Ano 5 | Porto Alegre | Edição 1792 |
Encerramos um mês, um semestre. Minha quinta-feira, assim queiram os deuses que cuidam dos voos neste inverno cinéreo, deve terminar em Niterói. Viajo no começo da tarde ao Rio de Janeiro, atravesso a baia da Guanabara, para às 18h30min fazer a fala de abertura no VII Seminário de Práticas Discentes, Pesquisa e Extensão na Formação do Professor onde ocorre a abertura solene da segunda fase do PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - da UFF, envolvendo 12 Licenciaturas diferentes. A atividade ocorre no auditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, em Niterói.
Encontrei uma saborosa crônica “Boas e más ideias” escrita por Ruy Castro e publicada na p. A-2 da Folha de S. Paulo 20 de junho. Antes de trazê-la, permito-me um preâmbulo, acerca de algo que sempre me faz interrogante: os códigos de barras.
Código de barras é uma representação gráfica de dados numéricos ou alfanuméricos. A decodificação (leitura) dos dados é realizada por um tipo de scanner - o leitor de código de barras -, que emite um raio vermelho que percorre todas as barras. Onde a barra for escura, a luz é absorvida; onde a barra for clara (espaços), a luz é refletida novamente para o leitor. Os dados capturados nessa leitura óptica são compreendidos pelo computador, que por sua vez converte-os em letras ou números humano-legíveis.
Às 8:01 da manhã de 7 de outubro de 1974, um cliente do supermercado Marsh's em Troy, no estado estadunidense de Ohio, fez a primeira compra de um produto com código de barras. Era um pacote com 10 chicletes Wrigley's Juicy Fruit Gum. Isso deu início a uma nova era na venda a varejo, acelerando as caixas e dando às companhias um método mais eficiente para o controle do estoque. O pacote de chiclete ganhou seu lugar na história e está atualmente em exibição no Smithsonian Institute's National Museum of American History. Aquela compra histórica foi o ponto de partida para quase 30 anos de pesquisa e desenvolvimento.
Nenhum de nós assim acredito sabe decodificar, um código de barra. Permito-me analogia. Vez ou outra, encontro pessoas que, na tentativa de desqualificar determinada civilização, dizem: “Mas, eles eram ágrafos!”. Respondo: “Talvez, não conhecessem a nossa escrita!” Os incas, ditos ágrafos por alguns, usavam os quipos ou quipus, algo comparável com os nossos códigos de barra que não sabemos decifrar.
Quipo (do quíchua cusquenho Quipu ou Khipu, AFI [Alfabeto Fonético
Internacional]: [ˈkʰipu], "nó") era um instrumento utilizado para comunicação, mas também como registro contábil e como registros mnemotécnicos entre os incas. Eram feitos da união de cordões que podiam ser coloridos ou não, e poderiam ter enfeites, como, por exemplo, ossos e penas, onde cada nó que se dava em cada cordão significava uma mensagem distinta. Cada cordão poderia ter um ou mais nós, ou nenhum nó, ou um nó na ponta, um nó na base, enfim, tudo era comunicado e transportado rapidamente ao imperador Inca no centro do império, Cuzco.
Os cordões eram feitos de lã de lhama ou alpaca, ou de algodão. A posição do nó, bem como a sua quantidade, indicavam valores numéricos segundo um sistema decimal. As cores do cordão, por sua vez, indicavam o item que estava sendo contado, sendo que para cada atividade (agricultura, exército, engenharia etc.) existia uma simbologia própria de cores.
Trazida a analogia, agora o artigo referida preambularmente.
“Boas e más ideias” Morreu outro dia, nos EUA, um homem chamado Alan Haberman, 81 anos. Não era famoso, mas tremendamente poderoso, e sua morte saiu em vários jornais. Foi o responsável, em 1974, pela implantação do código de barras, aquele retangulinho zebrado que, passado por um leitor ótico, indica o preço de qualquer coisa, de um cacho de bananas no hortifrúti a um exemplar de "Fenomenologia da Percepção", de Merleau-Ponty, na livraria, e a uma caçamba de entulho na loja de material pesado.
Não apenas isso, mas concentra informação sobre qualquer produto em que venha impresso. É infalível como identificação - não existem dois códigos de barra iguais. Não sei como as crianças já não nascem com um desses impresso no bumbum.
Mas Haberman não foi seu inventor. Apenas convenceu os americanos de que não podiam viver sem ele, e os americanos fizeram o mesmo com o mundo. Não importa - passou à história como o responsável por um dispositivo que, em seu próprio tempo, atingiu bilhões de pessoas, talvez toda a humanidade. Nem Cristo nem os Beatles puderam se gabar disso.
O código de barras, ou seu rascunho, foi bolado em 1948 por dois jovens inventores da Filadélfia, Norman Woodland e Bernard Silver. Já era uma extensão dos pontos e traços do Morse em linhas finas e grossas, só que circulares. Chegaram até a patenteá-lo. Mas ninguém se interessou, nem mesmo a IBM, para quem Woodland trabalhava. Com isso, venderam a ideia para a Philco, que a vendeu para a RCA, que não fez nada com ela, até que a patente expirou em 1969.
Em 1973, outro inventor, George Laurer, da própria IBM, retomou a ideia e adaptou-a para um sistema de barras verticais. Mostrou-a a Haberman, que enxergou o potencial da coisa, e o resto é história. Moral: se você inventar um código de barras, não o venda para ninguém.
E que agora venha julho, mas antes uma curtida quinta-feira como a melhor clausura junina. Lemo-nos, amanhã, desde Niterói, provavelmente.
Caro Chassot,
ResponderExcluiré melhor não "alertar os gansos", tem empresário hospitalar pensando em implantar chip de identificação nos bebês. Imagina como seria fácil contar uma multidão, num show, em uma passeata, na igreja etc.
Não resta dúvidas sobre os benefícios da leitura do código de barras, mas precisamos nos resguardar de alguns ditos "avanços" tecnológicos, que trazem embutidos no seu marketing, promessas de felicidade eterna. Já vi muita tecnologia azarar o ser humano. Como exemplo, a utilização da energia atômica indiscriminada.
Um abraço, e boa viagem!
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com
Meu caro colega Garin,
ResponderExcluirexcelente e oportuno alerta. Com um código de barra em cada um de nós teríamos mais uma ‘coleirinha’ a nos amarrar, Hoje o telefone celular – opção voluntária –já fazem um pouco isso.
Imagina com um código de barra compulsório.
Vejo que estes dois bloguistas são de madrugares.
Uma boa clausura junina
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirBlogada maiúscula, além de decifrar o código de barras para nós ainda deu uma pincelada na sua invenção. Mas, como as coisas evoluem, a Nokia desenvolveu e usa um modelo diferente, um quadrado cheio de quadradinhos, que são reconhecidos tanto por leitoras óticas como pelos celulares da marca. Esse sistema foi lançado a pouco menos de 3 anos e está sendo adotado por grandes indústrias dos EUA, ele pode armazenar milhões de vezes mais informações que o código de barras tradicional. Para divulgação de sua invenção a Nokia patrocinou um bandeirão para a torcida do Santos, que foi usado na final do campeonato paulista de futebol. Abraços fraternos, JAIR.
Estimado Jair,
ResponderExcluiruma vez mais um comentário que acrescentas algo substantivo a meu comentário. Não sabia deste novo código by Nokia. Se nos dermos conta da idade do tradicional e da evolução tecnológica desde então, a que se esperar superação.
Agradecimentos desde a bela Niterói.
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluircom grande atraso, indico a leitura de uma página que esclarece um pouco mais sobre como funciona a codificação utilizada na criação das barras e espaços:
http://www.canalkids.com.br/tecnologia/invencoes/barra.htm
Muito querido Marcelo,
ResponderExcluirmesmo na maravilhosa Istambul brindas-me com um rescaldo de uma blogada julina.
Muito elucidativa a referência.
Agradecimentos e a estima do
attico chassot
Diante em mão gostaria de lhe parabenizar pela obra " A ciência através dos tempos", li este livro e gostei muito,obtive ótima leitura, e consequentemente um belo aprendizado. Parabéns.
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