Ano 6 | Edição 1916 |
Mesmo não desejando parecer por demais de antanho, sou do tempo que este dia era ‘dia santo de guarda’ para a Igreja católica e como extensão, de fato, um feriado nacional. Este associado ao feriado do dia de finados, gerava um feriadão. Assim se dia 28 de outubro – ponto facultativo do dia do funcionário público (e quem pertencesse a esta categoria funcional) – caísse, como este ano, em uma sexta-feira, tinha-se recesso de uma semana, com o enforcamento de apenas a segunda-feira, 31 de outubro, que poderia ser um dia não letivo para quem trabalhasse em escolas evangélicas.
Uma evocação de meu tempo de universitário: Um ano fui para praia nos ‘feriados de finados’ (como dizíamos) para resolvermos problemas de física do Haliday & Resnick prepararando assim os exames de fim de ano que se avizinhavam.
Outra mais remota, dos tempos do ginásio: meu irmão Sirne, colocou na sua agenda, no dia 1, ao lado da indicação: ‘festa do dia de Todos-os-Santos, como ‘dia de São Risal’.
Enquanto ajudante de missa em latim (pré-concílio Vaticano 2º 1962-65) lembro de ler no missal: Festum omnium sanctorum. Aliás, no dia seguinte, na liturgia dos fiéis defuntos, se ameaçava em latim: Dies iræ! dies illa / Solvet sæclum in favilla. Ou como dizem as quatro primeiras estrofes: Dia da Ira, aquele dia / Em que os séculos se desfarão em cinzas, / Testemunham David e Sibila! // 2 Quanto terror é futuro, / quando o Juiz vier, / para julgar a todos irrestritamente // 3 A trompa esparge o poderoso som / pela região dos sepulcros / convocando todos ante o Trono. // 4 A morte e a natureza se aterrorizam / ao ressurgir a criatura / para responder ao Juiz. A estas quatro se seguiam outras quinze igualmente tétricas. Isto era cantado com o padre aspergindo uma essa (ou catafalco imitando um imenso caixão fúnebre), ladeada por quatro velas que, enquanto o padre aspergia com água benta eu incensava com um turíbulo. Mas isto poderia ser assunto para amanhã, pois era a liturgia de finados.
Esta festa de hoje é celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. A Igreja Católica a celebra seguida da comemoração dos fiéis defuntos, amanhã. A Igreja Ortodoxa comemora esta festividade no primeiro domingo depois do Pentecostes, fechando a época litúrgica da Páscoa. Na Igreja Luterana o dia é celebrado principalmente para lembrar que todas as pessoas batizadas são santas e também aquelas pessoas que faleceram no ano que passou. Em Portugal, neste dia, as crianças costumam andar de porta em porta a pedir bolinhos, frutos secos e romãs. Não sei se isto tem algo sincrético com o Haloween, que se quer importar colonialmente para o Brasil.
Mais uma lembrança destes dias: Havia uma prática, que era muito
chata, e conhecíamos pelo nome em latim: ‘Toties quoties’ ou ‘Tantas vezes quantas vezes’. Refiro-me ao passado, para mim, mas isso ainda é praticado hoje. Copio de uma informação atual que coincide com que tínhamos de fazer: “Do meio-dia Dia de Todos os Santos até a meia-noite no final do Dia de Finados os fiéis católicos, tantas vezes, quantas vezes visitarem uma igreja ou capela, onde o Santíssimo Sacramento está verdadeiramente presente, e rezar pelos mortos, recitando durante cada visita seis Pai-Nosso, seis Ave Maria e seis Glória pelas intenções da Santa Madre Igreja, pode ganhar uma indulgência plenária aplicável somente às almas do Purgatório, nas condições habituais de fazer uma boa confissão dentro de uma semana antes ou depois, dignamente receber a Sagrada comunhão dentro de uma semana e ter a intenção correta de coração. Comentei isto na aula da Universidade do Adulto Maior de ontem e havia uma aluna que recordava ter feito está prática.
Pode-se imaginar a lista que minha mãe tinha pelos quais tínhamos que entrar e sair ‘tantas vezes’: bisavós, avós, tios, tias... e assim salvámos nossos antepassados do purgatório. Claro que por garantia se fazia isso a cada ano e todos faziam por todos. Sabíamos também que, se alma que estávamos tentando salvar já estivesse redimida, nossas orações eram creditadas para outra abandonada e por quem ninguém rezava.
Claro que não conhecíamos a insurgência de Lutero, trazida aqui ontem. É muito significativo que faça este relato como se isso fosse algo de passado distante com ressaibos do medievo. Mas estas práticas parecem ser, ainda correntes, quando nos preparamos para as celebrações dos 500 anos da reforma luterana. Lemo-nos amanhã, procurando não apenas entender a sociedade que vivemos, mas também colaborar para que seja mais palatável e menos regida por divindades que parecem portar chicotes para punir.
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Caro Chassot,
ResponderExcluirSobre essas liturgias católicas referentes aos dias "de Finados" e "de todos os Santos" nada sei, o que sei é que minha mãe costumava ir ao cemitério no dia 1º para evitar as aglomerações e tumultos do dia de Finados. Outra coisa, essa bobagem de querer importar o Halloween, um folclore de povos nórdicos que se comemora nos EUA, é o exemplo de macaqueação mais estranho que conheço. Nossos costumes nada têm a ver com a cultura escandinava, não fomos colonizados por eles, então querer "forçar" um hábito que não nos diz respeito é estultice da mais alta conta.
O Dia das Bruxas (Halloween) é um evento tradicional e cultural, que ocorre basicamente em países anglo-saxônicos, mas com especial relevância nos Estados Unidos, Canadá, Irlanda e Reino Unido, tendo como base e origem as celebrações dos antigos povos escandinavos que trouxeram o costume para aqueles países. Se quisermos fazer uma comemoração por que não comemoramos o dia do saci-pererê, como alguns estão sugerindo? Enquanto o Brasil estiver sentindo inveja e tentando imitar o país mais influente, não vai achar o seu caminho. Abraços nacionais, JAIR.
Caro Chassot,
ResponderExcluirgostei desse 'enfileramento' de feriados. Apesar de sermos um país tradicionalmente católico somos por demais 'protestantemente' trabalhador (não que não haja protestante preguiçoso). Pessoalmente sou tão marcado por essa 'mosca protestante' que tenho dificuldades para deixar de trabalhar, minha esposa que o diga. Quem sabe podemos aqui iniciar uma campanha pelo retorno do feriado de Todos os Santos.
Um abraço,
Garin
Meu caro Jair,
ResponderExcluirEstá aí uma boa proposta para uma blogada (conjunta):
Halloween – abaixo a macaquice.
Um bom novembro
attico chassot
Meu caro Garin,
ResponderExcluiristo de fazer ‘Todos os santos’ feriado é muito colher de chá para a igreja (presumida) hegemônica. Ela já tem Corpus Christi, Aparecida, Navegantes (em Porto Alegre e muitos feridos municipais ‘católicos’). Minha sugestão é fazer de 31 de outubro o feriado que celebre a inauguração da Modernidade e libertação do pensamento dominante.
Tem uma vantagem que dia 1º seria incorporado como feriadão.
Um bom feriado amanhã
attico chassot