ANO
9 |
EDIÇÃO
3019
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Há dia destes,
escrevi a um grande amigo meu. Nossa amizade se faz longeva. Mas, parece que ele
e eu estamos sempre com agendas lotadas. Ou, talvez, nos esquecemos que fomos
amigos.
Era preciso reavivar
a amizade. Buscar um reencontro.
Transcrevo minha quase
carta (ainda, existe este artefato cultural?). Em outros tempos, quando ele
viveu distante de Porto Alegre, trocávamos cartas, que vinham pelo correio em um
invólucro chamado envelope no qual colocávamos um selo para pagar o porte. A ilustração
é de envelope que em 1996 trouxe carta de minha irmã Tile. Foi talvez, uma de
suas últimas cartas. Ela escrevia, então, que sabia que já faço contatos
pela Internet. Hoje, esta é uma das maneiras mais usual que nos dois usamos
para contatarmos.
Mas volto a mensagem
para meu amigo. Fiz pequenas maquiagens no texto, para esconder identidades, pois
parece não ser de bom tom expô-lo a minhas saudades.
Meu muito querido amigo Celsius,
esta mensagem esta agendada desde que voltei de férias, no começo de
fevereiro. Ela já foi, muitas vezes, escritas e reescrita em um escaninho
recôndito da memória rotulado com uma palavra que alguns acham piegas: saudades.
Pergunto-me: por que a escrita desta mensagem foi sempre preterida em
uma agenda densa de cada dia, na qual tudo se diz (e se faz) mais importante
que afofar a terra de um canteiro no qual uma plantinha chamada amizade, quase
fenece.
Em meio à agenda saturada fico sabendo que A está muito doente; B
faleceu já há um mês; C vai fazer uma cirurgia complicadíssima. Sabes que tanto
A como B e C eram meus colegas. Ou melhor, eram nossos colegas. Nós até éramos
amigos. Almoçamos, às vezes, juntos no Campus do Vale.
Mas, fazia anos que não falava
com nenhum deles. Tu sabes, eu não tenho muito tempo. Tenho sempre coisas muito
importantes para fazer. Esse negócio de visitar amigos parece que está démodé.
Nem sei quando foi que visitei um amigo a última vez. Telefonar, já era!
Agora é mais elegante postar no facebook algo para que todos saibam
onde andamos. Dias atrás, um coleguinha de um amigo de um dos meus netos soube
no FB que sua mãe ia para Punta para casar. Outro conheceu no Face a nova
namorada da avó. Sabes! É lá que se sabe das coisas!
Aí a Gelsa pergunta: tu tens notícia do Celsius.
Gaguejo, envergonhado, uma resposta: “Deve tá bem!... tá sempre
viajando! Acho que deve estar com os netos na praia. Assim que for março eu
ligo para ele! Parece que vi no Face que ele está no Consea-PI presente na reunião da sobre construção de cisternas no
Nordeste, discutindo a conjuntura política e econômica atual e as políticas
públicas.” Eu nem sei se ele tem WhatsApp. Claro
que se soubesse isso aí saberia dele.
Março, já passou mais da metade. Hoje tenho que dizer para o Celsius
que vou bem. Estou com saudades e posso almoçar com ele qualquer dia desta
semana ou da outra.
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Agora posso riscar mais um ponto de minha agenda. Escrever para o Celsius.
Missão cumprida. Agora, se não nos encontrarmos antes do próximo inverno é
porque ele não se interessou. Eu até sempre quero nos encontrar, mas... acho
que ele nem sabe que eu tenho WhatsApp....
PS 1: Continuo no Centro Universitário Metodista do IPA, onde sempre tu
que povoastes aqueles meandro desde a meninice, apareces para me mostrar lugares
que não vi nestes sete anos.
PS 2: Continuo expectante por um papo ao vivo!
Deu certo! Meu amigo
escreveu: Vou te telefonar
ainda nesta semana para o almoço e para as nossas sempre produtivas conversas. Saudades!
Um muito bom outono a cada uma e cada
um; ou uma muito boa primavera, para aqueles do Hemisfério Norte.
Os tempos pós-modernos nos aprisionam, muitas vezes, com uma sobrecarga de compromissos que, por vezes, deixamos de cultivar salutares amizades. É uma realidade que a muitos acomete. Fica o bom exemplo que o mestre nos dá: ter a humildade de, se for preciso para reaver verdadeiros amigos, pegar na caneta e escrever o que se sente. Coisa de mestre...Grande abraço!!!
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