Ano 5 | Porto Alegre | Edição 1786 |
Dia de são João, numa sexta-feira que para alguns sabe a feriadão. A previsão é que seja mais um dia chuviscoso e úmido como ontem, no melhor modelo do inverno gaúcho.
Dos mais badalados santos juninos – Santo Antonio, São João e São Pedro –, o de hoje é o mais festejado, com fogueiras, balões e festanças. Lembro, quando em 2004 estive em Jequié e vivi, pela primeira (e única) vez, a tradição de festas juninas do Nordeste, surpreendeu-me ver pirâmides de lenha armadas para serem transformadas em fogueiras, vendidas nas ruas como aqui se oferece pinheirinhos na época de natal.
Como anunciado ontem, trago a continuação do texto de José de Souza Martins, Professor Emérito da Universidade de São Paulo iniciado ontem. Este artigo foi publicado em O Estado de S. Paulo [Caderno Aliás, A Semana Revista], Domingo, 3 de abril de 2011, p. J8. Hoje apresento a parte final.
As versões vernaculares da Bíblia tiveram a histórica função de abri-la à compreensão de multidões em muitos lugares do mundo. A versão em português até hoje de grande popularidade, sobretudo entre protestantes, é a de João Ferreira de Almeida, do século 17. Português, sobrinho de padre, emigrou para a Holanda e lá se tornou membro da Igreja Reformada Holandesa e tradutor da Bíblia. Foi dela que se valeram os primeiros missionários protestantes que vieram para o Brasil, ingleses e americanos, cuja missão praticamente se resumia em distribuir gratuitamente exemplares da Bíblia. Apoiavam-se no pressuposto de que a Bíblia falava por si mesma, o que é bem protestante.
Um dos impactos significativos e emancipadores da distribuição da Bíblia no Brasil, na versão de Almeida, foi o da sua aceitação pelas mulheres. Prisioneiras de uma tradição de confinamento e dependência, própria da família patriarcal, as convertidas, tornaram-se cidadãs de suas igrejas antes de o serem da República. Antes mesmo que a República acordasse para a igualdade jurídica e cidadã das mulheres, o que só aconteceria provisoriamente em 1932 e se confirmaria em 1934, quando uma primeira mulher foi eleita deputada federal, a médica paulista Carlota Pereira de Queirós.
Ao professarem a fé, as mulheres adquiriam o direito de voto na escolha de oficiais e ministros de suas igrejas, ainda que se defrontassem com restrições para o exercício do ministério religioso. Nem por isso, pastores (e também padres) deixaram de invocar no rito matrimonial, e o fazem até hoje, aquele versículo 24, do capítulo 5, da Epístola de Paulo aos Efésios: “De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos.” O seu uso deplorável em cerimônias de casamento nos dias atuais acaba sendo um descabido insulto à mulher e o é também ao homem. Na própria modernidade que se anuncia nas motivações das versões vernaculares da Bíblia seria mais apropriado evitar esse versículo e reconhecer que mulheres e homens são sujeitos à sua consciência e não a outra pessoa.
Tanto a Bíblia do Rei James quanto a de João Ferreira de Almeida está parcialmente contida na edição bilíngue do Novo Testamento encontrada nas gavetas dos criados-mudos dos hotéis do Brasil e de Portugal. São distribuídas pelos Gedeões Internacionais, que desse modo disseminam o livro, que acaba lido como obra literária pelo valor das traduções. Sua organização nasceu nos EUA, em 1899, por iniciativa de três evangélicos que eram negociantes itinerantes. Eles aproveitavam suas viagens para deixar Bíblias nas gavetas dos hotéis em que se hospedavam. A distribuição gratuita da Bíblia do Rei James conjugada com as traduções locais encontrou na rede comercial de vendedores pracistas um eficiente suporte e um emblemático indicador da relação entre religião e expansão da economia.
Aqui no Brasil, o interesse literário e linguístico pelas traduções da Bíblia se manifestou em várias ocasiões, estimulando uma postura ecumênica em face do texto religioso, mas em nome de cuidados predominantemente estéticos e científicos. No período mais recente, a tradução da Bíblia de Jerusalém contou com a participação de católicos e protestantes, pesquisadores e professores de várias universidades, vários da USP.
Uma muito boa sexta-feira a cada uma e cada um, em especial aos que fazem feriadão. Minha agenda é extensa na parte da manhã: Tenho primeiro uma sessão de Academia, orientado pela Márcia, depois recebo a Anna Carolina e a Sabrina, minhas orientandas para definirmos algumas ações da parte empírica das pesquisas que realizam. Às 10 horas viajo para Estrela: vou fazer uma revisão dentária, fruindo do privilégio de uma filha e um genro cirurgiões-dentistas: a Ana Lúcia e o Eduardo. Após almoço com eles e com meus netos Guilherme e Felipe. Devo retornar a Porto Alegre no começo da tarde, para ao anoitecer curtir o primeiro shabath do inverno de 2011.
Caro Chassot,
ResponderExcluiro metodismo entrou no Rio Grande do Sul através da obra de um compoltor (vendedor/distribuidor de bíblias) por nome João da Costa Correa. Ele era natural de Jaguarão, RS, mas estudou em Montevidéu, cidade na qual conheceu os missionários metodistas. Entrou no Estado através de Uruguaiana vendendo bíblias. A fórmula de divulgação era simples mas eficiente: reunia um grupo de pessoas (de maioria feminina) lia um trecho da Bíblia e a distribuía para quem se interessasse. Alguns contribuiam com alguma oferta, mas nem todos. Assim foi adentrado o território riograndense pelo oeste até alcançar Porto Alegre em 1885, quando fixou residência à rua Dr. Flores, junto á Praça Conde de Porto Alegre, também conhecida como Praça do Portão. Reuniu um grupo de pessoas ao redor da Bíblia em 27 de setembro e depois, em 19 de outubro criou o primeiro colégio misto da cidade, cuja professora era Carmen Cahcon, uma adolescente de dezessete anos. Mais tarde esse colégio, sob a direção de missionárias estadunidenses veio a se chamar Colégio Americano (por causa das missionárias que ali atuavam - "o colégio das americanas").
Tudo começou por aqui a partir da distribuição de bíblias.
Uma boa viagem e pede para aplicarem anestesia, pois com esse frio, uma dor de dente é uma tortura.
Garin
http://norberto-garin.blogspot.com
Meu caro colega Garin,
ResponderExcluirjá retornado de meu périplo anunciado ao sopé da blogada de hoje, agradeço a ilustração que trazes acerca da disseminação da Bíblia que fizeram os metodistas no sul e o consequentemente surgimento do metodismo no sul do Brasil.
Com renovado agradecimento pela tua participação neste blogue,
desejo que shabath que se avizinha seja abençoado
attico chassot