ANO
9 |
EDIÇÃO
3029
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Esta é uma edição duplamente histórica.
Nestes quase nove anos, depois de ter postado este blogue em dezenas de cidades
do Brasil e do exterior, pela primeira vez uma edição circula desde a cidade de
Rio Branco. Adito a esta excepcionalidade: estar na capital do Acre me confere
outro feito. Completa-se a minha presença, enquanto professor, nas 27 unidades
federativas do Brasil (26 Estados mais o Distrito Federal).
Minha presença na capital do Estado
brasileiro mais a oeste já estava programada há algum tempo. Situações de
agenda fizeram postergar o estar aqui. Quando, no ano passado, estive a
primeira vez em Macapá ficou faltando apenas o Acre.
Há histórias fabulosas acerca do Acre e
dos acrianos. Aqui não vou entrar nas disputas se o gentílico é acreano ou acriano. Se na nossa história mais
recente temos aqui um ícone: Chico Mendes, talvez valha narrar algo que muitos
desconhecem: Acre já foi um país independente. Mesmo tendo sido uma república, teve um
Imperador.
A República
do Acre (nome oficial: Estado Independente do Acre) foi um Estado nacional
de breve duração (1899-1903), situado no território ocupado pelo atual estado
brasileiro do Acre. Foi proclamado por três vezes diferentes; a primeira deu-se
em 14 de julho de 1899, pelo espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias (o
Imperador Gálvez)*, e contou com o apoio vizinho do governo estadual do
Amazonas; este tinha como sua capital Puerto Alonso, rebatizada de Cidade do
Acre (atual Porto Acre).
A segunda República do Acre foi
proclamada em novembro de 1900, por brasileiros, tendo Rodrigo de Carvalho
assumido o cargo de presidente. Um mês depois, em 24 de dezembro de 1900, os
brasileiros foram derrotados pelos militares bolivianos, que dissolveram a República.
A terceira República foi proclamada durante a Revolução Acriana, por José
Plácido de Castro, em 24 de janeiro de 1903. O fim permanente do Estado deu-se
com o Tratado de Petrópolis, em 17 de novembro de 1903, que legitimou a posse
brasileira sobre o Acre.
* Luis Gálvez Rodríguez de Arias (San Fernando, 1864 — Madrid,
1935) foi um jornalista, diplomata e aventureiro espanhol (muitas vezes
erroneamente apontado como boliviano) que proclamou a República do Acre em
1899. Governou o Acre entre 14 de julho de 1899 e 1 de janeiro de 1900 pela
primeira vez, e entre 30 de janeiro e 15 de março de 1900, pela segunda e
última vez.
Gálvez estudou ciências jurídicas e
sociais na Universidade de Sevilha e depois trabalhou no serviço diplomático espanhol
em Roma e Buenos Aires. Migrou para a América do Sul para procurar o Eldorado
da Amazônia, em 1897. Em Belém do Pará foi jornalista no Correio do Pará. Em
Manaus, escreveu para o jornal Commercio do Amazonas.
Gálvez lidera uma rebelião no Acre, com
seringueiros e veteranos da guerra de Cuba, no dia 14 de julho de 1899,
propositadamente a data do aniversário de cento e dez anos da Queda da
Bastilha. Fundou a República Independente do Acre, justificando que “não podendo
ser brasileiros, os seringueiros acreanos não aceitavam tornar-se bolivianos”.
Implantou o governo do país, que os Estados Unidos classificaram como um país
da borracha.
Chamado Imperador do Acre, assumiu o
cargo provisório de presidente, instituiu as Armas da República, a atual
bandeira, organizou ministérios, criou escolas, hospitais, um exército, corpo
de bombeiros, exerceu funções de juiz, emitiu selos postais e idealizou um país
moderno para aquela época, com preocupações sociais, de meio ambiente e
urbanísticas. Também baixou decretos e envia comunicados a todos os países da
Europa, além de designar representantes diplomáticos.
Um golpe de Estado em seu governo com
apenas seis meses de existência o retirou do cargo, sendo substituído pelo
seringalista cearense Antônio de Sousa Braga, que um mês depois devolveu o
poder a Gálvez.
O Tratado de Ayacucho, assinado em 1867
entre o Brasil e a Bolívia reconhecia o Acre como possessão boliviana. Por
isso, o Brasil despachou uma expedição militar composta por quatro navios de
guerra e outro conduzindo tropas de infantaria para prender Luis Gálvez,
destituir a República do Acre e devolver a região aos domínios da Bolívia. No
dia 11 de março de 1900, Luis Gálvez rendeu-se à força-tarefa da marinha de
guerra do Brasil, na sede do seringal Caquetá, às margens do rio Acre, para
depois ser exilado em Recife, Pernambuco. Mais tarde foi deportado para a
Europa.
Gálvez ainda retornou ao Brasil, anos
depois, mas o governo do Amazonas o prendeu e o recambiou para o Forte de São
Joaquim do Rio Branco, hoje estado de Roraima, de onde fugiria tempos depois.
Morreu na Espanha.
Na edição de amanhã conto algo acerca de
minha estada aqui. Para hoje resta evocar os sonhos do Imperador Gálvez e
também lembrar Chico Mendes — com ações em favor do meio ambiente, que o
levaram ao martírio — um ícone para agora eu estar na capital do Acre a “Cidade
Verde” ou “Capital da Natureza.”
Mas o mais importante normalizador do Acre foi, sem dúvida, Plácido de Castro que era gaúcho.
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