemplo, que
a pobreza, a injustiça e outros temas políticos também são questões
profundamente religiosas.
ZH – Seu trabalho aborda a extrema dificuldade que
há em articular experiências transcendentes em palavras, em linguagem. Muitos
religiosos hoje declaram ter acesso à interpretação real da “palavra de Deus”.
Para a senhora, o objetivo primeiro de uma religião deveria ser transformar
Deus em palavras?
Karen –
Estamos hoje falando de Deus e interpretando as escrituras com uma literalidade
que não tem paralelo na história da religião. Tomás de Aquino e Maimônides
ficariam horrorizados ao ouvir a maneira simplista como falamos de Deus hoje em
dia. No passado, as pessoas entenderam que o que chamamos “Deus” está fora do
alcance do discurso e dos conceitos, mas hoje temos a tendência a domesticar a
transcendência, e nossa ideia de Deus é muitas vezes simplista – até mesmo
primitiva. Ouvimos pela primeira vez sobre Deus mais ou menos na mesma época em
que ouvimos falar de Papai Noel, mas a nossa compreensão do Papai Noel muda e
amadurece ao longo do tempo, enquanto que a nossa compreensão de Deus permanece
em um nível infantil. Vou falar sobre isso em minha palestra.
ZH – A Igreja Católica precisou enfrentar
recentemente um fato raríssimo: a renúncia de um papa. Com a eleição de um novo
pontífice, o que a senhora especula que acontecerá com a política oficial do
Vaticano a respeito de questões contemporâneas essenciais, como a sexualidade,
por exemplo?
Karen – Acho
que este Papa está tentando viver de forma mais simples, o que é muito
bem-vindo. Mas temo que haverá poucas mudanças no que diz respeito à sexualidade,
ao controle da natalidade etc. Os dois últimos papas eram muito conservadores,
e nomearam outros conservadores para os principais cargos e para o Colégio de
Cardeais. Este novo papa tem visões conservadoras sobre questões de sexualidade
e gênero. Creio que ele recentemente recusou o pedido de algumas líderes
religiosas para liberalizar as regras sobre freiras.
Fico ansioso em ler a análise do Mestre Attico após estas palestras. Enquanto não ocorrem desgustamos esta entrevista sobre tema tão polêmico. Napoleão dizia que "a religião é o que impede os pobres de matarem os ricos" . Nietszche já dizia "aquele que não consegue viver a vida de maneira plena cria a culpa". Enfim a religião é criação do homem, já Deus está além de nossa compreensão.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Querido Chassot,
ResponderExcluirirmano-me à irmã no que diz pensar ser um escândalo a forma pueril e primitiva como interpretam-se as escrituras nos dias de hoje.
Gostaria de vê-la falar, mas também considero um acinte o valor cobrado pelos ingressos.
Abraçøs e boa semana!
Muito me alegra o tema desta blogada, já anseio pela continuidade. Me agrada o fato de pessoas estarem discutindo as possibilidades de praticar a compaixão, independente da religiosidade, pois penso que ter compaixão e praticar boas ações não tem nada a ver com ser religioso, mas sim com o fato de ser Cristão, que é muito diferente de ser religioso. E o título "POR UM DEUS ALÉM DOS DISCURSOS", me lembra uma fato atribuído a Gandhi (1869-1948), onde uma mãe o procura para que pedisse ao filho dela que não comece mais açúcar, uma vez que fazia mal a saúde. Após ouvir a mãe ele solicita que ela e o filho retorne após três meses, o que a mãe faz, mesmo sem entender o porque. Quando do retorno, a mãe, ainda curiosa pergunta a Gandhi o motivo pelo qual ele havia solicitado que só depois de três meses ela voltasse com o garoto. Então ele respondeu que primeiro ele precisava deixar de comer açúcar, pois só assim poderia solicitar que o garoto fizesse o mesmo. Como moral da história, podemos apontar que mais do que discussões, precisamos viver, pelo exemplo, um Deus que é amor (ou respeito) ao próximo, independente de religião.
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirPorquanto esse tal de deus eu não sei
Acreditar nele não deve virar lei
Cada um com seu deus
Ou até com deuses seus
Homens livres não podem viver em grei.