ANO
9 |
EDIÇÃO
3041
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Já vivemos a terceira semana de um muito
envolvente mês de maio. Nesta semana tenho uma viagem, quase bate-volta à Aracaju.
Na Universidade Federal de Sergipe, no campus de São Cristóvão, participo,
nesta quinta, a convite da Profa. Dra. Sonia Meire Santos Azevedo de Jesus da defesa
de doutorado de Jaqueline Neves Moreira que apresenta à banca a tese: O desenvolvimento do pensamento científico
nos cursos de licenciatura em Educação do Campo a partir do ensino de Ciências
da Natureza e Matemática da Universidade Federal de Sergipe: um estudo de caso
(2008 a 2012). Na quarta, para aproveitar a viagem, falo nos Programas de
Pós-graduação em Educação e no de Ensino de Ciências e Matemática da UFSE.
Hoje, faço um relato preliminar de atividades
que estou desenvolvendo na UAM - Universidade do Adulto Maior, que pretende com
a mirada de cinco gerações para
diferentes construtos culturais ver nossa história. Em diferentes sessões, em
segundas-feiras consecutivas, se está contemplando um dos seguintes construtos:
a) castigos físicos a filhos; b) valorização da virgindade; c) cuidados com a
contracepção; d) trabalho da mulher fora do lar; e) acesso da mulher à
universidade; f) obediência à autoridade da igreja; g) (in)tolerância
religiosa.
Na aula do dia 11 de maio, fizemos
considerações acerca do item: a) castigos
físicos a filhos. As cinco gerações contempladas são: 3ª) a nossa, e nesta
o nós são os alunos da UAM e eu. Estes, cerca de 40 profissionais jubilados em
diferentes profissões, que cursam este semestre a disciplina Aspectos
antropológicos do desenvolvimento, têm idades que variam de 60 anos a mais de
90. Parece não ser usual um professor ouvir, em mais de uma oportunidade, justificativas
como esta ‘não estive na aula passada, pois tive que ficar com meu bisneto’.
Assim esta geração vive num período que pode ser datado como de 1920 a 2015.
Nós, porque eu, com 75 anos, nela me incluo.
As gerações predecessoras e sucessoras
são: 2ª) de nossos pais, para a qual calculamos um período que compreende aproximadamente
1900 a 2000. 1ª) de nossos avós pode ser pensada num período que vai de 1850 a
1950. A 4ª) geração de nossos filhos, que no grupo envolvido na análise começou
no entorno dos anos 1950. A 5ª) é aquela de nossos netos, que para o grupo
começa no entorno de 1980. Assim nossas olhadas, talvez se possa considerar que
se estendam por um período de cerca de 170 anos.
Partimos da hipótese de que em termos geracionais
mais amplos, quaisquer dos construtos (ou dimensões observáveis no nosso estar
em sociedade) que considerarmos, as (dis)semelhanças tenham este provável desenho:
1ªG = 2ªG ≠ 3ªG ≠ 4ªG = 5ªG.
A primeira questão poderia ser: Será que
as gerações que nos antecederam (pais, avós, bisavós...) e as que nos
sucedem/sucederão (filhos, netos, bisnetos...) não se sentiram/sentem/sentirão
como nós uma geração sanduiche. Como se
visualiza na hipótese acima.
Isto é, somos aquela ‘distinguida geração’
que viu acontecer as grandes mudanças comportamentais (ou de costumes) e as
mudanças tecnológicas?
Parece que se pode afirmar que tanto em
termos comportamentais e tecnológicos a grande marca da virada ocorre nos anos
sessenta/oitenta. Se quisermos estabelecer ícones para cada uma das dimensões,
poderíamos colocar a pílula anticoncepcional para um e a internet
para outro.
Anunciei um relato preliminar. Não é
difícil imaginar a riqueza dos relatos que foram evocados acerca de castigos físicos a filhos para um
período de 1,5 século. Não é fácil, todavia, sintetizá-los.
Houve os que foram peremptórios: nunca recebi castigo e nunca castiguei.
Houve alguns que evocaram singulares castigos, ainda lembrados, mesmo passados
setenta anos. Nestes há os que se sentiram merecedores de punições e outros que
ainda hoje protestam inocência ou se reconhecem vítimas de trapaças de irmãos. Houve,
mesmo entre os injustiçados, uma tentativa de mostrar a concessão de perdão ao
pai castigador. A mãe apareceu menos com executora do castigo. Em alguns
relatos a mãe sentenciava a pena, mas o pai era executor. Isso em relação aos
ancestrais.
Quantos aos sucessores parece consenso
que muitos usaram com os filhos, vez ou outra, (com destaque para a
excepcionalidade), a ‘palmada educativa’ mas que isto é algo muito raro (ou até
inexistente) de seus filhos com os seus netos, sendo que isso jamais ocorre de
avós para com os netos.
Esta breve síntese foi discutida com o grupo
na aula do dia 18 de maio. Houve algumas novas contribuições que estão presentes
na síntese acima. Preparamos a atividade do dia 25; houve a proposição de
olharmos d) trabalho da mulher fora do lar,
em um período de mais de 150 anos que temos nas memórias dos participantes.
Querido mestre!
ResponderExcluirA questão que levanta, sobre geração sanduíche, acho que é esta mesmo. Sempre seremos geração sanduíche, só que penso que as fatias dos pães vão ficando cada vez mais finas. A rapidez com a qual ocorrem mudanças importantes é impressionante! Não leva uma geração! Um bebê que nasça neste ano de 2015 possivelmente verá ocorrerem pelo menos cinco mudanças sociais e/ou tecnológicas significativas em nível micro, mais próximas de si, e em nível macro, que atinjam o mundo como um todo. A imagem do sanduíche não dá mais conta, mas não sei qual imagem daria. Talvez um caleidoscópio possa ilustrar o que penso. Minha professora de geografia em 1990 me marcou muito ao afirmar que, no futuro, os telefones teriam câmeras e uma pessoa no Japão poderia nos ver ao fazer uma chamada. Mas era um futuro tão distante! Tão impensável! E cá estamos nós, com skype, messenger etc... Claro, fazem 25 anos... Mas para mim, foi rápido. Me acostumei rápido. Não vi a mudança! E gira a lente, o caleidoscópio muda a imagem... Já sobre as mãos que giram as lentes, são as nossas próprias. Pra que tanta pressa, não é mesmo? Obrigada pelo post sempre tão instigante e pela oportunidade de parar e refletir! Com muito carinho!