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domingo, 13 de janeiro de 2013

13.- MÚLTIPLAS FACES DE UMA ESCOLA ESTADUNIDENSE-Bis



Ano 7***        BOA VISTA  RR    ***Edição 2356

Como ontem, diferenças de fusos horários fazem que mesmo que esta blogagem ocorra quando começa o domingo, é ainda sábado aqui em Boa Vista. À 01h25min, começo a voltar à Manaus, onde devo chegar às 2h40min (04h40min BSB).
 As duas bancas foram profícuo dialogo acadêmico que se espera de sessões de qualificação. A tarde e a noite em Roraima foram de fruir as gentilezas de colegas. Aqui algo no mínimo exótico: após as duas bancas éramos sete à mesa saboreando um tambaqui assado na brasa, de sete estados brasileiros diferentes (GO, PR, RJ, RR, RS, SC, SP), com ainda dois detalhes, faltou ao ágape um participante da banca: professor Antônio Alves do PE e a única roraimense era Marina de seis anos. A região Norte é terra de migrantes.
Há, ainda, um registro emocionante: vi, aqui no Hemisfério Norte a linda Betânia, minha neta, nascida na madrugada de 5ª feira, dia 10JAN13. Tal como quando a referi naquela manhã em aula, precisei acolher lágrimas.
Hoje a domingueira se tece com a segunda parte do texto do professor Guy — ver a edição de ontem —, visitando uma escola pública estadunidense. Com ele votos de muito bom domingo a cada uma e cada um.

Antes do relato do passeio alguns números importantes: 100% dos 1.800 alunos são transportados para a escola sem qualquer custo, recebem almoço, também gratuito, e passam na escola das 8h às 16h. 60% dos alunos são latinos, 30% afrodescendentes e 10% asiáticos e caucasianos. 100% dos professores são caucasianos... A escola é sustentada pelos dólares obtidos pelos impostos de imóveis enviados pelo governo estadual, todos os gastos são minuciosamente relatados ao governo e também aos pais, que recebem mensalmente um relatório de onde os fundos estão sendo investidos dentro da escola.
 Há uma grande preocupação da PISC sobre a mobilidade dos alunos, de uma escola para outra, muito comum em alunos de baixa renda... Assunto que já gera preocupações em Washington D.C. para que se estabeleça um currículo nacional padrão. Além disso, os alunos tornam-se mais herméticos ao estabelecimento de laços aos educadores, mais um anticatalisador de aprendizado... Há muitos esforços da escola em mitigar estes problemas, a tese feita pela Dr. Donna, minha anfitriã, trata sobre este assunto.
Sobre a disciplina pode-se dizer que é rigorosa. Exige-se pontualidade e respeito aos professores e funcionários. Quaisquer desvios são punidos exemplarmente. Casos de reincidência ou mais graves são razão para uma expulsão de toda a rede pública de escolas, sendo assim o aluno somente poderá voltar a estudar em uma escola especial, onde vigora um outro regime, ainda mais rigoroso.
As paredes da escola são brancas, tal como o chão. Tudo muito limpo. Apesar da limpeza percebe-se uma austeridade que emana pouco calor, mesmo que em algumas paredes existam bonitos painéis, pinturas, mosaicos e decorações feitas pelos alunos. Tudo aquecido para o frio e refrigerado no tórrido verão georgiano. Estuda-se com conforto térmico. Sempre. Rampas de acesso e elevadores em todos os blocos, a escola dispõe de macessibilidade total à portadores de necessidades especiais. Inclusive um elevador para carros e uma enfermaria com enfermeira em disponível em todo período letivo.

Cada professor possui sua sala de aula, com seu sobrenome em uma placa indicando, com seus recursos didáticos necessários. Todos dispõem de datashow interativo, com controle dotado de sensor de movimento (dispositivo do vídeo game Wii). As aulas são participativas, alunos trabalham em grupos e hands-on. Aulas magistrais são entremeadas com aulas participativas. Além do currículo regular, com os conteúdos estabelecidos pelos parâmetros curriculares do estado da Geórgia, os alunos podem estudar teatro, compor a banda ou participar da orquestra sinfônica da escola. Todas com salas especiais, muitíssimo bem equipadas...
Em algumas disciplinas as provas são feitas por controle remoto(!)... A professora coloca a questão na tela e os alunos respondem objetivamente com controles remotos ligados diretamente ao computador da docente... 
Estava tentando isentar a narrativa de minhas opiniões mas aqui peço licença ao leitor: Choquei-me com as provas por controle remoto... Não são diferentes das objetivas feitas no papel, também pobres e desumanas, estas apenas são um desenvolvimento de um equívoco pedagógico... Notei também que pelas paredes da escola existem gráficos comparando os desempenhos de notas da escola com o de outras escolas públicas da proximidade, acreditam os gestores que este tipo de competição é um estímulo ao estudo...
Alunos portadores de dificuldades motoras recebem gratuitamente o serviço de um(a) helper, este fica a sua disposição para todas as tarefas de seus fazeres escolares. Outros, portadores de doenças mentais severas, têm uma classe especial, onde a turma não passa de cinco alunos e cada um tem o seu professor-tutor, especializado em educação especial, muitos com doutorado na área.
Os docentes regulares contam com um assistente em sala de aula, onde as turmas nunca passam de 25. Por ser uma Middle School a faixa etária dos alunos varia entre 11 e 15 anos. Seria, em nossos padrões, uma escola de Ensino Fundamental 2, compreendendo 6º ano ao 9º ano. As séries ficam localizadas uma por andar, cada um com uma secretaria e um coordenador. Os alunos de séries diferentes não convivem (pelos menos não devem conviver) entre si... Museu da Natureza aqui não daria certo...
A instituição conta com 8 laboratórios de informática de última geração, estádio poliesportivo climatizado, sala de robótica e tecnologia com telões pelos quais os alunos comunicam-se, por teleconferências, ao vivo, diretamente com cientistas do Georgia Tech e astronautas da NASA...
Ao término da visita, encantado com toda infraestrutura, organização e conforto da escola fiz a pergunta que contorcia-se em meu interior parecendo um íncubo: Como ensinam e abordam Evolução e darwinismo? Para minha (não tão grande) surpresa ouvi o que não queria: “não ensina-se evolução aqui. É proibido por ‘lei’.” Entre aspas porque a lei são alguns (muitos) pais que pediriam a cabeça do professor de Biologia (sempre eles) em uma bandeja caso tratassem a fundo de assunto tão subversivo... Aqui darwinismo ainda é tabu, e dos brabos... Tal como sexo. (Como assim??) Aí sim surpreendi-me: Não se pode falar sobre sexo e sexualidade em sala de aula. Educação sexual nem pensar!
Fiquei eu pensando... Minhas escolas podem não ser climatizadas e possuírem laboratórios high tech. Mas lá (acho que) tenho liberdade para ensinar o que deve ser ensinado. Ensinar Ciência de verdade, mesmo que não tenha linha direta com a NASA... Neste momento esvaiu-se toda minha alva inveja, quando vi que os problemas existem aqui também, mas com outras faces... Enquanto isso, no Brasil, continuarei falando em Darwin, em sexo e aguardando, finório, o verdugo e o garçom...
Agradeço à Dra. Donna Power, grande educadora, por sua excelente e calorosa acolhida e à parabenizo por seu notável trabalho e dedicação em melhorar e humanizar a Educação nos EUA.
Também sou grato ao meu querido amigo e mestre Chassot, pelo honroso convite de escrever neste espaço de sua sagrada reflexão diária. A ele só posso dizer: “Vermeer professor!”

6 comentários:

  1. Limerique

    Era uma escola tipo paraíso
    Contudo é bom alvitre um aviso
    Cultua obscurantismo
    Um tal de criacionismo
    Nas instalações de branco piso.

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  2. Realmente não sei qual mal maior, deparar-se com a notícia de que nosso governo irá gastar R$ 600.000,00 com a reforma de cada apartamento em Brasília destinado a políticos, verba esta que certamente traría mais tecnologia as nossas salas de aula, ou constatar no excelente relato acima a verdadeira caverna high tech descrita pelo professor Guy.

    Abraços

    Antonio jorge

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  3. Avanços são necessários sempre!! Ainda mais dentro da educação.
    A inveja que tive ao reler o texto (por mais de uma vez) foi com relação a disciplina (que hj passou a ser a grande problemática nas escolas brasileiras). Precisamos pensar em algo aqui enquanto ainda estamos vivos....
    Por outro lado, penso que será complicado avançar e quebrar esses paradigmas nas escolas americanas... mas vejo que isso é possível, pois será uma mudança para melhor.

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  4. Limerique

    Escola de primeira, preste atenção
    Mas no currículo também superstição
    Afinal o que é ciência?
    Para nós, só uma crença
    Mantemos as crianças na escuridão.

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  5. Precioso relato Professor Guy.
    Gostaria apenas de saber que importância é dada à participação da família para o progresso dos estudos dos alunos. Existe tal necessidade como a que existe aqui no Brasil?

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    1. Sim, os pais são chamados à escola sempre que necessário. De acordo com a PISC os pais latinos são pouquíssimo participativos. Os pais afro-americanos são participativos e muito preocupados e os asiáticos são muito compreensivos e corteses. Os pais são sempre informados se os alunos estão na escola, se faltaram imediatamente os pais são avisados, se têm desempenhos ruins ou mau comportamento também são contactados. Enfim, pela minha observação poderia dizer que consideram pivotal a participação da família. Como disse, há um setor dedicado somente à isto, justamente aquele no qual atua minha anfitriã da visita.

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