ANO
9 |
EDIÇÃO
3036
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É usual, em entrevistas ou correlatos, a
pergunta: quais os seus hobbies ou passatempos!
respondo algo como: ler, resolver sodoku, desinçar jardim (¿que é mesmo inço em
um jardim?), mexer nos livros... e segue uma ladainha não muito convicta. Mas,
há algo que supera a tudo. Escrever.
Escrever para mim, de maneira geral, é deleitoso. Seja no diário suporte papel
ou na escrita eletrônica. Já discuti aqui em outros tempos, o ‘por que escrevo!’ Curto a
escritoterapia.
Quem escreve quer ser lido. Mesmo meus diários,
espero que um dia haja alguma neta ou algum neto, que se deliciará com meus escrevinhares,
que se amealham em dúzias de volumes. Se estes vão, ainda, mofar até que alguém
os leia. Os escritos de blogues são de leituras quase imediata. Várias vezes
por dia olho, não apenas o gráfico ascendente de acessos, mas as cidades e os
países onde sou lido naquilo que recém escrevi. Os livros estão no intermezzo
entre leituras remotas (diários) e imediatas (blogues). Nos livros, há um
excelente indicador para determinar o índice de leitores: as sucessivas
reedições. E nisso há razões sobejas para se ter inveja dos ‘paulos coelhos’.
Eles têm reedições aos borbotões e com tiragens imensas.
Vibro, hoje, com algo muito mais modesto.
Enviei à Editora Unisinos uma proposta revisada e atualizada de
uma reedição de A Ciência é masculina? É,
sim senhora! Celebro, aqui e agora, o advento da sétima edição. Volto a
2003, quando transformei em livro uma primeira participação acerca de Ciência e gênero, em ciclo de debates do
Instituto Humanitas, da Unisinos, realizada então. Parece que a proposta daquele
estudo — olhar a produção da Ciência com discriminações comandadas pelo gênero
—, permanece igualmente válida (e ainda muito discriminada) nestes 12 anos.
Na
nova edição há revisões, atualizações e acréscimos. Estes ocorrem, em
diferentes capítulos, mas de maneira mais especial em Os Prêmios Nobel às mulheres. O capítulo Para saber mais tem dois novos verbetes acerca de duas mulheres que
foram cientistas em dimensões muito diferentes entre si e também em tempos
distantes dos dias atuais.
No prefácio de 2013 comentava: “Há ainda, pelo
menos, duas mazelas no Brasil em que as mulheres são extensamente
discriminadas: violência doméstica e salários. Se os três DNAs que examino
adiante podem explicar o machismo, é difícil aceitá-los como explicação quanto
à violência [...]. A violência doméstica contra mulher é tão significativa no
Brasil (e nisso não somos exceção) que há uma legislação especial. Conhecida
como Lei Maria da Penha, a Lei número 11.340 [...] de agosto de 2006”.
Em termos legais tivemos novos avanços. Neste ano foi sancionada a Lei
nº 13.104, de 9 de março de 2015, que altera o Código Penal, para prever o
feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio e incluir o
feminicídio no rol dos crimes hediondos. Esta lei é comentada na sétima edição.
Quanto à disparidade salarial entre homens e mulheres, trago, na nova reedição,
duras críticas recentes (29/ABR/2015) do papa Francisco ao discursar na
tradicional audiência geral no Vaticano "É um puro escândalo. Como
cristão, devemos ser cada vez mais exigentes com a defesa social [...] para
sustentar, por exemplo, o direito à retribuição igual pelo trabalho",
disse o líder da Igreja Católica.
Esta
nova edição prossegue, como foram as seis anteriores, sendo um recorte apenas de
leituras do mundo Ocidental. Este alerta é preciso, pois nós com nosso
centramento, continuamos, por diferentes razões sendo umbigocêntricos, não
negando o nosso forte DNA grego. O Oriente continua sendo, ainda, uma
inexpugnável invenção do Oriente. No verbete Mulheres na China, no Para saber
mais, se acena pistas, mas ainda muito vagas. Talvez quando soubermos
melhor explicar ‘porque no Oriente não houve (ou não precisou ter!) revolução
científica’ uma futura edição tenha mais convincentes explicações de nosso ainda
acerbado machismo também marcado por leituras aprendidas no budismo. A estas,
talvez consigamos acrescentar também as marcas do islamismo em nossa formação.
Outra dimensão nos recortes que fazem as análises, ainda, serem empobrecida
neste livro é ausência das muito importantes contribuições de matriz africana.
É estimulante marcar todas estas deficiências numa reedição para lançar pistas
para diálogos e definir estudos que poderão contribuir para ampliar futuras
edições.
Há
também constatações: os sonhados ‘novos tempos’ presente, de maneira especial
nas dedicatórias do livro, não acontecem com a rapidação esperada. O ponto de encontro do arco-íris com a terra
parece mais longe que imaginávamos.
Carissimo Chassot
ResponderExcluirSaudo a boa notícia da sétima edição do A CIENCIA É MASCULINA?. Não há dúvida da tua expertise no escrevinhar, a saber o conteúdo deste anúncio que hoje fazes na edição do Blog, muito bem postada e com um linguajar que me faz revisar meus escritos. Que venham outras edições e outras criações, para que nós, aprendizes da ciencia possamos nos deleitar com elas. Grande abraço, un saludo e congratulações. Do JB.....