ANO
9 |
EDIÇÃO
3014
|
Esta semana vivi, na segunda-feira, mais emoções com a estreia em
uma nova turma. Já comentara na edição 3012 acerca daquela super-semana que foi
última de fevereiro, com as primeiras aulas em duas turmas da graduação e em dois
seminários no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Isso sem
referir bate-volta à Catu BA e a curtidíssima aula para os mestrados do Centro
Universitário Metodista do IPA: Exigências de estar no novo mundo (da Academia), objeto da blogada anterior.
Na Universidade do Adulto Maior, UAM a primeira aula foi dia 2.
Foi densa de saborosos envolvimentos afetivos. Havia, no primeiro encontro 32
participantes; sei que o número é maior, pois alguns estenderam as férias. O
grupo é formado por alguns sexagenários e nonagenários; o maior número é de
septuagenários e octogenários. Vários dos que participam da edição 2015 do
seminário Enfoque
Histórico e Sócio Antropológico do envelhecimento foram professoras e
professores, mas há aqueles que foram profissionais de várias outras áreas.
Há algo significativo: a maioria já fez este seminário comigo
duas ou mais vezes, mas se auto-reprovam (referência que fazem por brincadeira) por poder participar e continuar cursando
mais uma edição do seminário.
Quando se está no 55º ano de magistério (já com mais de uma
centena de aberturas semestrais) é difícil ser inédito. Pois este ano em três
turmas consegui trazer uma proposta muito original (pelo menos para mim). Fiz
na primeira aula da UAM algo muito semelhante ao que fizera, na semana
anterior, com duas turmas de licenciatura em Música, na inauguração da
disciplina Teorias do Desenvolvimento Humano.
Para os alunos da licenciatura apresentei seis datas: 06111939 / 30121999 /11092001 / 21042011 / 08072014 /data do dia da aula.
Com o insistente pedido que não comentassem nada a acerca das datas com os
colegas. Solicitei que, de maneira individual, elegessem uma das datas e
elaborassem um relato de cerca de cinco linhas que evocasse algo da data
escolhida e que logo em seguida pudesse ser compartilhado com todo o grupo, a
guisa de apresentação pessoal aos colegas. Na UAM, a proposta foi quase a
mesma, só com sete datas, que diferentemente das turmas de Licenciatura, onde
havia duas datas aleatória, as sete eram
‘significativas’: 24081954 / 04101957 / 20071969 /
30121999 /11092001 / 08072014 /data do dia da aula.
Poderia trazer extensos relato da oitiva de mais de uma
centena de relatos dos três grupos. Antes, devo destacar que minha expectativa
com a atividade, era estar atento ao que Eric Hobsbawm (1917-2012)
alerta como um dos grandes problemas deste início de milênio:
A destruição
do passado — ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência
pessoal a das gerações passadas — é um dos fenômenos mais característicos e
lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa
espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado
público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar
o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do
segundo milênio. (A era dos extremos: O breve século XX, 1995,
p.13)
Tenho buscado assumir, enquanto professor,
aquilo que Hobsbawm comete aos historiadores: lembrar, especialmente aos jovens licenciandos, a sua
história próxima e fazendo-os fugir do presenteismo. Nesta direção, algo comum
aos três grupos: pelo menos um terço escolheu falar da data da aula (data de
hoje).
Talvez, esta eleição não tivesse a marca de um presenteismo,
mas de uma celebração ao que estava acontecendo. Os licenciandos, por estarem
realizando um sonho: começando um curso
superior. Isto foi destacado na turma da manhã e na da noite. Na UAM, o festejamento era por estarem capazes de
iniciar um novo ano acadêmico. Isso teve uma marca especial, na UAM, quando
em uma das classes havia um ramos de flores, em memória de uma colega que havia
falecida nas férias. Entre os licenciandos de Música, também houve duas menções
a data da aula que causaram impacto em todos: na turma da manhã, um aluno disse
que data evocava os 12 anos que sua esposa esta em vida vegetativa, em estado
comatoso. Na turma da noite, uma aluna narrou que ‘a data de hoje será lembrada
por ser o dia em que a primeira vez fui assaltada, tendo notebook, celular,
cartões de crédito e dinheiro furtado e ainda agredida fisicamente’.
Outras datas oportunizaram excelentes evocações. Na UAM, a
data do suicídio do Getúlio foi muito evocada. O 11 de setembro de 2001 foi
muito lembrado nos três grupos. A derrota do Brasil para a Alemanha (08072014)
não emocionou a ninguém, mas o lançamento do Sputnik e chegada do homem a lua
foram lembradas especialmente na UAM.
Pode-se inferir que de mais de uma centena de relatos a
trazida que fiz é apenas uma pálida amostra. Acredito que foi conseguido o
objetivo: conhecer(-nos) por meio de nossas histórias próximas. Obrigado, Eric Hobsbawm,
talvez o historiador que mais tenha influído na minha formação.
Adorei, fiquei me imaginando na aula e provavelmente escolheria a data da aula, não por desmerecer a importância histórica das demais, mas por ser pra minha história de vida a data mais importante entre as oferecidas. Se pudesse escolher duas escolheria a do 11 de setembro que além do fato mundialmente conhecido do ataque às torres dos EUA teve um fato particular em minha vida... Mas achei a dinâmica ótima e me fez repensar o fato de que preciso me aprofundar historicamente.Parabéns!
ResponderExcluirMuito atenciosa Adriana,
ResponderExcluirobrigado, por trazeres com arte, um comentário à minha blogada de agradecimento a Eric Hobsbawm.
Enriqueceste a edição.
Saber-te, enquanto pedagoga, valorizando a experiência é muito bom.
Seja bem vinda aqui, de vez em vez encontrarás excertos do diário de um mestre escola.
A admiração do achassot
Acróstico
ResponderExcluirEra dos Extremos, o breve século vinte
Revoluções igualmente têm própria era
Invenção das Tradições foi conseguinte
Com ele tudo bem utopia e até quimera.
Hoje por certo o mundo seria mais justo
Onde Eric tivesse conseguido influência
Batalhando por justiça a qualquer custo
Stálin, o monstro, até teve sua leniência.
Brilhante e polêmico, pródigo pensador
Apontou enganos da classe dominante
Utilizou eras como estudo do historiador
Muito fez esse judeu sábio e brilhante.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirQuerido companheiro, vibro com o entusiasmo e pelo vigor com que continuamente te reinventas como professor! A estréia deste primeiro semestre de 2015 foi D+!
ResponderExcluirQuerido companheiro, vibro com o entusiasmo e pelo vigor com que continuamente te reinventas como professor! A estréia deste primeiro semestre de 2015 foi D+!
ResponderExcluirobrigada pelos [oasis..lugares onde tem sombra e agua fresca no deserto], DE leituras... com admiracao....
ResponderExcluirElzira
Caro Chassot
ResponderExcluirEsta sacada de eleger datas aleatorias e desafiar alunos e alunas a buscarem algo de significativo ocorrido nelas, só podia ter a marca chassotiana de educar. Parabéns. JB
A memória nos identifica. E a identificação nos faz ser.
ResponderExcluirQuem se reinventa, nas suas práticas, depois de 55 anos é porque possui, certamente, 55 anos de experiência. Isso é de ADMIRAR...profundamente. Parabéns!!!