ANO
9 |
EDIÇÃO
3015
|
Recebi uma consulta de
um colega:
Professor, ao ler
uma citação de Paul Feyerabend (1924-1994), presente em Contra o
Método: “...dada uma regra qualquer, por ‘fundamental’ e ‘necessária’
que se afigure para a ciência, sempre haverá circunstância em que se torna
conveniente ignorá-la, ou até adotar regra oposta. [...] Qualquer ideia, embora
antiga e absurda, é capaz de aperfeiçoar nosso conhecimento. [...] o
conhecimento de hoje pode, amanhã, passar a ser visto como conto de fadas; essa
é a via pelo qual o mito mais ridículo pode vir a transformar-se na mais sólida
peça da ciência” (FEYERABEND, Paul. Contra o
método. São Paulo: Editora da Unesp.2007, p. 71) ocorreu-me perguntar: o senhor teria um exemplo de um saber mitológico ou de conto de fadas
que hoje ou em algum tempo atrás foi
tido como ciência?
Estimado Claiton,
assentas teu questionamento em texto de Feyerabend que é lapidar para entendermos como ‘o anarquista epistemológico’ verbera
contra os dogmas da Ciência.
Vale ouvirmos
autor de obras que foram decisivas para novas concepções de Ciência além da
discutidíssima Contra o método. Ele
destaca em outro texto que “a distinção
entre Ciência e mito não é tão evidente” [LE MONDE. Ideias contemporâneas. (Entrevistas diversas). São Paulo: Ática p.
51]. Há, assim, uma necessidade de revermos marcos que usualmente definem o
início da chamada Ciência Moderna.
Busquei, na tentativa de responder a teu
questionamento, exemplos para cada uma das duas situações que ele destaca no
excerto que trazes. Nem sempre temos exemplos simples ou de alcance de um
público mais amplo, como teus alunos da graduação.
o mito mais ridículo pode vir a transformar-se
na mais sólida peça da ciência
Há não muito tempo a acupuntura
(no Ocidente) era considerada uma prática charlatã. Quem a praticasse poderia
ser levado a prisão. Hoje, é uma especialidade médica, reconhecida pelo
Conselho Federal de Medicina. Mais, os médicos avocaram a si a exclusividade de
pratica-la. fisioterapeutas, terapeutas ocupacional, dentistas, enfermeiros
etc. Poderia se mostrar, numa direção
contrária, a involução no uso da homeopatia.
o conhecimento de hoje pode, amanhã, passar a ser visto como
conto de fadas
Vale olhar, por exemplo, as
explicações de fecundação apresentadas por Aristóteles e as explicações atuais.
Aquelas parecem ‘histórias da carochinha’. Agora um exemplo não tão trivial.
Ensinava-se (e eu ensinei isso) que “Gases
nobres não poderiam formar compostos” Linus Pauling recebeu o Prêmio Nobel
de Química em 1954 "pelas suas investigações sobre a natureza da ligação
química e suas aplicações na determinação da estrutura das substâncias
complexas". Em 1962, Neil Bartlett preparou um dos primeiros compostos de
gases nobres, hexafluoroplatinado de xenônio Xe+[PtF6]−.
Isto contradisse os modelos estabelecidos sobre a natureza da valência,
acreditava-se que todos os gases nobres fossem totalmente inertes a qualquer
combinação química. Ele subsequentemente produziu e reproduziu vários outros
fluoretos de xenônio: XeF2, XeF4, e XeF6.
No aguardo de novos
questionamentos.
Feyerabend, por Chassot, faz suscitar algumas reflexões como: _A inexistência de verdades absolutas;O desmoronamento das certezas; _De que não se pode menosprezar determinados conhecimentos apenas pelo fato de que os mesmos não tenham passado pelo crivo da "ciência oficial"; Enfim, quem é dono da verdade? Mas o que é verdade? A ciência não se guia, em tempos de supremacia do capital, pelo mercado? Pois, parece que certas verdades são convenientes...
ResponderExcluirGrande abraço!!!
Feyerabend, por Chassot, faz suscitar algumas reflexões como: _A inexistência de verdades absolutas;O desmoronamento das certezas; _De que não se pode menosprezar determinados conhecimentos apenas pelo fato de que os mesmos não tenham passado pelo crivo da "ciência oficial"; Enfim, quem é dono da verdade? Mas o que é verdade? A ciência não se guia, em tempos de supremacia do capital, pelo mercado? Pois, parece que certas verdades são convenientes...
ResponderExcluirGrande abraço!!!