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segunda-feira, 21 de novembro de 2011
21.- Uma celebração tardia: Dia da Consciência Negra
Ontem, 20 de novembro, foi celebrado o “Dia da Consciência Negra”. Talvez por neste 2011 cair em domingo a data que é feriado em cerca de 757 dos 5.564 municípios brasileiros [por leis municipais e/ou estaduais (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Rio de Janeiro são os três estados onde é feriado estadual)] foi menos destacado. Este blogue mesmo, em outros anos mais atento à data, limitou-se a uma referência lateral.
Digo aos que se desculpam, por exemplo, por cumprimentarem atrasados por meu aniversário, que isso só tem uma vantagem: expandir a comemoração. Uso este mesmo argumento para nesta segunda-feira comentar algo sobre assunto tão relevante e ainda bastante controvertido.
Deve-se reconhecer que é verdade que, nos últimos anos, cresceu a importância dos movimentos voltados para a afirmação da identidade e dos direitos de afrodescendentes no Brasil. Com efeitos positivos, de forma geral, sua ação redundou também, muitas vezes, num discurso que separa brancos e negros.
Zumbi é hoje, para determinados segmentos da população brasileira, um símbolo de resistência. Em 1995, a data de sua morte foi adotada como o dia da Consciência Negra. Mesmo que seja uma figura mítica e por tal controvertida – sua história foi inicialmente contada por uma cultura ágrafa e perdedora – trago aqui algo de sua história, marcado com estas duas informações. Valho-me de algumas informações da Wikipédia.
O Quilombo dos Palmares (localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas) era uma comunidade autossustentável, um reino (ou república na visão de alguns) formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ele ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal e situava-se onde era o interior da Bahia, hoje estado de Alagoas. Naquele momento sua população alcançava por volta de trinta mil pessoas.
missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado 'Francisco', Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte e poucos anos.
Por volta de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita, mas Zumbi rejeitou a proposta do governador e desafiou a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se o novo líder do quilombo de Palmares.
Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antonio Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
Em 14 de março de 1696 o governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro escreveu ao Rei: "Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares."
Depois desta carta ao Rei, vale trazer – como epílogo – um excerto do texto “Valeu, Zumbi” de Eloi Ferreira de Araujo, na Folha de S. Paulo de ontem: “Assim, passados quase 200 anos da epopeia de Palmares, a luta pelo fim da escravidão foi para as ruas do Brasil. O movimento abolicionista ganha os corações e as mentes: em 13 de maio de 1888, é aprovada a Lei Áurea. É iniciada a colheita dos frutos semeados em Palmares. Contudo, a Lei Áurea não veio acompanhada de mecanismos de inclusão para assegurar aos ex-cativos as oportunidades que foram dadas aos imigrantes europeus”.
“Passados 123 anos desde a abolição, o país incorporou ao seu arcabouço jurídico legislação não penal para a população negra que merece destaque. A lei nº 10.639/2003, que institui o ensino de história e cultura afro-brasileira, é uma delas. Sua importância reside, entre inúmeros aspectos, em estimular o conhecimento sobre a importância do negro na formação da nação, da identidade nacional e da contribuição dos escravos para a construção do Estado brasileiro”.
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Caro Chassot,
ResponderExcluirassim como a memória das lutas sociais não podem ficar restritas a um dia, o "Dia da Consciência Negra" também merece ser retomado todos os dias. A consciência da luta não pode ficar adormecida durante 364 dias. Teu blog está bem consistente e sempre traz novidades sobre o assunto.
Um forte abraço,
Garin
Ola Mestre Chassot!
ResponderExcluirDepois da brilhante ediçao onde referes a campanha da Beneton, onde houve aflição da Santa Sé mediante imagem do Papa em situaçao não muito cômoda (aliás, os jornais deram destaque na semana para um certo assédio sofrido pelo Presidente Barack Obama - o que vem a calhar cm a campanha), que parabenizá-lo pelo brilhante resgate histórico que agora, mesmo que tardiamente, trazes sobre o Dia da Consciência Negra. Sou sempre grato aos teus relatos pois aguça nossa curiosidade e senso histórico. Abraços do JB.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Chassot,
ResponderExcluirZumbi é o exemplo cabal que os homens nascem livres e lutarão com o sacrifício da própria se esta liberdade lhes for subtraída. Ainda que a marca vergonhosa da escravidão jamais possa ser apagada da história desse país, homenagem a esse guerreiro mítico é o mínimo que podemos fazer para lembrar que somos todos iguais independente do grau de melanina nas nossas peles. Abraços, JAIR
Caro Chassot,
ResponderExcluirFico feliz em ler a sua postagem não emotiva e/ou fingida como muitas são.Lembra -nos que a maior violência não é a simples extinção física de um grupo mas o silenciamento de sua cultura ou sua colocação como secundaria no meio em que habita estagnando da luta ate seus melhores guerreiros.Não acredito que dias comemorativos mudem realmente algo nem as atuais exageradas atuações governamentais, mas já são algo. Sinceramente o alvoroço que causam mostram logo o quão incomum e estar estas culturas como iguais ao lado de outras desta nação.
Att. Ivana Maria.
LEONEL escreveu:
ResponderExcluirBoa Tarde, Mestre!
Hoje, parece que o tal blogger resolveu me impedir de comentar nos blogs amigos, mas gostaria de lhe repassar o que seria meu comentário sobre sua matéria, onde é citado o chamado "Dia da Consciência Negra":
Eu sou avesso a "dias" dedicados a seja o que for, pois acho que atitudes não devem se resumir a uma data.
Mas, não posso deixar de pensar que certas manifestações mais separam do que integram.
Acho que os negros como eu devem se ver e agir como cidadãos deste país, cumprir seus deveres e exigir seus direitos como qualquer outro cidadão.
Inútil ficar como fazem alguns, querendo reparações ou compensações pelos erros do passado! Isto só leva a suscitar mais ódios e preconceitos!
Eu expressei meu pensamento a respeito em um post:
http://asteroide-leonel.blogspot.com/2010/11/escravidao-educacional.html
Se o senhor tiver tempo, gostaria de ser honrado com vossa leitura.
Também publiquei um breve post sobre o Quilombo dos Palmares, em:
http://asteroide-leonel.blogspot.com/2010/11/historia-quilombo-dos-palmares.html
Creio que o melhor que se pode fazer por todas as etnias deste país é dar a todos uma boa educação pública, pois isso é que dará aos pobres de todas as cores iguais chances de competir e buscar seus lugares, sem precisar de esmola de ninguém, diminuindo realmente as desigualdades sociais, que são imensas.
Abraços! Leonel
Muito estimado colega e conterrâneo Leonel,
ResponderExcluirPrimeiro: concordo contigo com ‘não-celebração de dia de...’, mas temos que convir que alguns nos fazem refletir. Talvez o a celebração do 20 de novembro seja das de mais densos ‘remexer’ em nossos preconceitos, Aliás é significativo o ‘quase silenciamento’ da data por ter caído em domingo.
Segundo: li os dois textos (e este comentário aditado ao teu que postei no blogue é uma sugestão à leitura). Gostei muito de ambos. O acerca da educação poderia ser quase um projeto político pedagógico de uma escola onde curtiria ver meus netos estudando. O sobre ‘Palmares’ é uma aula de História do Brasil.
Obrigado por com nossos blogares sermos árceiros no fazer alfabetização cientifica
attico chassot