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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

07.- NO RAPE ***2013***NÃO AO ESTUPRO



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2350
Mesmo sendo hoje a primeira segunda-feira de 2013, parece que já vamos nos acostumando com o ritmo do novo ano. Agora, o ano já nem parece tão novo, tanto que nele já fizemos.
Ações em busca da eliminação (ou pelo menos: diminuição) de preconceitos marcados pelas questões de gênero são muito presentes neste blogue. Certamente acompanhamos revoltados a situação na Índia, relacionada com estupros, presente nos noticiários dos últimos dias. Merece destaque a campanha “NÃO AO ESTUPRO***2013*** NO RAPE.
A Folha de S. Paulo publicou neste domingo, na P. A 17, um depoimento da jornalista Florência Costa, que viveu durante seis anos na Índia e é autora de "Os Indianos" (Contexto, 2012). Ela narra que naquele país o pôr do sol é toque de recolher das mulheres. Ela mostra que regras para evitar estupro incluem não usar roupa chamativa e chegar cedo em casa. Pela oportunidade e lucidez, ofereço a meus leitores a íntegra do depoimento.
O país que deu ao mundo o primeiro manual sexual, o Kamasutra, e que reverencia a energia feminina — a deusa Shakti — vive hoje uma revolução de costumes. Duas Índias — a nova e a antiga— se chocam diariamente.
Nos últimos dias, o mundo tem visto esse embate, com protestos gigantescos após o estupro coletivo dentro de um ônibus e a tortura que resultou na morte de uma jovem de 23 anos em Nova Déli.
A mulher indiana está no olho do furacão dessa disputa em uma das sociedades mais patriarcais do mundo. Há quase meio século, a Índia recebia a sua primeira governante mulher: Indira Gandhi assumiu o cargo de primeira-ministra em 1966. Mas isso não impediu as mulheres de continuarem sendo cerceadas. Até hoje elas lutam para ter o mesmo direito ao espaço público que os homens tem.
Voltar para casa antes do anoitecer é um mantra ouvido por milhões de indianas todos os dias. O pôr do sol é o primeiro aviso desse "toque de recolher". Se a mulher não obedecer e acontecer algo, ela pediu. A culpa é sempre da mulher. Nunca do homem.
As grandes empresas indianas que queiram ter funcionárias mulheres devem abrir os cofres. A lei obriga as empresas a colocar um carro com motorista a disposição das funcionárias após as 22h.
Nos seis anos em que vivi na Índia -de 2006 a 2012-, cansei de ler nos jornais notícias dessas agressões, em geral, estupro em gangue, como chamam os indianos.
Eu mesma, e muitas outras estrangeiras que conheci por lá, tomava cuidados especiais para evitar o assédio: evitava roupas chamativas e não andar de noite sozinha, pelo menos em Déli, onde o problema é mais grave. Na avalanche de comentários sobre o estupro no ônibus, muitos se perguntavam por que ela andava na rua de noite.
Há poucos meses, um político chegou a culpar o macarrão chinês cada vez mais consumido no país por aumentar a libido dos indianos.
O irônico é que mesmo na Índia moderna todos os tipos de violência contra a mulher permanecem latentes. Segundo o Departamento Nacional de Crimes, ligado ao governo, houve um aumento de 7% em crimes contra a mulher entre 2010 e 2011. Alguns casos mobilizaram a opinião pública. Em 2008, jornais e televisões estampavam que em Mumbai duas garotas foram atacadas e assediadas sexualmente por uma multidão em numa festa de Réveillon na rua.
Há alguns meses, a maior democracia do mundo parou para debater o caso de humilhação pública de uma moça que cometeu o erro de curtir uma noite em um bar.
Ela foi arrastada pelos cabelos e humilhada por 18 homens durante 45 minutos na frente de uma câmera de televisão em uma cidade no nordeste da Índia.
Enquanto rasgava a sua roupa, a gangue masculina sorria para a lente do cinegrafista com orgulho.
O grande nó da questão é a apatia da Justiça e do governo nos casos de violência contra a mulher. Os homens não temem a polícia -que costumam acusar as mulheres sempre que acontece algo. Em uma sociedade patriarcal, meninos valem mais do que meninas. Mães se legitimam dentro de suas famílias ao darem à luz um menino e caem em desgraça quando nasce uma menina.
Que bom que dessa vez os indianos -muitos homens entre eles- foram às ruas protestar. Não foi um protesto só contra o estupro, mas contra a aceitação sutil da punição a mulheres que "ousam" ignorar "o toque de recolher" não oficial. Enquanto os conservadores culpam a influência ocidental por tudo de ruim que acontece com as mulheres, a nova Índia grita cada vez mais alto.

4 comentários:

  1. Caro Attico,

    é condenável que ainda vivenciemos um mundo em que a vítima é tida como culpada por "incitar" as ações criminosas e hostis à vida e à dignidade pessoal.

    A Avaaz organiza uma campanha sobre o caso. Todos podem colaborar assinando o manifesto disponível em:

    http://www.avaaz.org/po/end_indias_war_on_women/?slideshow

    Grande abraço,

    PAULO MARCELO

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  2. Apesar de toda e qualquer manifestação para dirimir este problema seja válida, na maioria das vezes as palavras estão apenas na boca, muito longe do coração. O preconceito contra a mulher tem a idade da humanidade. Mesmo em sociedades tidas como liberais, como a nossa, o homem namorador é o "garanhão", a mulher namoradora é a "vadia". E por aí vão se descortinando situações várias que não caberiam em uma "Barsa".

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Limerique

    Na Índia as filhas de Vênus não têm vez
    Em geral, são vítimas da estupidez
    Não podem sair sozinhas
    Porque mentes mesquinhas
    As veem como presas fáceis da cupidez.

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  4. Querido Chassot,

    não sabia desta calamidade. Estou chocado... Mas o que mais incomoda é pensar que a solução não parece estar perto
    de aparecer... Estes traços culturais são difíceis de serem erradicados, ainda mais na Índia... É um meme que, pelo visto,
    se reproduz facilmente e possui grande estabilidade...

    Abraços horrorizados,
    Guy

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