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Ano 6 *** CURITIBA – PR | *** Edição 1941 | |
No começo da manhã deste sábado a Gelsa e eu estaremos regressando para Porto Alegre. Nossa estada de algumas horas em Curitiba foi muito densa em emoções. Foi bom homenagear o Otelo e a Tile – pelas razões trazidas ontem aqui –, e reencontrar irmãs e irmãos, sobrinhos, sobrinhos netos e muitos familiares a amigos.
Foi muito emocionante ser convidado pelos meus sobrinhos para contar um pouco da história do aniversariante que conheço desde 1955. Fui sucedido no microfone, pelo João Arthur, de cinco anos, filho do Cássio e Ângela que homenageou o seu avô. Também todos nos emocionamos com as falas da Bárbara e do Pedro Afonso, que desde a França, destacaram emocionados qualidades do pai e o do avô.
Edito duas fotos para registrar o evento. Na primeira, eu com meus quatro irmãos (dos sete que éramos) estão comigo (na ordem) Paulo, Tile, Emar e a Clarinha. Na outra, o neo 70tinha com a minha irmã Tile e a Gelsa e eu.
O sábado já tinha mais de uma hora quando chegamos ao hotel trazidos atenciosamente, pelo meu afilhado Cássio, primogênito do aniversariente. A edição deste blogue sabático honra a tradição e trago uma dica de leitura.
Há uma coincidência com as duas edições anteriores: no sábado, 12, comentei aqui: “Teresa, namorada de Jesus” e/ou “Santa Teresa d’Ávila” de Deonisio da Silva. No último sábado comentei um livro contemporâneo à reformadora do Carmelo: A Perfeita Mulher Casada onde Luis de León traça um perfil de mulher idealizado pela Igreja e pela sociedade barroca-tridentina.
Para hoje proponho Sharon e minha sogra: diários da guerra de Ramallah, Palestina de Suad Amiry. Aos que estão se perguntando qual a semelhança que encontro para as três blogadas. Os três vieram para minha biblioteca como produto de uma de minhas quatro visitas à Feira do Livro, aquela do sábado dia 5. Contei que, então, havia amealhado preciosidades nos caixões de ‘saldos’. Assim a edição de hoje é a terceira de uma destas aquisições. Ainda há de me sobrar tempo para comentar aqui os livros do Morin, Feyerabend, Marcelo Gleiser e Frei Betto que também vieram desta Feira e que de vez em vez prelibo. Aqui e agora, mais um dos preciosos ‘saldos’:
AMIRY, Suad. Sharon e minha sogra: diários da guerra de Ramallah, Palestina [Original italiano: Sharon e mia suocera: diari di guerra da Ramallah, Palestina. Feltrinelli Editore, Milano] Tradução Ângela Maria Tenório Zucchi. São Paulo: Francis, 2004. 141 p. ISBN: 85-89362-37-X
Primeiro conto algo da autora: Suad Amiry (em árabe : سعاد العامري ), nascida em 1951 é arquiteta, professora na Universidade de Birzeit e fundadora do Centro Riwap para a Conservação Arquitetônica da Palestina.
Seus pais foram da Palestina para Amman, Jordânia. Ela vai para o Líbano, e em sua capital Beirute inicia sua formação em arquitetura na Universidade Americana de Beirute Após faz formação pós-graduada na Universidade de Michigan nos Estados Unidos e na University of Edinburgh, na Escócia. Ao retornar à Ramallah como turista em 1981, conheceu Salim Tamari, com quem se casou mais tarde. Ela vive na Cisjordânia, na cidade de Ramallah.
Em 2004, com a publicação de seu livro “Sharon e Minha Sogra - Diários de guerra de Ramallah, Palestina”. Este livro foi traduzido para 19 idiomas, a última edição em árabe, foi um best-seller na França. A edição italiana foi premiada em 2004 o prestigioso Prêmio Viareggio, na Itália, juntamente com Italo-israelense Dviri Manuela, um jornalista, dramaturgo e escritor cujo filho foi morto por um foguete do Hezbollah.
O livro “Sharon e Minha Sogra - Diários de guerra de Ramallah, Palestina” revela o cotidiano da ocupação israelense entre novembro de 2001 e setembro de 2002. Escritora perspicaz, Suad mostra o convívio com sua sogra durante a reclusão involuntária, ao mesmo tempo que revela a angústia de 34 dias sob toque de recolher e a insistência dos palestinos em manter seu espírito livre.
Com o mesmo humor manifesto em seu livro, Suad Amiry fala da ocupação e resistência, do papel das mulheres na busca pela paz e, é claro, de Sharon e sua sogra. “Penetramos nos estreitos becos daquela que um tempo era uma antiga e próspera cidade árabe, e que hoje tornou-se uma ‘colônia artística israelense’. Os artistas, às vezes, conseguem ser realmente sensíveis!” O trecho é sobre Jafa, cidade de onde seus pais palestinos foram expulsos em 1948, na fundação de Israel.
Eis como Suad Amiry comenta seus continuados envolvimentos com continuadas e necessárias passagens por ‘fronteiras entre Israel e o território palestino’ que separam bairros:
“Seria difícil explicar ao funcionário da segurança israelense que sempre tive inveja de meus pais e até mesmo de meus avós, porque viveram em uma época em que morar nas esplendidas cidades daquela região, ou deslocar-se de uma para outra, não era tão complicado e não requeria medidas de segurança. Sempre me intrigou ouvir meu pai descrever suas viagens de Jaffa a Beirute, que incluíam um desjejum em um restaurante a beira-mar, em Sindon. Ficava ainda mais intrigada quando minha mãe contava como em 1926, ela, menina de quatro anos, fizera uma visita a família materna, os Abdulhadi, no vilarejo de Arrabeh, na Palestina. A descrição do percurso que haviam feito, de Damasco a Arrabeh (atual parte de Israel), descendo no vale de Uarkmouk ao longo das esplendidas planícies de Marj Ibin' Amer e Sahel Jenin, sempre me encantava. "Primeiro, fomos encontrar os nossos parentes em Nablus e, depois de alguns dias, chegamos a cavalo no vilarejo de Arrabeh", dizia minha mãe. Para ela, o principal elemento de fascínio era representado pelo passeio a cavalo, ao passo que, para mim, o elemento de maior perturbação era que havia se tornado impossível fazer uma viagem do gênero entre Arrabeh e Damasco”.
Suponho que tenha oferecido a meus leitores algumas informações acerca da preciosidade que é esta dica sabática de hoje. Àqueles que desejarem saber mais sobre Suad Amiry e em especial a sobre as situações dos territórios palestinos ocupados, recomendo conhecer o excelente sítio do Instituto de Cultura Árabe – ICARABE – ali há uma entrevista em www.icarabe.org/entrevistas/suad-amiry Mesmo que esta seja de 28JUL2005 é de vibrante atualidade pois como diz a autora de “Sharon e Minha Sogra - Diários de guerra de Ramallah, Palestina”: “Ouvem falar da Palestina quando algo grave ocorre, mas cada minuto de nossa vida é violado”. Desejo cada uma e cada um de meus leitores votos de fruídas leituras.
Caro Chassot,
ResponderExcluirde fato, pela tua descrição, o livro deve ser emocionante pois descreve outra face na convivência na Palestina, algo que não é trazido pelas agências de notícias comprometidas com as ideologias ocidentais.
Replicando minha palavra de ontem, cumprimentos pelo reencontro dos irmãos/familiares em Curitiba: deve ter sido um espetáculo de rememorações.
Um abraço, bom shabat!
Garin
Caro Chassot,
ResponderExcluirOutra dica de leitura muito interessante. Abraços, JAIR.