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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

25.- SOU AMERICANO, MAS NÃO ESTADUNIDENSE.




Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2276
Nesses dias — de maneira continuada — somos lembrados de eleições. Não aquelas que ocorrem no próximo domingo, em algumas cidades brasileiras, onde há segundo turno. Estão mais na vitrine — pela sua indiscutível importância — aquelas do próximo dia 6 de novembro, ditas como ‘a eleição americana’. Se, americanas porque só nos é permitido torcer nelas e não votar? Somos também americanos.
Aliás, torcida — nada mais que um pensamento mágico [¿o que muda com o meu torcer?] — com sabor de decepção, quando vejo que o ‘meu candidato’ (que até ganhou o Nobel da Paz) tem como um dos seus principais trunfos ter caçado e morto Bin Laden.
Mas desejo, retomar algo acerca de que já escrevi algumas vezes. A imprensa brasileira e mesmo de outros países latinos emprega o vocábulo (tanto substantivo como adjetivo) americano, para indicar nascido nos Estados Unidos, ou algo desse país. Por doutrinação (ou assimilação) este uso ocorre mesmo entre a maioria dos falantes, mesmo aqueles que são críticos, logo atentos com suas falas, mesmo que qualquer bom dicionário da língua portuguesa registre estadunidense.
O Aurélio define corretamente, mas remete a norte-americano (que diz ser nascido nos Estados Unidos, excluindo aqui os mexicanos há muito vítimas de espoliações maiores por seus vizinhos, dos quais são separados uma por uma cerca eletrificada – e os canadenses).
O Houaiss mesmo que dicionarize corretamente estadunidense, coloca como sinônimo de americano ou norte-americanoeste dicionário que me lembra que os esquimós da Groenlândia e do Canadá são norte-americanos e eu acrescento que aqueles do Alasca – o maior e menos densamente povoado dos 50 estados –, também são americanos, ou mais precisamente norte-americanos, e também são estadunidenses, desde a boa compra do Alasca feita da Rússia, em 1867, por cerca de cinco centavos de dólar por hectare).
Assim, há também outro erro no referir-se aos estadunidenses como norte-americanos, ignorando que também canadenses e mexicanos são norte-americanos. Isso seria ‘natural’, se redigíssemos em inglês, pois sabemos que em língua inglesa não existe outro gentílico que americans para referir aos nascidos nos Estados Unidos. Há, para a mesma designação, a abreviatura amer e também a palavra yankee, aportuguesada como ianque.
Muito provavelmente, a grande maioria os leitores deste texto sejam americanos, mas quase nenhum estadunidense. Lateralmente vale dizer que em espanhol há o gentílico estadounidense (mas, os jornais espanhóis usam amiúde, americano e norte-americano; e, para distinguir: sudamericano). Em italiano, statunitense (ou nordamericano). Em francês, o mais corrente é américain; mesmo estando dicionarizado: étatsunien e étatsunisien, sendo que estes dois gentílicos não são quase usados. Em alemão: o mais usado é Amerikaner, Nordamerikaner (Südamerikaner, para fazer a distinção), todavia no idioma de Goethe há a forma US-Amerikaner para melhor caracterizar os nascidos nos EUA.
O uso do gentílico americano por estadunidense parece a tradução da prepotência desta nação, fazendo do gentílico continental algo de sua posse. É quase natural o desconhecimento na imprensa e pelo comum das pessoas do gentílico estadunidense. Afortunadamente eles não se apoderaram, ainda, do gentílico que nos é tão caro: latino-americano. Aliás, na xenofobia estadunidense, cada vez mais se dificulta a entrada de latino americanos no Estados Unidos.
Também esta é uma apropriação dos Estados Unidos é indébita. Sonhadoramente desejo que se deixe de usar americano e norte-americano como gentílico identificador de apenas um dos países do continente. Aliás, na África há outro país, que como os Estados Unidos da América se apropria do nome do continente. Os habitantes da minúscula Suazilândia não são também sul-africanos? E não é a mesma a situação dos nascidos em Lesoto, que estão encravados na África do Sul? E os moçambicanos não são também sul-africanos? Este país é usurpador não apenas do gentílico, mas faz do nome de uma região do continente algo exclusivo para denominar o seu país.
Perguntei, há quase 10 anos, em pesquisa empírica realizada entre universitários do curso de pedagogia, na disciplina de Metodologia de Ensino de Ciências, dias após o desastre com o Colúmbia, em 02/02/03, qual a nacionalidade dos astronautas que morreram no acidente com ônibus espacial dos Estados Unidos. Nenhum dos 45 estudantes de pedagogia referiu que houvesse estadunidenses entre os mortos. Fiz o mesmo levantamento com um grupo de mestrandos e doutorandos do Programa de Pós Graduação em Educação da UNISINOS e quando comentava com os mesmos o fato de nenhum ter referido norte-americano ou americano, foram unânimes em afirmar que isso fora resultado exclusivo de discussões que tiveram em seminários no Programa e que antes não conheciam a existência do etnônimo estadunidense.
Nossos vizinhos continentais são todos americanos, mas poderão ser argentinos, uruguaios, bolivianos, cubanos, barbadiano (não sei qual é etnônimo, por exemplo, de Trinidad e Tobago), brasileiros e até estadunidenses.
No meu laborar em utopias desejaria ver os gentílicos americano e norte-americano usados por quem de direito. Sejam eles estadunidenses, e nós brasileiros, sul-americanos, latino-americanos, americanos.

2 comentários:

  1. Uma curiosidade que vejo em nossa sociedade é em relação ao jeans. O uso deste tecido surgiu no camponês americano, ou melhor estadunidense, lá o clima frio e o trabalhar em meio a vegetações e animais peçonhentos torna este grosso tecido ideal para tal. Agora como em nosso país tropical, dentro de nossas cidades esta idumentária fez tanto sucesso? Da mesma forma que vejo uma juventude a cantarolar grunidos transmutados em canções de língua inglesa. Nada entendem, nada falam. Recentemente ouvi de uma professora universitária de nossa língua, que preferia os filmes legendados. Fiquei a pensar; como uma pessoa pode preferir ficar entre ler e assistir a um filme do que ouvi-lo no idioma que compreende?

    abraços

    Antonio Jorge

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  2. Caro Chassot,
    Esse é um assunto que há muito eu queria discutir, e acho que é chegada a hora. Independente de algum ranço xenófobo de tua parte, ou de suposta arrogância daquele povo que vive nos EUA, podemos lembrar algo e fazer analogia:
    Nome do Brasil: República Federativa do ‘Brasil’; gentílico de quem aqui nasce: ‘Brasileiro’.
    Nome dos EUA: Estados Unidos da ‘América’; gentílico de quem lá nasce: ‘Americano’.
    Outra observação: Se eles devem ser chamados de ‘estadosunidenses’, então nós deveríamos ser chamados de ‘eepublicafederativenses’, não é mesmo?
    Descobri em minha recente viagem ao México que o nome oficial daquele país é: Estados Unidos Mexicanos, vulgo México, e lá eles todos se denominam ‘mexicanos’ e não ‘estadosunidenses’.
    Sim, os americanos são arrogantes, mas não acho que eles queiram se apossar do gentílico de nós todos americanos. É só lembrar que “Gaucho” é todo aquele povo dado a lidas no campo que habita o Uruguai, parte do Paraguai, parte da Argentina, Oeste catarinense e oeste do Paraná, no entanto, vocês aí, “riograndenses”, se autodenominam gaúchos e nós não reclamamos.
    Abraços gauchescos, JAIR.

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