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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

20.—Uma sexta-feira no mundo islâmico

ANO
 11

FÉRIAS 07/24
EDIÇÃO
 3252

Estamos em uma sexta-feira no mundo islâmico. Parece caber uma menção na abertura desta edição, ao dia da semana que circula esse blogue, quando a marca maior do dia de ontem foi estar entre (lamento não ter sido: estar com) centena de mulheres, homens e crianças que por suas roupas se dizem muçulmanos.
As três religiões abraâmicas majoritárias no mundo Ocidental têm o dia de descanso, ou dia de maior dedicação a oração em diferentes dias da semana. Para aqueles de fé judaica, o dia de guarda é o sábado, marcado pelo relato da criação no livro gênesis do descanso do Criador no sétimo dia, após criar o mundo. Para os cristãos, relatos dos evangelistas referem a ressureição no domingo, e por tal a tradição consagra o domingo como dia festivo. Para os islâmicos o dia de oração é definido explicitamente no sagrado Alcorão na Surata 62 - Al Júmu'a - ' A Sexta-feira', ode se lê: 9 Ó fiéis, quando fordes convocados, para a Oração da Sexta-feira, recorrei à recordação de Deus e abandonai os vossos negócios; isso será preferível, se quereis saber. 10 Porém, uma vez observada a oração, dispersai-vos pela terra e procurai as graças de Deus, e mencionai muito Deus, para que prospereis.
Assim, as três religiões que tem no monoteísmo um distintivo se comparadas às demais religiões, entre si diferem no dia semanal de descanso. Esta prática que parece ser anterior aos relatos da Torá judaica quando se institui, talvez na Mesopotâmia o culto ao sol, que era entre os sete corpos celestes a quem são dedicados cada um dos sete dias da semana, o único que presidia o dia, logo em sua homenagem de descansava.
Nestes meus relatos Férias 2017, comento algo de nossa quinta-feira, que foi o nosso primeiro dia completo dos 15 que sonhamos fruir na Península Arábica. Contava ontem, o quanto estarmos em um dos países mais ricos do Planeta, é visível nas fantásticas torres que parecem pulular e merecem o adequado nome de ‘arranha céu’ ou ‘rasgacielos’ como dizem os espanhóis. Eles são tantos e tão modernos em estruturas externas nas quais parece predominar o vidro, que depois de um tempo parecem naturalizados como padrão construtivo. Aqui em Doha eles afloram em toda parte em meio a palmeiras e canteiros floridos. Isso parece dar um destaque maior a linda baía que define o vazio de prédios.
Assim, quando depois de uma imensa circulada pela Corniche — extensa e ampla avenida que emoldura a baía — chegamos ao Souq Waqif (mercado Waqif). Ali esquecemos que estávamos numa das cidades mais modernas do mundo. O Souq determina um súbito e radical retorno quase ao medievo. É realmente outro mundo. As duas fotos querem mostrar este contraste.
Este mundo tão diferente tem uma marca que a cidade moderna não tem: no souq vimos pessoas. Na moderna Doha não se vê pessoas. Os únicos movente são os modernos e caros automóveis.
No souq não tem carros e não tem edifícios. Tem gente. E era ver gente que nós queríamos. Assim surpreendam-se: o relato do nosso primeiro dia em Doha foi ver pessoas.
Almoçamos no souq em restaurante que entre nós poderíamos de qualificar de um boteco, mesmo que a comida simples tivesse o preço de restaurante de luxo. Ali nos assentamos por mais de uma hora para ver um número muito grande de pessoas, enquanto bebericávamos na caneca de chá que compráramos para o almoço.
Quem estava no souq? Vimos turistas, especialmente participantes de um cruzeiro, cujo navio passara o dia atracado na cidade. Estes interessaram pouco aos nossos estudos etnográficos.
Nos relatos até aqui trazidos destes primeiros dias de férias, falamos muito de museus. Ainda que para hoje tenhamos visitas ao Museu de Arte Islâmica e ao Museu Arábico de Arte Moderna, mas ontem, se me permite meu colega e amigo o museólogo Guy Barcellos dizer que estivemos em um museu etnográfico e lá vimos crianças e adultos que, por suas vestes, sabíamos ser muçulmanos. Dentre as mulheres vimos pelo menos uma dezena de modelos de véus para cobrir o rosto. Havia aquelas de quem nem os olhos se podia ver até aquelas nas quais se podia ver o cabelo emoldurar rostos bonitos. As roupas dos homens também mereceram nossa atenção, especialmente por muito envergarem roupagem semelhante a alvíssimos vestidos. À noite com o professor Google completamos a aula prática da tarde com estudos teóricos acerca da vestimenta islâmica.
E o que faziam esses islâmicos no Souq? Uns compravam desde temperos a joias de ouro. Mas a maioria parecia celebrar a chegada do fim de semana. Isso os fazia bailar, tocar músicas e cantar.
Agora, postado este blogue, vamos nós curtir uma sexta-feira muito especial. Para meus leitores votos de um até amanhã, então já sob égide trumpeana.

4 comentários:

  1. Ave, Magister.
    Obrigado pelo "Museólogo". Seria, talvez, mais um Museófilo. Mas aceito o galhardão. Sim, caro amigo, é - além de um etno-museu - um lócus de concentração de patrimônio imaterial.
    Imagino o quão contrastante seja perceber as (des)semelhanças nossas com os autóctones. Pena o blogue não poder transportar-nos as cores, aromas e texturas dos quais experimentas em tão distantes pagas.
    Aqui celebram os apedeutas o triunfo da inanidade e do granítico vazio desta época opaca e oca. Os miserandos seres pensantes sequer mais água têm para verter nesta inundação de intolerância e de estultícia generalizada.
    Salve-se quem puder.
    Abraços de quem já esteve mais animado com o mundo.

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    1. Meu querido Guy!
      Primeiro ratifico o museólogo. Talvez o adequado seria dizer: Guy, um museófilo museólogo.
      Obrigado pelo gostoso e sábio telefonema Atlanta Doha naquele dia que inadequadamente se chamou de ''Trump celebration'
      Saudades

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  2. Às vezes, quer-se ver gente. Noutras, as águas do mar. Nalgumas, a chuva ininterrupta, como acontece em Sorocaba/SP e ainda, assim como aqueles festejavam o final de semana, também aqui, a sexta-feira faz-se "sagrada". Mas, como todas outras tantas coisas, situações e decisões, somos nós, as criaturas falantes e inteligentes que construímos: das roupas às ideias, das crenças às esperanças, da irmandade que se alastra às doenças criadas. Enfim, regras, costumes e tradições, tudo, tudo, absolutamente tudo, criado e alimentado, nesta ou em qualquer parte do planeta. Então, que as crenças nos animem, como a "alma" faz com o corpo dormente. Amigo das andadas, Chassot, obrigado pelos relatos para muito além do mar. Élcio e Adriana.

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  3. Querida Dri e querido Élcio.
    Obrigado pelo diálogo Sorocaba > Mundo Islâmico.
    É muito bom sabê-los parceira nestas tentativas de nos entendermos num mundo diferente, Foi emocionante ver ontem a Gelsa vestida -- por uma exigência para entrar em uma Mesquita toda vestida como uma muçulmana ortodoxa.
    Há ainda muito a aprender.
    A admiração se espraia como as areias do desértico Qatar

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