ANO
9 |
EDIÇÃO
3013
|
Na última sexta-feira de fevereiro, fui distinguido pelas
colegas Professoras Doutoras Marlis Morosini Polidori e Caroline Dani,
coordenadoras do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão e do Mestrado
Acadêmico de Biociências e Reabilitação, para proferir a aula inaugural para as
duas turmas que ingressam na pós-graduação stricto senso do Centro
Universitário Metodista do IPA, no 1º semestre de 2015.
Fiz a minha apresentação em três movimentos:
#1 – Uma pavana para Século 20: olhando um mundo
dito humano.
#2 – Um adágio:
vivendo uma transição: Certeza → Incerteza.
#3 – Um alegro vivo: Das exigências de estar em um (novo) mundo da
Academia hoje.
Nesta
edição compartilho com meus leitores o primeiro movimento.
Uma
pavana para Século 20: olhando um mundo dito humano. Na quarta-feira, 28 de janeiro, estive
nos campos de concentração de Auschwitz e de Birkenau. São inenarráveis as
emoções. As velas colocadas pelas comemorações dos 70 anos da libertação dos
dois Campos, no dia anterior, ainda estavam acessas; as flores depositadas não
haviam murchado. Vivi por mais de 1,5 hora, em cada um dos dois Campos de
extermínios, momentos por demais emocionantes. Estar em cenários que de maneira
tão densa documentam uma das maiores barbáries, de todos os tempos, cometidas
no nosso século 20, por humanos contra milhões de crianças, mulheres e homens
me obriga compartir, aqui e agora.
Escolhi dentre centenas de relatos apenas dois episódios.
Episódio UM
Discurso feito pelo Obersturmführer Franz Hössler para um grupo de judeus
gregos na antecâmara onde os prisioneiros se despiam, pouco antes do grupo ser
levado à câmara de gás para ser executado:
"Em nome da administração do campo eu lhes dou as boas-vindas. Isto não é uma colônia de férias, mas um campo de trabalho. Assim como nossos soldados arriscam suas vidas na frente de combate para conquistar a vitória para o Terceiro Reich, vocês terão que trabalhar aqui para o bem-estar de uma nova Europa. Como vocês irão desempenhar essa tarefa depende apenas de vocês. A chance existe para cada um de vocês. Vamos cuidar de sua saúde e também ofereceremos trabalho bem pago. Após a guerra, vamos avaliar todos de acordo com os seus méritos e tratá-lo adequadamente.
"Em nome da administração do campo eu lhes dou as boas-vindas. Isto não é uma colônia de férias, mas um campo de trabalho. Assim como nossos soldados arriscam suas vidas na frente de combate para conquistar a vitória para o Terceiro Reich, vocês terão que trabalhar aqui para o bem-estar de uma nova Europa. Como vocês irão desempenhar essa tarefa depende apenas de vocês. A chance existe para cada um de vocês. Vamos cuidar de sua saúde e também ofereceremos trabalho bem pago. Após a guerra, vamos avaliar todos de acordo com os seus méritos e tratá-lo adequadamente.
Agora, por favor, tirem suas roupas. Pendurem as roupas nos
cabides que nós providenciamos e por favor lembrem-se de seu número (no
cabide). Depois de seu banho haverá uma tigela de sopa e café e chá para todos.
Oh sim, antes que eu me esqueça, depois do banho, por favor, tenham seus
certificados, diplomas, boletins escolares e outros documentos à mão, para que
possamos empregar todos de acordo com seu treinamento e habilidade. Os
diabéticos que não podem consumir açúcar comuniquem ao pessoal de serviço após
o banho".
Episódio DOIS.
No sábado, 31 de janeiro, visitamos Collegium Maius (Grande Escola), na parte
antiga de Cracóvia. É o prédio mais antigo da Universidade Jaguelônica
(polonês: Uniwersytet Jagielloński) que está classificada dentre as
universidades de elite da Europa. Foi fundada em 1364 por Casimiro III, o
Grande, como Akademia Krakowska e desde então está entre as mais antigas
universidades da Europa e do mundo, a segunda mais antiga da Europa Central
(depois da Universidade de Praga). Vimos salas (bibliotecas, refeitórios, sala
de conselhos) do século 14.
As faculdades de astronomia, direito e teologia atraíram
eminentes estudiosos. Destaco dois alunos importantes, entre os muitos
listados. Nicolau Copérnico (1473-1543) e Karol Wojtyła (1920-2005), depois,
João Paulo II, agora, São João Paulo II.
Foi emocionante ver, por exemplo, a primeira edição de 1453
manuscrita (no sentido literal) por Copérnico da obra De
revolutionibus orbium coelestium (Sobre
as revoluções das esferas celestes).
A obra, dedicada ao papa Paulo III, foi publicada depois de 36
anos de angustiante maturação, algumas horas antes morte de Copérnico, em 24 de
maio de 1543, aos setenta anos, vítima de um acidente vascular cerebral. O
livro esteve quase 300 anos no index.
Mas ao lado das muitas exposições é me recordado um fato que
conhecera dias antes no Museu Oskar Schindler: no dia 6 de novembro de 1939, os nazistas, que desde 01 de
setembro de 1939 ocupavam a Polônia, convocaram os professores e cientistas
mais eminentes da Polônia para uma aula inaugural na Universidade Jagiellomiam.
Em sua totalidade, os 184 que atenderam a convocação, foram presos e deportados
pelos nazistas para campo de concentração onde foram mortos.
RECEBI E AGRADEÇO EMOCIONADO
ResponderExcluirQuerido colega prof. Attico Chassot,
escrevo para agradecer e cumprimentá-lo (mais uma vez!) pela BRILHANTE PALESTRA proferida na aula inaugural 2015-1 dos nossos dois PPGs Stricto Sensu IPA, intitulada "Exigências ao estar no novo mundo (da Academia)", discorrendo sobre (1) a paz total, (2) a curiosidade, (3) a postura interdisciplinar, e (4) a ética no múnus acadêmico.
Como sempre, ouvi-lo é uma grande satisfação, uma alegria e uma oportunidade ímpar de crescimento. Sou seu fã.
Um grande abraço, professor Áttico, é um honra e um privilégio para nós tê-lo conosco, pois sempre aprendemos muito com o senhor.
Que Deus, o Senhor da Vida, continue abençoando-o neste ano em que o senhor comemora 55 anos de magistério (mais de meio século!) e em todos os outros que virão.
Edgar Timm
e.t. li sua página no Blog!
Prof. Dr. Edgar Zanini Timm
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e
de Extensão e Ação Comunitária
Centro Universitário Metodista - IPA
Tenho pensado muito na indagação que deixaste. Penso que também estou acometido do mal do mesmo que impediu aos outros de fazerem algo em prol das vítimas do extermínio: o MEDO. Ainda vivemos sob apavorados, com muito medo, de perder emprego, de ser perseguido, de faltar isso ou aquilo, de não ser compreendido, do rumo da democracia, enfim...
ResponderExcluirTenho pensado muito na indagação que deixaste. Penso que também estou acometido do mal do mesmo que impediu aos outros de fazerem algo em prol das vítimas do extermínio: o MEDO. Ainda vivemos sob apavorados, com muito medo, de perder emprego, de ser perseguido, de faltar isso ou aquilo, de não ser compreendido, do rumo da democracia, enfim...
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