Ano 6 | www.professorchassot.pro.br | Edição 1921 |
Em nossa sociedade, onde preenchimento de informações uma das características, cada uma e cada um de nós têm a sua data que é chamado a repetir no cotidiano. Quando ela chega – como é este domingo para mim –, nos soa exótica. Parece que a estamos colocando no lugar errado.
Ontem no final da tarde e a noite, a Gelsa e eu realizamos dois programas que vale recomendar intensamente para aqueles que são de Porto Alegre e arredores. Fomos à Oitava Bienal do Mercosul e à Feira do Livro.
Na Bienal nesta quarta visita deste ano nos dedicamos a contemplação do Armazém A-4 do Cais do porto que expõe “Cadernos de Viagem, como os demais locais está inspirada nas tensões entre territórios locais e transnacionais, entre construções políticas e circunstâncias geográficas, nas rotas de circulação e intercâmbio de capital simbólico. O título refere diversas formas que os artistas propõem para definir o território, a partir das perspectivas geográfica, política e cultural.
inspirada nas tensões entre territórios locais e transnacionais, entre construções políticas e circunstâncias geográficas, nas rotas de circulação e intercâmbio de capital simbólico. O título refere diversas formas que os artistas propõem para definir o território, a partir das perspectivas geográficas, política e cultural.
Dou destaque a dois dos nove trabalhos:
Teutônia complaints choir [Coro de queixas de Teutônia] (2011) é um trabalho em colaboração com a comunidade coral do povoado de Teutônia, que os reúne com a premissa de fazer audíveis suas queixas em forma de um “coro de queixas”. Em exposição encontra-se um vídeo documental que registra a performance realizada na cidade de Teutônia. Vale ver http://www.youtube.com/watch?v=1Z28tiJuCWMale
A região fronteiriça dos pampas, especialmente a comunidade binacional de Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai) – cidades divididas somente por uma fronteira imaginária – foi o cenário que acolheu o artista mexicano Sebastian Romo, onde ele se envolveu com a comunidade, realizando oficinas em escolas e concebendo a obra exibida nesta exposição. Em seu pensamento, as práticas cotidianas são matéria-prima para o desenvolvimento de suas obras, as quais geralmente são produto de padrões e sistemas que o artista estabelece com antecedência, entregando-se ao acaso de uma resposta orgânica de uma situação específica. Este agir do artista pelo tempo e pelo espaço toma forma, às vezes, por meio da escultura ou da fotografia, referida metaforicamente, mas nem sempre por seu valor visual. Sua maneira de entender a arte é a partir da vivência mesma, em que a conjunção arte-vida é parte integrante de Sebastian Romo como pessoa.
Sobre a Feira do Livro, duas pequenas notas: 1) se em anos anteriores, pelo redução do espaço, tínhamos vontade de fugir, este ano a Feira está super convidativa e se deseja estender a visita e para tal quero lá voltar. 2) os saldos com excelentes livros a R$ 5,00 e 10,00 estão imperdíveis
Há uma semana trazia aqui a minha solidariedade ao ex-Presidente Lula e a torcida pela superação de seu problema de saúde. Silenciei ante a infâmia que se dissemina em algumas redes sociais. Pareceu-me que não valia reptar mentes doentes que se aproveitam de dissabores dos outros para tripudiar. Mas neste sábado a jornalista Cláudia Laitano, publicou na página 2 de Zero Hora “O fantasma” artigo que gostaria de ter escrito. Por tal transcrevo aqui.
A forma como reagimos à notícia de uma doença, a nossa ou a dos outros, diz muito sobre quem somos, mas talvez mais ainda sobre o que nem sabemos que somos. A doença, em certo sentido, é a corporificação de um fantasma – e cada um reage à visita de uma assombração não apenas do jeito que sabe, mas do jeito que pode. Quando o fantasma aparece diante de nós, o susto é tão grande, que pode abalar tudo que achávamos que sabíamos sobre nossa personalidade. Quando aparece para os outros, podemos ser solidários ou indiferentes, cínicos ou compreensivos, e tudo isso vai depender tanto da nossa relação com o doente ou seus familiares quanto da nossa capacidade de sentir empatia pelo outro em abstrato.
As mensagens raivosas dos que usaram a doença de Lula como pretexto para extravasar opiniões políticas chocam não apenas porque barateiam o sofrimento de uma pessoa, mas porque banalizam uma dor que não é só a daquele doente específico, por acaso uma personalidade pública, mas de todos os que já tiveram um caso parecido na família – ou apenas compartilham o medo, mais do que concreto, de passar por esse drama.
Nada é mais universal do que o medo da morte, e nenhuma doença dá mais medo do que o câncer. Suas manifestações em diferentes partes do corpo, suas causas misteriosas, sua relação com estilo de vida, estado de ânimo, prazeres culpados, tudo contribui para essa aura maldita que a ciência mal e mal vem dando conta de esclarecer. Nos últimos anos, muitas celebridades têm vindo a público falar da doença e expor o tratamento. O valor desses depoimentos é imenso, principalmente em um país como o Brasil, onde o sofrimento da doença é agravado pela precariedade da saúde pública e pela falta de informação. Mas um efeito colateral visível da cultura do compartilhamento é essa sensação generalizada de que todo mundo em volta tem ou já teve câncer: não apenas amigos próximos e conhecidos, mas também atores famosos, políticos, escritores... Há, sim, uma epidemia em curso, mas de hipocondria – um mal-estar generalizado causado por essa sensação de que estamos todos sob o constante ataque de inimigos invisíveis, comendo, bebendo e respirando substâncias silenciosamente assassinas.
Claro que já havia hipocondríacos mesmo em épocas em que as doenças eram menos compartilhadas. Alguns dos mais geniais deles foram reunidos no delicioso livro Os Hipocondríacos – Vidas Atormentadas, de Brian Dillon. Marcel Proust, Charles Darwin e Michael Jackson, entre outros, tinham em comum, além do talento, a suspeita permanente de que suas vidas estavam em risco, traço que apareceu, em menor ou maior intensidade, em suas obras.
O que o livro sugere como reflexão para nossa época tão alarmada com tudo é que o medo permanente costuma provar-se muito mais letal do que as doenças, reais e imaginárias, que assombram nossa imaginação mesmo antes de atingir o nosso corpo.
Caro Chassot,
ResponderExcluirA chamada solidariedade brasileira se esvai como fumaça quando se trata de pessoas, públicas ou não, da qual temos antipatia por motivos quaisquer. Tenho visto esse mesmo comportamento com respeito a pessoas comuns também. É fora de dúvida que existe gente que confunde comportamentos ou ações não aprovados por ela com o direito à saúde e à vida que todos temos. O cidadão Lula por certo tem todo o direito a tratamento e a cura de sua doença independente do político Lula. Este pode ter suas ações criticadas, mas não devemos desejar sua morte por isso, afinal não existe pena de morte neste país. Abraços solidários, JAIR.
Mestre,
ResponderExcluirque hoje seja um dia especial. Cercado de teus queridos, com expectativas de muita felicidade e sucesso. Parabéns por mais esta volta ao redor do sol a bordo deste pálido ponto azul.
Grande e carinhoso abraço,
Guy
Olá Chassot!
ResponderExcluirEscrevemos para te cumprimentar pelo aniversário! Parabéns!!! Esperamos que estejas curtindo muito esse dia especial e que recebas muito carinho e afeto!
Abraços dos amigos, Bica e Fernanda.
Caro Chassot,
ResponderExcluirpor mais significativos que sejam os assuntos do teu blog hoje, nada suplanta a satisfação de utilizar esse espaço para te enviar um forte abraço de aniversário. Com votos de plena realização nesta nova volta do calendário continuamos torcendo por ti.
Um forte abraço do amigo e colega,
Garin
Attico, querido parabens! Que o anos iniciado hoje seja pleno em alegrias e realizacoes. Beijos
ResponderExcluirCarla
De fato, o artigo da jornalista diz tudo que precisamos ouvir sobre o assunto. Ponto positivo para o texto por sua urgência e qualidade. Pena alguém precisar escrever um texto como esse. Urge divulga-lo nas mídias e faze-lo mais conhecido.
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