Ano 5 | Porto Alegre | Edição 1779 |
Em dimensão familiar esta última sexta-feira outonal é prenhe em expectativa – e aqui o verbo não é metafórico – pois hoje o usual almoço das sextas-feiras com o trio ABC é ampliado em participação. Ele estará acontecendo quando a Clarissa, Carlos e Maria Clara estiverem chegando de uma consulta médica, onde muito provavelmente se conhecerá o sexo do sétimo neto previsto para chegar em novembro.
A notícia merece um adendo extraordinário postado às
12h05nin: no final de novembro/começo de dezembro, virá UMA MENINA, que provavelmente se chamará CAROLINA.
Esta edição ocorre durante o V Seminário de Pesquisa e Pós-Graduação do Centro Universitário Metodista do IPA inaugurado na noite de ontem com a palestra ‘Estrutura e politicas de fomento à pesquisa no Rio Grande do Sul’ proferida pela Prof. Dra. Nadya Pesche da Silveira, diretora científica da FAPERGS, que teve também a participação do Dr. Rodrigo Costa Mattos, Diretor Presidente da FAPERGS. Hoje na parte da tarde e da noite prosseguem as atividades com reuniões e encontros com o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Prof. Dr. Edgar Zanini Tim. O Seminário prossegue na manhã de amanhã, com duas palestras e uma mesa-redonda.
De vez em vez falta-me texto. E
(QUASE) UM PRELÚDIO: Recebo uma mensagem que anuncia: Convite para participação em livro. Nela sou convidado para produzir um capítulo em livro. Mesmo com agenda transbordando, com exagerada precipitação, acordei na participação. Agora me vejo na tentativa de honrar um sim.
Vivo assim, aqui e agora, os rituais de começar um texto. Com minha formação em Química ensinei muitas vezes estratégias para superar a energia de ativação. Também o começar um texto tem exigências: vencer a inércia que inibe a partida para começar o reagir. Esta partida, às vezes, é árdua: desvirginar a folha (ou num cenário pós-moderno: a tela) em branco. Não vou trazer agora as discussões de como escrevo que estão, em outros texto onde mostro alguns catalisadores que ajudam a superar os obstáculos que se opõem à inercia, que inibe a partida.
Mas, vale dizer que não estou começando agora o texto. Há pelo menos dois
momentos onde ocorreram o que se poderia designar de pré-escrita.
No primeiro, redações primárias e efêmeras que ocorreram/ocorrem em meu lapkopf, em madrugadas insones ou em longas viagens, ainda, na hora de exercícios físicos na academia, especialmente durante a chatice do esteirar (não é sem razão que a Márcia, uma personal training muito atenta, me admoeste com frequência que estou distante do exercício). Atenção! Não estou me referindo a laptop. Criei, já há um tempo, a palavra lapkopf, aproveitando o substantivo alemão kopf (cabeça), por semelhança eufônica com laptop, para referir-me ao local de gestação de textos que faço em um disco não tão rígido e também com poucos recursos de salvar. Logo, é muito significativo, que neste continuado escrever/reescrever no lapkopf, chegue ao computador com um texto ‘quase organizado’. Assim como uma mãe, durante a gravidez, curte preparar o enxoval do nascituro, muitas vezes, de maneira especial, quando não há tempo para uma imersão mais profunda em alguns de outros textos, amealhei/amealho fragmentos para este. E aqui outra informação: tenho usualmente em produção simultânea dois ou mais textos, até porque, enquanto editor de um blogue diário, o texto para a blogada de amanhã, por trazer a etiqueta ‘urgente’ está sempre competindo. Assim, agora estou – para ser mais fiel – num retomar um texto muitas vezes (re)iniciado.
O segundo momento da escrita antecipada se desenvolve num continuado autoplágio que pratico. Aqui o prefixo ‘auto’ tem como escopo conferir uma absolvição ao substantivo. Este ‘inocente’ autoplágio ocorre devido a duas situações, no mínimo. Uma, a continuada solicitação de produção escrita que nos é exigida. Mesmo que tentemos não plagiar, compulsoriamente, temos que lançar mão de excertos já antes produzidos. É neste momento que os robôs do Google desktop – excelentes parceiros ou coadjuvantes de pesquisa – prestam um auxilio inestimável. Essa parceria tem a ver com o que discuto em Sete escrito sobre Educação e Ciências (Chassot, 2008, p. 143-163): os cada vez mais tênues limites entre o humano/não humano. Há o aflorar de uma ‘nova’ ideia. Lembramo-nos que já escrevemos algo sobre o assunto. Então uma ação salvífica, mas plagiadora [ctrl C + ctrl V] determina o que pode ser considerada a outra situação: usamos indez. Ignoro quantos dos leitores conheceram uma prática de nossas avós, que a biopirataria das multinacionais que dominam o mercado dos galináceos sequestrou de nossos cotidianos, de usar um indez – um caramujo ou uma pedra que se assemelhe a um ovo – para atrair galinhas em postura para que coloquem ovos em determinado ninho. Um indez ou um excerto trazido ao novo texto para com ele fazer novas tessituras. Aqui faço uma concessão àqueles que possam reconhecer pouco acadêmica a metáfora de galinheiro e recorro, uma vez mais a minha formação em Química. Quando se tem uma solução salina que contenha eletrólitos que, por diferentes parâmetros físico-químicos, cristalizam com dificuldade, usa-se um gérmen de cristalização. Coloca-se na solução, amarrado com um tênue fio de linha, um pequeno cristal e desencadeia-se, então, a cristalização que estava inibida e, em redor do gérmen cristalino, as diferentes espécies iônicas vão se arranjar produzindo, não raro, lindos cristais. Assim, fica mais elegante ao nível deste texto, substituir indez por gérmen de cristalização. Mas reconheça-se: indez ou gérmen de cristalização, o recurso é muito usado e os atuais meios eletrônicos produção de textos oferecem facilidades. Algum leitor mais anoso deve ter na gilete e na cola (talvez na goma arábica para os mais saudosistas) ancestrais quase jurássicos da ação [ctrl C + ctrl V]. Eu, enquanto usuário de computador desde 1989, usei estes instrumentais. Aos meus coetâneos lembro o que significa então fazer a listagem das obras bibliográficas ou inserir uma nota de rodapé. Éramos gutenberguianos e não sabíamos.
Caro Chassot,
ResponderExcluirfalar de indez é fácil para mim, contudo esse processo de gérmen de cristalização não entendo de fato. O drama de quem escreve acontece quase todos os dias para quem se vê diante de uma tela em branco. Esse pânico também acontece com quem fala de um púlpito. Um professor meu, na graduação, contou-nos uma experiência que dá para aplicar para quem escreve. Disse ele que sobre o púlpito, de onde pregava semanalmente, escreveu um cartaz onde se lia, QUÃO HORRÍVEL É ESTE LUGAR! Acho que serve para quem sempre está produzindo um texto. A página em branco é um lugar horrível, desafiador por natureza, comprometedor por aquilo que ali apomos.
Um grande abraço,
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com
Caro Chassot,
ResponderExcluirEsta pérola de texto merece ser arquivada para releituras posteriores. Interessou-me particularmente tua sequência de eventos que acaba gestando um texto. Confesso que sou peripatético, mas minhas ideias se ajeitam e consolidam durante minhas caminhadas solitárias, não como você sobre uma esteira, coisa modernosa. Também faço uso de indez quase automaticamente, esses "ovos de ideias" estão sempre de tocaia na minha mente e, ao menor gesto, eles saem e se plantam no ninho (texto) onde dão origem a algo mais consistente. Abraços fraternos, JAIR.
Prezado Prof. Chassot,
ResponderExcluirAcompanho seu blog a algum tempo achei bastante interessante sua postagem sobre o processo de criação de um texto. Gostaria de saber se permite que o disponibilize na íntegra em meu blog pessoal no endereço (http://shleal.blogspot.com). Abraços.
Sérgio Leal
Prof. Chassot,
ResponderExcluirObrigado pela permissão da postagem de seu texto no meu blog. E parabéns pelo belo trabalho que faz em seu blog. Perdão por não enviar meu endereço de e-mail: sergioleal@ufpi.edu.br
Abraços.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirminha radicalidade não ocupa a continuada ‘horribilidade’. A escrita é algo gostoso. Adiro a Paulo Freire em Cartas a Cristina (1992) dizendo: “Escrever, para mim, vem sendo tanto um prazer profundamente experimentado quanto um dever irrecusável, uma tarefa política a ser cumprida. A alegria de escrever me toma o tempo todo.”
Com estima
attico chassot
Meu caro Jair,
ResponderExcluirobrigado pela entusiasmada avaliação de meu texto. É bom temo parceiro no uso do lapkopf.
Com estima
attico chassot
Muito estimado Sergio,
ResponderExcluirvisitei teu blogue– na falta de teu endereço eletrônico – para dizer que recebo com agrado teu pedido. Podes publicar em teu blogue qualquer das minhas produções, com a usual citação da fonte com o endereço. Peço que sempre que usares algo me avises para remeter meus leitores também ao teu blogue.
Anuncio na edição de amanhã algo sobre Marie Curie e dia do Químico.
Obrigado por seres meu leitor
attico chassot
Prof. Chassot,
ResponderExcluirObrigado pela gentileza em disponibilizar o texto, que já posteu no meu blog. Grande Abraço!
Sérgio Leal
Olá Tio Attico,
ResponderExcluirParabéns pela neta!!! Saudade de ti, boa semana.
Emerson
Emerson,
ResponderExcluirsobrinho muito querido,
obrigado.
Tio attico