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quinta-feira, 2 de junho de 2011

02. Mercoescola: ¿o que isso?

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1764

Inicio brindando meus leitores (os de Porto Alegre e lamento a discriminação) coo convite para o evento que está anunciado no folder ao lado.

Meu colega Ygor me informava que na segunda-feira já havia mais de 250 pré-inscrito. Acredito que será uma grande noite, prenhe de discussões acadêmicas na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Amanhã, se possível, trago uma resenha das duas outras falas. Quando aceno com a edição de amanhã, já adito meus desejo des uma muito boa quinta-feira a cada uma e cada um de meus atenciosas leitores.

Ontem expliquei que ainda tinha alguns rescaldos do mês que recém encerramos. Hoje faço mais uma edição, que fatos sobrevenientes postergaram.

Neste maio de 2011, de vez em vez, afloraram evocações do final do século passado. Dizer assim parece tão distante. Recordo 1999. No meu livro Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação (escrito há época que evoco) há um capitulo chamado ‘Currículos legais e ilegais’. Mostrava, então, que os primeiros são aqueles ‘impostos’ à Escola por determinações de órgãos fiscalizadores (leia-se, controladores). Outros são aqueles que sistemas estranhos (em exemplos do ocaso milenar, uma rede de comunicação ou uma igreja) à Escola determinam (como falar da Copa do Mundo ou dizer como celebrar os 500 anos do ‘descobrimento’...). Ocorre que uns e outros currículos são, usualmente, alienígenas à Escola e mais especialmente à comunidade onde esta está inserida. Tantos os legais e também, os não legais, são importantes existir. Depende de como a Escola os ‘aceita’ criticamente.

Agora, passado um pouco mais de uma década, então já em novo século, há que dizer que houve progresso na invasão à Escola. Agora ela é ostensiva; é pretenciosa. E mais, é louvada por alguns. Eis o que a Rede Globo* diz:

O Jornal Nacional fez, essa semana, uma blitz na educação. Foram cinco cidades sorteadas, uma de cada região brasileira, que receberam a visita da equipe do JN no Ar. Neste sábado (21), você vai ver um balanço: o que pode ser feito para melhorar o nível do aprendizado nas salas de aula. Uma semana de viagem, 8.529 quilômetros percorridos, cortando o país de Norte a Sul, Leste a Oeste. Cinco paradas e muitas lições sobre educação apreendidas. O especialista Gustavo Ioschpe acompanhou a equipe em todas as visitas. Conversou com professores, diretores, estudantes. Anotou tudo, tirou lições, confirmou estudos. Tudo visto de perto.


[...] A nosso pedido, o especialista em educação Gustavo Ioschpe fez uma lista de dicas para pais e estudantes: o que funciona, ajuda no aprendizado, o que atrapalha. Tudo confirmado pela blitz da educação do JN no Ar, portanto preste atenção:

Exemplos de práticas positivas para a educação: passar dever de casa; professor com formação na área em que ensina; imposição de método, rotina e gestão em todas as aulas; comprometimento dos educadores com o sucesso; uso de material didático como apoio; fazer provas com frequência e monitorar o aprendizado; e disciplina.

Exemplos do que prejudica o aprendizado: aluno que trabalha e estuda; distância da escola; indicação política do diretor; falta de professores; e indisciplina. “Essa diferença entre as escolas só reforça a ideia de que a relação entre a família e a escola não termina quando o filho é matriculado na escola. Pelo contrário, é só o começo. O pai tem que ver se a escola do filho está efetivamente ensinando, tem que ajudar, tem que cobrar, tem que fiscalizar. Porque educação de qualidade não é um favor que o Estado e os governantes fazem para os pais e para os alunos. É um direito que todo cidadão brasileiro tem”.

Vi, em abertura solene de um evento, a autoridade maior da mesa, usar como referência de sua fala esta acintosa diagnose. Mas quem são a Rede Globo e seu dito especialista em (marketing da) Educação para dizer como devem ser as escolas, os alunos, os professores, os pais?

Trago para responder a esta questão o Professor Doutor em Educação José Clóvis Azevedo. O Coordenador de Pesquisa do Centro Universitário Metodista do IPA e Secretário estadual da Educação do Rio Grande do Sul vem, há muitos anos, atacando o que chama de “mercoescola” – aquela Escola que, na sua concepção, se preocupa mais em preparar seus alunos para o mercado do que “para a formação humanística”. Azevedo definiu recentemente esses estabelecimentos como fomentadores da competição, do egoísmo e do individualismo.**

Em resposta ao mirabolante feito da Globo, ele criticou profissionais que, embora não sejam professores, insistem em comentar sobre o assunto. O Secretário de Educação, afirmou categórico: “Nós, professores, não podemos abrir mão do direito de educadores. Não podemos deixar que profissionais de marketing nos digam como ensinar nossos alunos. Somos nós os especialistas em educação”

Foto: Maria Helena Sponchiado Em entrevista publicada na mesma data referida Azevedo afirmou: “Existe, às vezes, uma confusão entre a objetividade do marketing e a subjetividade da educação. São coisas que merecem cuidados. Muitas vezes, se vê economistas e marqueteiros dizendo como deveria ser a educação. Não que a contribuição deles nunca possa ser aproveitada, mas eles não entendem o processo pedagógico, a diversidade das crianças, as conquistas. Não dá para pessoas que pouco entendem de educação, de escola pública, das diversidades, do sacrifício que é educar na periferia, começarem a dar aula sobre como os professores e as escolas devem se comportar. Temos parceria com empresas e estamos conversando com outros grupos. Só que o objeto da empresa é diferente do objeto da escola. Enquanto a escola trabalha com formação humana, a empresa trabalha com um objeto tangível, o produto.”

*http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/05/balanco-da-blitz-da-educacao-mostra-acertos-e-desafios-das-escolas.html Acessado em 20MAI2011

** Zero Hora 24 de maio de 2011 | N° 16709

14 comentários:

  1. Caro Chassot,

    pelo menos três dicas do "especialista da Globo" se aplicam à minha pessoa: "professor com formação na área em que ensina", "aluno que trabalha e estuda; distância da escola". Fui alfabetizado pelo meu irmão mais velho, que era formado "5º ano primário". Depois, as professoras que me deram aula não possuiam formação muito além daquela do meu irmão (professoras rurais, pagas pelo município), mas tinham uma dedicação incomparável. Outra dica é a distância, pois durante o primário, a escola mais próxima que estudei ficava a 3,5km da minha casa. Por um período cheguei a estudar numa escola que ficava a 14km, percurso que fazia a pé.
    Talvez seja por isso que eu não tenha conseguido me alfabetizar.

    Confesso que vi as reportagens e as matérias me causaram muito nojo. Como o anúncio que colocaste no teu blogue: Perigo! Rede Globo! Risco para o cérebro! Eu acrescentaria: perigo para o ser humano todo.

    Um abraço e boa quinta-feira!

    Prof. Dr. Norberto Garin

    http://norberto-garin.bolgspot.com

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  2. Meu caro colega Garin,
    olhando tua história, certamente o pseudo-especialista em Educação da Globo enrolaria o seu ‘discutível título’ e iria assessorar em outras bandas. Bem fez alguém que o chamou de ‘almofadinha’ ou outro que o vê como um ‘bundinha’.
    Obrigado por compartir com meus leitores facetas de uma fabulosa história de um educador que encanta,
    attico chassot

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  3. Caro Chassot,
    A guisa de comentário, vou ater-me a trecho do texto "Sobre escolas" que publiquei em meu blog: "Ouso dizer que no Brasil nunca houve preocupação séria com o futuro, nunca se investiu pesado na construção de escolas, formação de professores e numa política educacional que valorizasse a carreira de mestres desde o ensino básico até o universitário. Construir estradas (ruins) e apostar na indústria automobilística constituiu objetivo prioritário de nossos governantes desde que o país entrou na era industrial tardia, escolas e professores não entraram seriamente na lista de temas políticos das campanhas desde o advento da República.
    Com surgimento da internet e a disseminação da informática por todos os setores da sociedade, muitos administradores, políticos e educadores estão certos que a escola passou a ter uma importância secundária na educação de nossos jovens. É quase implícito admitir que os meios eletrônicos que adentram os lares substituem com vantagem as escolas. A estupidez desse raciocínio é tão piramidal que não merece nem ser comentada."

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  4. Caro Aicco,
    Tudo bem???
    Hoje é feriado aqui em Ascensão de Cristo,mais do que pensar na "exaltação de Cristo à destra de Deus" estou colocando algumas coisas em ordem. NaAw verdade tentando colocar algumas coisas em ordem.
    E entre estas ordenações, resolvi dar um pulo aqui, algo que há um bom tempo não faço.
    Vindo aqui a gente sempre tem uma aula e uma companhia agradável, como se estivéssemos sentados ao seu lado, tendo uma charla com o senhor.
    A minha surpreso foi em ver que o Professor faz a sua blogada referente a rede globo e o Icharope (ele é um xarope mesmo). Quando vi aquele homem falando, me deu uma raiva, e eu também estava falando, mas resmungando, com as paredes...
    Em duas semanas recebi dois tapões na cara (eu não, nós da educação) um foi da Rede Globo e o outro foi do "ensinar escrever errado" dos livros de português. O David Cãimbra (Coimbra) versando o que era correto ensinar em uma aula. Ensinando a sabe quem?? A professora Ana Zilles. E fez de uma forma grosseira, que é peculiar ao "jornalista sabe-tudo".
    Mas ainda bem que o professorado não se cala.....
    Professor, é um prazer estar com o senhor.
    Bom resto de quinta-feira ensolarada

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  5. Meu caro Jair,
    a Escola não mudou. Ela foi mudada. Ela deixou de ser repassadora de conhecimento. Isto o Professor Google et alii faz com mais competência.
    Hoje é função da Escola é fazer formação e não informação. Nisso ela ainda não foi superada.
    Claro que nem sempre elas está preparada para tal.
    Sucesso aí em San Diego

    attico chassot

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  6. Meu caro Edmar,
    viva o reaparecido! Precisa Cristo subir a destra do Pai para eu receber uma visita. Realmente é bom ter este papo, de vez em vez, aqui.
    Realmente os auto nominados ‘formadores de opinião’ nos irritam. Eles sabem tudo e sabem melhor. Amanhã uma vez mais a blogada será: 3. Uma vez mais: o livro que ensina escrever errado. Parece-me que desta vez os intelectuais não se omitiram e reptaram esse jornalistas ‘sabidos’. Não vi o debate Ana Zilles X Davi Câimbra (como chamas). Admiro-me da arrogância destes caras. Não conhecia também o epíteto bem posto que dás ao bundinha da Globo. Especialista em (marketing da) Educação.
    Obrigado por apareceres aqui. Quando não quiseres falar com as paredes apareça. São mais de 100 leitores a cada dia (ontem 145). Os comentários perspicazes com os teus têm aumentado .
    Um afago com admiração

    attico chassot

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  7. Oi Chassot.

    O perigo maior dessas reportagens foi o seguite:

    Esse rapaz, Gustavo Iochpe, escrevia para a revista Educação. Suas colunas sempre defendiam que a qualidade da educação não poderia estar atrelada ao salário do professor. Defende ainda uma iéia neoliberal de solução da educação ligada a gestão na escola.

    Se você tiver notado, todas as comparações das escolas, a ruim e a boa, durante as "reportagens", começavam dizendo que o salário não era diferente, em uma espécie de mensagem subliminar do tipo: "viu, não é o salário que faz a diferença e sim, a dedicação, a missão." Nojento, como já sabemos.

    Na semana seguinte, alertei meus alunos sobre os reais objetivos da Globo e suas editoras para venda de material didático e cursos de gestão.

    Um abraço e sucesso sempre!

    Márlon Soares, direeeeto do Goiás.

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  8. Meu caro Marlon,
    querido amigo goiano,
    uso este espaço, pois meu gerenciador de correio não localizou (mais uma vez) teu correio eletrônico. Muito bem posta a tua tese (que não me ocorrera) acerca de que não é o salário que faz a diferença.
    Obrigado por tua ilustrada presença no meu blogue.
    Com muita admiração e estima
    attico chassot

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  9. Estimado Attico:
    En el pequeño Uruguay, vemos con profunda preocupación, el "macabro plan" que hay para la Educación de nuestros pueblos, desde su diseño en lo que se ha denominado "Metas 2021".
    Algunos documentos desde su propio sitio están en: http://www.oei.es/metas2021/.
    La Educación como uan mercancía más, ya está planteada desde hace varias décadas, y se ha impusto esta concepción en los procesos de reformas que se han implantado en nuestra América con sus acracterísticas particulares.
    Es un tema donde por convicción, muchos educadores populares han aportado su mirada crítica y nos permiten en el presente leer entre líneas cada planteo por estilo.

    Un saludo fraterno desde el pueblo Oriental:
    Enzo Fagúndez.

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  10. Muy estimado amigo Enzo,
    gracias por tu llegada acá en blogue en esta edición que acerca con algo que es tu histórica preocupación y razón de tus luchas: la educación como mercancía. He leído algo de ‘Metas 2021’. Es realmente macabro. En Brasil has visto como una red de televisión sabe cómo los maestros deben hacer.
    Mucho me ha alegrado tu presencia en el blogue después tanto tiempo.
    Lamentablemente no tengo tu dirección electrónica para te decir ‘obrigado!’
    Con admiración
    attico chassot

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  11. Querido amigo Chassot:
    Li a tua e as demais manifestações no blog sobre o tema mercoescola e Rede Globo e suas mazelas. As vezes me sinto muito só nesta luta e parece que o senso comum dominante, sintetizado pela mídia, torna-se irreversível. Mas descubro minha fraqueza e vacilação quando leio manifestações críticas e solidárias com li no teu precioso espaço blogado. Reanimando-me sinto que temos forças represadas, temos reserva moral, sabers acumulados, energias a ser acionadas para perfilarmos na construção concreta de pricípios civilizatorios para contribuir na formação da diversidade humana, na perpectiva da emancipação de homens e mulheres e da defesa intransigente da vida.
    Um abraço afetuoso com esperança
    jose clovis de azevedo

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  12. Meu querido José Clovis,
    fico feliz pelo pequeno apoio que meu blogue te ofereceu. Que bom que possamos estar juntos. Admiro a imensa tarefa que estás envolvido. Posso facilmente imaginar que mais de uma vez deves viver imensa angústia pelo imenso desafio que vives.
    Oxalá possa contribuir, mesmo que seja trazendo um pouco de tuas lutas a um público que, mesmo pequeno, é comprometido.
    Com cada vez maior admiração
    attico chassot

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  13. Ave Chassot,

    revisitei esta crônica e tive prazer em lê-la.
    Endosso tudo que disseste.

    Abraços!

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  14. Muito estimado Guy,
    tua ratificação traduz o quanto esta situação de fazer da Escola uma mercadoria precisa ser denunciada.
    Com admiração e amizade

    attico chassot

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