Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br | *** Edição 1932 |
Uma quinta-feira que terminará para mim em viagem para Frederico Westphalen. Isto me impedirá de assistir a sessão da noite Encontro Nacional de Humanidades e Ciências da Saúde: cujo tema é palpitante: A história da homeopatia no Brasil. Esta tarde assistirei um workshop ‘Gênero e sexualidade’.
Ontem à tarde e à noite participei das duas primeiras sessões da promoção do Núcleo de Humanidades da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e coordenada pelo Éder da Silveira. Há ainda vagas e se algum leitor quiser comparecer hoje e amanhã o evento tem entrada franca.
À tarde assisti um workshop acerca de um excelente projeto de ‘contação de histórias em ambientes hospitalares’. As atividades são desenvolvidas pelas professoras Márcia Rosa da Costa (Uma pedagoga com doutorado em Educação) e Luciana Boose Pinheiro (um licenciada em Letras com mestrado em Literatura) que mantêm um curso regulares para acadêmicos das áreas da saúde acerca de com contar histórias para hospitalizados. Foi significativo ver estudantes reivindicando atividades como estas inseridas nos currículos de graduação.
Entre os dois turnos, nos reunimos na cafeteria em um frutuoso papo. Ousei dizer a um grupo de quase alienígenas em uma ‘Universidade de Ciências da Saúde’ (oriundos da Pedagogia, História, Letras...) que são eles que, com suas ações indisciplinares, que dão a uma instituição que tem uma matriz exclusiva na Medicina (que agora se amplia a outros cursos também na área da saúde), conferem à instituição a dimensão de Universidade na sua mais histórica concepção.
À noite o professor Flavio Coelho Edler, da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, proferiu a conferência “Afrânio Peixoto: uma cruzada civilizatória pela nação possível” onde conhecemos uma figura ímpar apresentada num caleidoscópio multifacetado pelo prof. Flavio com a mediação destacada do Prof. Éder.
Júlio Afrânio Peixoto (Lençóis,
O polímata Afrânio Peixoto que entre 1904 e 1906 esteve em vários países da Europa, a fim de adquirir novos conhecimentos. Ao retornar ao Brasil esqueceu-se da literatura e pensou apenas na medicina. Nesse período foi grande sua produção de obras de cunho médico-legal-científica.
Escreveu cerca de meia centena de livros (romances, ensaios literário, filologia, críticas, obras médicas, biografias, diários de viagens etc). O romance foi uma implicação a que o autor foi levado em decorrência de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, em 7 de maio de 1910, para a qual fora eleito à revelia, quando se achava no Egito, em sua segunda viagem ao exterior.
Quase como que por obrigação, começou a escrever o romance A esfinge, o que fez em três meses antes da posse da Cadeira nº 7. O Egito inspirou-lhe o título e a trama novelesca. O romance, publicado no mesmo ano, obteve um sucesso incomum e colocou seu autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas brasileiros.
Dotado de personalidade fascinante, animadora e de um excelente domínio da oratória, prendia a atenção das pessoas e auditórios pela palavra inteligente e encantadora. Afrânio Peixoto obteve, na época, grande aprovação de crítica e prestígio popular.
Na Academia Brasileira de Letras, desempenhou diversas atividades, sendo que um dos seus mais importantes feitos foi obter do embaixador da França, Alexandre Conty, em 1923, a doação pelo governo francês do palácio Petit Trianon, construído para a Exposição da França no Centenário da Independência do Brasil.
Como ensaísta escreveu importantes estudos sobre Camões, Castro Alves e Euclides da Cunha. Como médico, conheceu e estudou as ideias e teorias de Freud, levando-as para muitos de seus romances.
Teve uma passagem pela política quando foi eleito deputado federal pela Bahia, ficando no cargo no período de 1924 a 1930. Após isto, voltou à atividade do magistério sendo professor de História da Educação no Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1932. Foi reitor da Universidade do Distrito Federal em 1935 e, após 40 anos de relevantes serviços, aposentou-se.
Era também um implacável polemista, sendo historicamente apresentado como rival do médico e cientista brasileiro Carlos Chagas, e segundo alguns um dos responsabilizados por sua não-laureação ao Prêmio Nobel de Medicina. Chagas é o único cientista na história da medicina a descrever completamente uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor (Triatominae), os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia.
Faleceu no Rio de Janeiro em 12 de janeiro de 1947 com a idade de 70 anos. Estas informações, tomadas na conferência e aditadas com outras colhidas na Wikipédia, mostram o quanto a noite foi sumarenta.
Caro Chassot,
ResponderExcluirQuando eu era guri, li "A Esfinge" com olhos e entendimento infantis, sem me dar conta da estatura do autor. Hoje me vejo compelido a procurar na web algum sebo que me forneça esse livro, porque tenho "obrigação" de relê-lo (ô palavrinha feia!) depois dessa tua postagem. Abraços e creio que sou o primeiro a comentar, porque são 5:30 da manhã, JAIR.
Caro Attico, a sua blogada é generosa e toca no núcleo da questão: a importância das humanidades em um centro mais "técnico" fazendo com que se forme o "espírito" universitário propriamente dito. Também gostei muito desse primeiro dia de conversas e estou ansioso pela sua sequência. Até lá! Um grande abraço do Éder.
ResponderExcluirEstimado Jair,
ResponderExcluirteu saber de Afrânio Peixoto superava o meu. O livro que te ligava a ele tem uma originalidade. Ele estava no Egito, a passeio em 1910, quando recebe a notícia de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras. Para justificar a eleição escreve ‘A esfinge’,.
Também preciso ler algo dele.
Obrigado por tua presença madrugadora aqui
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirsó hoje estou conseguindo chegar aqui no teu blog. Ontem tive um dia extremamente atarefado e quase nem consegui escrever a minha postagem. Valeu ter encontrado o teu blog hoje: não tinha a menor ideia sobre a vida e obra do Afrânio.
Um abraço,
Garin