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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

23.—Um dia muito esperado

ANO
 11

FÉRIAS 10/24
EDIÇÃO
 3255


Não é difícil justificar porque esta segunda-feira é o dia mais esperado desta viagem. Hoje começa o nosso sonhado cruzeiro. Não foi sem hesitação que incluímos esta modalidade de turismo em nossas férias.
Hoje iniciamos um cruzeiro de sete noite (ou oito dias) pelo Golfo Pérsico. A programação e o roteiro estão na figura ao lado.
Em 2002, quando estávamos em programa de Pós-doutorado na Universidade Complutense de Madri, fizemos um cruzeiro pelo rio Nilo, mas então em um barco pequeno. Foi naquela oportunidade uma muito rica experiência viajar por milênios muito distantes de nossa história e aprendermos acerca do desenvolvimento.
Neste final de tarde partiremos no Vision the seas, um navio — mesmo que considerado pequeno, dentre os da empresa de quem seremos usuários — tem 12 andares, 11 decks, 8 piscinas e 8 cafés ou lounges e restaurante de diferentes cozinhas internacionais. Neste quase inimaginável cenário  seremos dois dentre mais de 2 mil passageiros e 700 tripulantes.
Se não viveremos a lendária história das mil e uma noite criada na região onde estamos por ora, teremos sete noite que sonhamos serão quase paradisíacas. Todavia os sete principados que formam este país chamado Emirados Árabes Unidos, como Qatar de onde viemos ontem, não é apenas um lugar maravilhoso com seus prédios que realmente parecem aranhar os céus, seus carrões que parecem naves espaciais e seus shoppings luxuosíssimos com preços em mercadoria que parecem ser destinadas a bilionários.
Os sete emirados, dos quais Dubai e Abu Dabi são os mais importantes tem cerca de cinco milhões de habitantes. Deste — assim como no Qatar — menos de 20% são nascidos num ‘paraíso terreal’. A estes são cometidas todas as benesses de proteção à saúde, água em abundância e salários (e até abonos) privilegiados.
Os outros — sim, os outros — são expatriados indianos nepaleses, filipinos, bengalis, cingaleses, paquistaneses, entre muitas outras nacionalidades com submissão a trabalhos sub-humanos, como por exemplo trabalhar a temperaturas insalubres de mais de 50ºC, havendo proibição de divulgação de informações acerca da meteorologia para que não se cumpram a proteção aos operários. Há também situações de trabalhadores que ficam na dependência de seus empregadores que retêm seus vistos e muitas vezes não têm permissão de trocar de emprego. Não é sem razão que os índices de suicídios são elevados entre os estrangeiros e que o governo ditatorial proíbe divulgação destes números.
Aqui existe regimes de monarquias absolutistas, sem existência de partidos políticos e muito menos de movimentos populares. Nos Emirados Árabes Unidos, os emires, que se sucedem em clãs familiares, sabem o que bom para o povo.
Parece que estar aqui e viajar nesses dias no Vision the seas se compactua com a ditadura. Não vou usar a desculpa do não sabíamos. Espero que nos próximos dias possa contar um pouco da viagem. Não conheço como serão as possibilidades de internet no navio. Por hora apenas a notícia que estamos partindo para mares nunca antes navegados por nós e a promessa de postar, quando possível, alguma blogada.

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