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sábado, 22 de janeiro de 2011

22.- Roger Casement: um herói injustiçado

Porto Alegre * Ano 5 # 1633

Madrugada chuviscosa de mais um sábado para a usual dica de leitura. Vivo um período de hemi-férias. Não vivo férias totais, pois estou na finalização do livro que escrevo para celebrar meus 50 anos de professor, no dia 13MAR2010. Isto para mim dá um sabor especial às férias.

Terminei nesta quinta-feira El Sueño del Celta. O livro foi lançado em 3 de novembro de 2010, em Madrid, quando Mario Vargas Llosa recém tinha sido anunciado como laureado com o Prêmio Nobel de Literatura de 2010; comprei o meu exemplar recém impresso no Uruguai, em 14 de novembro em Buenos Aires, com uma cinta que anunciava ser 'la nueva novela del premio Nobel de Literatura 2010. O livro é inédito no Brasil. A Editora Objetiva anunciou que lançará, em junho deste ano ‘O Sonho do Celta’ no seu selo Alfaguara. O leitor brasileiro que não quiser aguardar até junho e nem se aventurar na leitura original – um pouco dificultada por muitos regionalismos, especialmente na parte que tem como cenário a Amazônia peruana, pode optar pela edição portuguesa [Lisboa: Quetzal Editores, disponível para venda em vários sítios internéticos, a começar pelo da própria editora http://quetzal.blogs.sapo.pt/. Um comentário lateral: pesquisar livros no Google pelo ISBN é uma excelente alternativa, dispensando colocar os divisores –pais-editora-obra-controle. Experimente, por exemplo, colocar ISBN 8574311863.

Assim, a dica de leitura é o último livro de Vargas Llosa. Como é usual capa e ficha bibliográfica hoje com os dados das edições espanhola e portuguesa, algo do autor e uma sinopse crítica do livro.


El sueño del celta. VARGAS LlOSA, Mario.

Buenos Aires: Alfaguara, 2010, 464 p. ISBN 978-987-04-1644-9. US$ 19,99 / no Brasil R$ 59,00

O Sonho do Celta.VARGAS LLOSSA, Mario. Lisboa: Quetzal. Coleção Américas. 2010, 450 p. ISNB 978-972-564-0. 18,95

Mario Vargas Llosa é autor muito próximo dos latino-americanos. Ainda na mesma semana em que foi anunciado como o Nobel de Literatura 2010 esteve em Porto Alegre e foi assunto neste blogue. Nasceu em 1936, em Arequipa, no Peru. Professor universitário, acadêmico e político, é uma personalidade intelectual de grande vulto e um dos mais importantes escritores da América Latina. Da sua vasta obra destacam-se “A Cidade e os Cães” (Prêmio Biblioteca Breve, 1962; Prêmio da

Crítica Espanhola, 1963), A Casa Verde (1967 – Prêmio Nacional do Romance do Peru, Prêmio da Crítica Espanhola, Prêmio Rómulo Gallegos), Conversa na Catedral (1969), Pantaleão e as Visitadoras (1973), A Tia Júlia e o Escrevedor (1977), A Guerra do Fim do Mundo (1981; Prêmio Ritz-Hemingway – 1985), História de Mayta (1984), Quem Matou Palomino Molero? (1986), O Falador (1987), Elogio da Madrasta (1988), Lituma dos Andes (Prêmio Planeta, 1993), Como Peixe na Água (1993), Os Cadernos de Dom Rigoberto (1997), Cartas a Um Jovem Romancista (1997), A Festa do Chibo (2000) e Travessuras da Menina Má (2006). Foi galardoado com muitos dos mais destacados Prêmios literários internacionais, entre eles, além do Nobel, “…pela sua cartografia das estruturas de poder e das imagens da resistência, revolta e derrota individuais" que aparece recebendo na foto, o Prêmio PEN/Nabokov, o Prêmio Cervantes, o Prêmio Príncipe das Astúrias e o Prêmio Grinzane Cavour.

Se fosse discutível o mérito da outorga do galardão máximo da literatura a Vargas Llosa, por esse livro – publicado depois da láurea – estaria justificado. É uma obra de uma crueza impressionante.

El sueño del Celta é uma biografia romanceada – talvez, mais um ensaio – de Roger Casement, um dos heróis do nacionalismo irlandês e um dos protagonistas da independência da Irlanda, nas duas primeiras décadas do século 20, sob o jugo britânico.

Roger Casement – cônsul inglês, entre outros países, no Brasil em Santos (foi onde escreveu o poema “El Sueño del Celta”, sobre o passado épico de uma Irlanda independente; p. 145) e no Rio de Janeiro (quando viveu em Petrópolis) e esteve várias vezes em Belém e Manaus – foi pioneiro dos direitos humanos, denunciou, com veemência e pondo sua vida em risco, as condições escravagistas com que eram tratados os indígenas empregados pelas grandes companhias exploradoras da borracha, primeiro no Congo, onde viveu mais de 20 anos e afrontou o poder e a popularidade de rei da Bélgica Leopoldo II – um dos mais hediondos criminosos da humanidade –, e depois na Amazônia peruana, onde esteve várias vezes, como diplomata britânico, investigando e denunciando firmas inglesas exploradoras da borracha que mutilavam indígenas. Estes trabalhos valeram-lhe o título de Sir outorgado pela coroa britânica.

Devo dizer que não me recordo de ter lido, em toda minha história, um livro que contenha relato de tantas atrocidades como estas que são trazidas, documentadas, como as ocorridas no Congo e na Amazônia peruana. Os castigos corporais (decepar pé, mão, orelhas, vazar olhos, violentar mulheres e meninas...) têm uma mesma causa na África e na América: os nativos não conseguem cumprir as altas cotas de borracha que precisam trazer quando se embrenham na floresta em busca de seringueiras. Não se encontrava homem, mulher ou criança que não tivesse pelo menos marcas do chicote e não eram poucos os que tinham ferreteado, a fogo, no rosto ou na coxa as iniciais das empresas proprietárias. Repito nunca consegui imaginar que humanos pudessem ser tão perversos e premiados pelos feitores pelos mais elaborados requintes de crueldade.

Roger Casement, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18) envolveu-se com a Alemanha no sentido de coordenar um ataque simultâneo a Inglaterra, na sequência da revolta da Páscoa, em Dublin, o que lhe valeu uma acusação de traição. Foi preso, em 21 de abril de 1916, quando desembarcava de um submarino alemão nas costas da Irlanda, julgado, e executado através de enforcamento na cadeia londrina de Pentonville, em 2 de agosto do mesmo ano. A sua condição de homossexual, e o fato de anotar todos os seus encontros sexuais em um diário que foi encontrado, e usado, pelos ingleses, acrescentou infâmia à injúria, e Roger Casement, apesar de ter morrido em 1916, apenas nos anos 60 viu o seu nome reabilitado como herói do nacionalismo irlandês.

Um comentário a cerca do livro no sítio português innersmile.livejournal refere com propriedade como Vargas Lllosa “trata com sentido e bom gosto a questão da homossexualidade, sem a escamotear e sem a demonizar. A propósito deste aspecto vale a pena referir que um dos pontos mais controvertidos acerca da biografia de Casement tem a ver com a autenticidade dos chamados 'black diaries', precisamente o conjunto de diários em que Roger Casement apontava os seus encontros sexuais, com a mesma secura de linguagem que usava nos 'white diaries', os seus apontamentos sobre as campanhas humanitárias em que participou. A forma como as autoridades inglesas utilizaram o diário para enxovalhar o caráter de Casement e desencorajar as campanhas que foram feitas a favor da comutação da pena capital, levaram a que muitos defendessem que se tratava de um documento forjado. Apenas recentemente foi estabelecida a sua autenticidade, que Vargas Llosa aceita, mas defendendo que a maior parte dos relatos não passavam de fantasias: Casement escrevia, não sobre o que de facto tinha acontecido, mas sobre o que ele gostava que tivesse acontecido. É interessante, porque esta teoria de Llosa transformaria os diários numa espécie de literatura erótica avant la lettre”.

Penso que não poderia trazer uma melhor sugestão sabática. Vale ler ‘El sueño del Celta’. Um muito frutuoso sábado, embalando gostosos sonhos para o domingo que se avizinha. Até amanhã.

3 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    O senhor sempre trazendo dicas tão únicas!
    =]
    Adooooro ler[!!]e o senhor sempre nos traz dicas maravilhosas e, devo completar, que nos abre [ao menos a mim!] os olhos a várias visões de e do mundo.
    Um abençoado final de semana!

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  2. Thaiza muito querida,
    tuas visitações aqui aos fins de semana são preciosas. As imagino ‘roubadinhas’ do maternal convívio da Ellen.
    Essa dica sabática realmente é de abrir os olhos.
    Um afago prenhe de sonhos para que tu e os teus tenham o melhor fim de semana.
    attico chassot

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  3. Esse homen foi um exemplo pro todo mundo. coragem. lealade, conscienca e cheio de morais. um HOMEN de verdade sem medo de denunciar as injustiças contra humitarianismo mundial que eram do nível na epoca, francamente, anti-cristo. Sir roger era o guerreiro verdadeiro de sangue puro celto, seu immortal!!!........protestant comrade in arms loyal to ireland 32 country cause

    roger you are the darling martyr of ireland and even though the IRB abandoned you you did not die in vain most of (unfortunately not all yet) your ancestors live in a free ireland free from oppression from the germanic saxon barbarian. may you forever rest in peace.

    Tiocfaidh ar la agus go raibh na h-eireann go brath. Love to all From a kerryman irish patriot

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