ANO
9 |
EDIÇÃO
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Nesta pascoela (segunda-feira depois da
Páscoa e por extensão toda a semana) sempre me dá um pitéu de inveja daqueles (países
europeus...) que fazem dia festivo na segunda-feira depois da Pascoa. Lembro
que aprendi a sonora palavra pascoela
nas aulas de História do Brasil. Está na carta de Pero Vaz de Caminha: “Ao domingo de Pascoela pela manhã,
determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu”. Devia ser 26
de abril, pois antes há referido “E assim
seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas
de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando
da dita Ilha...”
Neste clima, ainda de celebrações, trago
uma versão pós-moderna da conhecida historieta na qual ‘a Cinderela conheceu um príncipe, casou e foi morar num palácio’.
Eis um emocionante relato trazido com a ajuda do www.ig.com.br/
Mariam Topeshashvili tinha quatro
anos quando precisou sair às pressas com os pais de Tbilisi, capital da
Geórgia, em meio a uma guerra civil que assolou a antiga república da União
Soviética na década de 90 e início dos anos 2000. Mariam e os pais seguiram
para a Turquia e, de lá, vieram para o Brasil como refugiados políticos.
Chegaram ao Rio de Janeiro sem saber
falar uma palavra em português e foram morar na comunidade Tabajaras#,
na Zona Sul. Mariam viu o pai, formado em ciência política e economia, ter o
diploma recusado no Brasil e ser obrigado a vender cerveja na praia de Copacabana,
tendo de se virar com o português. A mãe, enfermeira, levou dois anos para
conseguir um emprego como guia de turismo.
Mariam, por sua vez, estudou,
estudou, estudou, e na noite desta terça-feira (31) recebeu a notícia de sua
aprovação na renomada Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com bolsa
integral. Mariam
Topeshashvili, de 18 anos, veio ainda criança da Georgia para o Rio (Foto:
Gabriel Barreira/G1))
A jovem de 18 anos quer estudar
ciências políticas em Harvard. Mariam é apaixonada por assuntos relacionados à
política e economia, faz uma série de trabalhos voluntários e espera no futuro
exercer um papel importante na área humanitária.
Por ter chegado ao Brasil com menos
de 5 anos de idade, Mariam conseguiu naturalizar-se brasileira. Além de falar
um português perfeito, com legítimo sotaque carioca, Mariam domina ainda outros
cinco idiomas. Tudo graças aos pais, que lhe ensinaram a importância de
aprender e o amor pela leitura.
A estudante lamenta não poder dividir
esta conquista com seu pai, Avitandil, que morreu de câncer em 2008. "A
gente tinha acabado de conseguir uma situação financeira estável", explica
Mariam.
Ela conta que a família foi muito
bem recebida na comunidade Tabajaras, em 2001. A família teve o apoio inicial
do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) para deixar a
Geórgia e vir ao Brasil. Os moradores ensinaram os Topeshashvili como funciona
a burocracia e a sociedade brasileira e ajudaram o pai a se tornar um vendedor
ambulante.
“A gente recebia uma pequena ajuda
da ONU, mas meus pais precisavam se virar porque os diplomas deles não foram
aceitos aqui. Meu pai fez muito sacrifício para que eu pudesse estudar. Meu pai
deixou de fazer o que ele gosta para investir nos meus estudos. Foi ele quem me
ensinou tudo o que eu sei de política", orgulha-se Mariam.
Ela estudou no Colégio Pedro II, uma
escola pública federal de prestígio no Rio. Participou de olimpíadas de
matemática, química e história. No ensino médio, criou o projeto SER
Voluntário, com três amigas, para fazer a ponte entre jovens que, como ela,
querem fazer trabalhos sociais, mas não sabem como começar, e as instituições
que precisam dessa ajuda.
"Faço leitura de livros para
deficientes visuais. Aprendi também com meu pai, que adorava ler para
mim", conta.
No ano passado, Mariam foi uma das
estudantes escolhidas no projeto Jovens Embaixadores, do governo dos Estados
Unidos. Viajou para a América do Norte, visitou universidades e foi até a
Finlândia.
A jovem ganhou o auxílio da Fundação
Estudar e da EducationUSA para fazer o "application", o formulário de
inscrição para concorrer a vagas nas universidades estadunidenses. Passou em
Yale (nos campus dos EUA e de Cingapura), Duke e mais duas universidades até
receber a resposta positiva de Harvard.
Mariam quer fazer da sua experiência
de vida uma ferramenta para ajudar outras pessoas que vierem a passar pelo que
ela e seus pais passaram. "Meu objetivo agora é, depois de me formar,
criar uma ONG para ajudar refugiados que chegam a um país", diz.
#A
favela da Ladeira dos Tabajaras é uma comunidade da zona sul do Rio de Janeiro,
com data de ocupação em 1926, que conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora
(UPP). Fica em Copacabana e têm cerca de 1200 moradores e quase 400 domicílios.
Sofreu com o tráfico de drogas e a atuação da facção criminosa Comando Vermelho
(CV) por quase 30 anos
A história dessa moça é uma das que dão fôlego à nossa esperança na Humanidade. Feliz Páscoa, 23 minutos atrasado, Mestre!
ResponderExcluirMuito querido amigo Juliano,
ResponderExcluirprimeiro não há atraso: estamos na Pascoela.
Mas o mais importante: a tua avaliação, por estares no Itamaraty se faz muito significativa. É muito bom renovarmos nossos credos na Humanidade em tempos conflituosos.
Com continuados agradecimentos
Caro professor Chassot, bom dia!
ExcluirMe chamo Mauro, sou professor de quimica no Rio de Janeiro, e com frequência sigo seu blog. Ja tive a oportunidade de assistir duas ou três palestras suas, e delas saí renovado!
E de alguma forma essa renovação chegou às minhas salas de aula no Colegio Pedro II. Em uma dessas salas esteve a jovem Mariam por dois anos consecutivos. Sagaz, alegre, olhos grandes e atentos que devoravam cada exemplo, cada tópico, cada palavra! Mas o que impressionava era sua obstinação por esse sonho agora realizado. Me lembro que conversamos inúmeras vezes sobre esse sonho, sobre alegrias e decepções. Fiquei imensamente feliz ao receber a noticia, e mais ainda agora ao vê-la estampada aqui! Realmente vale a pena continuar acreditando na Humanidade e na Educação como agente de transformação social!
um grande abraço!
Estimado colega Mauro,
Excluirnum intervalo das aulas desta manhã li comentário. Obrigado por partilhares aqui tua participação na história da Mariam. Aumentaste ainda mais as emoções do relato desta blogada.
Tua síntese é magnífica: “Realmente vale a pena continuar acreditando na Humanidade e na Educação como agente de transformação social!” Que bom que acreditamos que possamos colaborar com as Mariam que se fazem presente a cada dia em nossas histórias. Obrigado pela tua importante participação e orgulho-me em te saber leitor deste blogue e que já tenha contribuído no teu fazer Educação.
Querido mestre! Você sempre nos trazendo histórias de renovação! Além de cinderela,essa é também uma história de Páscoa, onde a passagem ganha ares atuais!!!
ResponderExcluirQuerida Cris Flor,
Excluirtua leitura é muito mais adequada que minha. O fabuloso ritual de passagem da Mariam é muito mais que uma história de cinderela. Ela atravessou muito mais que o Mar Vermelho;
Obrigado por partilhares experiências aqui,
Professor!
ResponderExcluirLi a história que publicou em seu blog e lerei hoje na disciplina de estágio com meus estudantes... é inspiradora. guardadas as proporções, é claro, sinto que reflete um pouco da minha própria história, de pais que tinham como única coisa a dar aos filhos o amor pelos estudos. E também se aproxima das histórias de muitos estudantes das licenciaturas noturnas, que seguem trabalhando o dia inteiro e estudando à noite em busca de mundos mais amplos!!!
Margarida Rosa
Uma pequena (?) prova de que quando se quer a realização de algo, se consegue, não sem certo esforço. Uma lição a ser ensinada a certo número de indivíduos que vivem sob inspiração do mundo das estrelas...globais, mesmo que locais.
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