ANO
7
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EDIÇÃO
2486
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Em meio a esta avalanche de
manifestações que vivemos no Brasil, cabem reflexões. Por tal esta edição extra. Só ontem (sábado, dia 22JUN) houve no Rio Grande
do Sul cerca de três dúzias de manifestações em diferentes cidades. A estas se
acrescenta um continuado vandalizar, para usar um verbo que está na moda e na
prática.
O que/quem suscita isso? Talvez,
nada mais que o espírito de imitação. Ou é realmente o espirito de indignação?
Algo surpreendente é a rejeição
à presença de bandeiras partidárias. Pode haver democracia sem partidos
políticos? Estas manifestações parecem ser ‘sem bandeiras’ numa leitura
metafórica. Quem responde aqui, com cuidadosa reflexão é o filósofo, professor
da Universidade Estadual de Maringá Antonio Ozaí da Silva, com texto que está
publicado em http://antoniozai.wordpress.com
Saí do PT porque não me
reconhecia mais na prática política do partido. Foi, sobretudo, uma ruptura
ideológica. Com o tempo, outras experiências e leituras me conduziram na
direção oposta à organização partidária, mesmo as de cunho marxista-leninistas,
trotskistas e/ou vinculadas à tradição stalinista, maoísta, etc. Mesmo no tempo
em que militava no PT não me atraía o tipo de organização vanguardista, o
partido de quadros. Não obstante, o discurso anticomunista que grassava na base
sindical e popular lulista atiçou a minha curiosidade e, longe de afastar-me
desta realidade, aproximei-me a ponto de escrever o História das Tendências no
Brasil – o qual expressa uma necessidade militante daquela geração. Também
aprendi com eles e, mesmo com as divergências que nos separam, mantive
relacionamentos, pautados pelo respeito mútuo, que perduraram.
Sou, portanto, “Sem Partido”.
Não me reconheço nos partidos políticos existentes! É uma opção
político-ideológica tão legítima quanto a dos que dedicam anos fundamentais das
suas vidas aos partidos. Reconheço, porém, a contribuição da militância
política partidária. Sou de uma época em que não podiam expressar-se
livremente, tinha que viver na clandestinidade. Suas bandeiras não podiam ser
desfraldadas, nem mesmo podiam identificar-se por suas indumentárias, etc. Era
uma questão de segurança, de sobrevivência, a integridade física e a vida
estavam em risco. A ditadura civil-militar perdurava. Quando o PT surgiu,
muitos deles aderiram. Com o tempo seriam convidados a sair ou foram sumariamente
expulsos. Então, formaram seus próprios partidos. Outros permaneceram sob o
biombo do MDB/PMDB. Dentro ou fora do PT, contribuíram para o processo de
redemocratização do país.
Hoje, vivemos sob a democracia
qualificada por burguesa. Embora críticos da “democracia burguesa”, as forças
da esquerda organizadas em partidos também foram os seus construtores e sabem o
quanto são importantes os direitos e as liberdades democráticas. Sob esta
democracia puderam sair da clandestinidade, assumir ideologias, constituir
organizações, disputar eleições e expor publicamente as suas ideias. Enfim,
junto aos que lutaram contra a ditadura civil-militar, conquistaram o direito
de desfraldar suas bandeiras vermelhas, fazê-las tremular nos ventos que
anunciam utopias.
Não é paradoxal que sob a
democracia e em nome da democracia sejam impedidos de levantar suas bandeiras?
A maioria que se considera antipartidária tem o direito de impor seus
sentimentos e valores de rejeição à minoria? É democrático impedir a livre
manifestação dos que escolhem outros caminhos? Por outro lado, é preciso levar
em conta que o sentimento antipartido é difuso e nem sempre considera as
diferenças substanciais entre os diversos partidos, colocando todos sob o mesmo
balaio. A ojeriza aos partidos políticos é legítima e salutar, na medida em que
questiona a estrutura basilar da democracia representativa. Que os partidos
aprendam a lição das ruas!
Os partidos disputam a direção
dos movimentos sociais, precisam se fazer presente. Muitas vezes, isto os faz cair
na tentação de instrumentalizar as massas, de se arrogarem seus representantes,
já que se consideram a vanguarda consciente. Talvez precisem repensar seus
métodos. Por outro lado, há também o oportunismo político – como caracterizar,
por exemplo, o chamamento dos líderes petistas para que a militância
participasse da passeata, após as massas terem colocado em xeque o prefeito da
capital paulistana? A rigor, a política petista nos últimos anos também
contribuiu para o sentimento antipartido manifestado nas últimas mobilizações
populares. Ainda que consideremos oportunismo político é democrático impedi-los
de caminhar juntos e desfraldar suas bandeiras e faixas?
A maioria pode ser tirânica,
antidemocrática e intolerante; a minoria também. Ideais utópicos antipartidários
também podem se revelar extremamente autoritários. Desdenham da democracia em
nome do princípio da liberdade. Não veem a incoerência de negá-lo ao outro.
Como diria Rosa Luxemburgo, a liberdade é sempre a liberdade de quem pensa
diferente. Minorias e/ou maiorias que impeçam a livre manifestação do
pensamento divergente contribuem para fortalecer o caldo cultural autoritário –
também presente na esquerda marxista. Impedir, em nome da liberdade, é um
contrasenso! Justificar com o argumento de que os partidos é que são
autoritários, por desejarem desfraldar suas bandeiras perante as massas, é um
sofisma! A liberdade de expressão é uma conquista e os militantes tem o direito
de portar seus símbolos ideológicos. Talvez a insistência surta mais efeitos
negativos do que positivos, mas é uma questão de estratégia política a ser
avaliada por eles.
* Fonte da foto :
http://noticias.uol.com.br/album/2013/06/20/confira-as-melhores-fotos-dos-protestos-pelo-brasil.htm
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Chassot!
ResponderExcluirTambém acredito que muitas manifestações ocorridas em vários pontos do país, agora se valem mais da "imitação" do que da "indignação". Acredito também num cansaço manifestatório daqui prá frente, principalmente se não houver ações e lideranças que determinem rumos a este movimento acéfalo. Todavia, temos de concordar que a representatividade partidária está em grande crise no país; pois a maioria destes partidos são palcos de negociação de cargos e de interesses pessoais. Quem sabe esse movimento não suscite uma grande reforma partidária, tão necessária e que, por decisão da própria classe, nunca sairia do papel. Abraço do JB
Napoleão disse uma vez que "A estrada do inferno está pavimentada de boas intenções". Quantas vezes o povo acreditou em mudanças orquestradas por este ou por aquele partido? A revolução Francesa que lutou pelo fim das mordomias foi impelida pela massa da burguesia como um todo, não por um segmento minoritário liderando a maioria. É degradante a situação que a classe política levou a sociedade atual. As maracutaias eclodem a todo momento no noticiário e transformaram a pizza na iguaria mais falada. Assistir ao povo ser preterido, massacrado, ridicularizado e achar que o mesmo ainda tem que aceitar raposas oportunistas em meio aos seus protestos é menosprezar a inteligência de uma raça.São Tomas de Aquino dizia que todo movimento para ser autêntico deve almejar um bem maior, além dele, ao contrário corre risco de se transformar em coisa igual ao que se opõe. Estamos nesse impasse.
ResponderExcluirabraços
Antonio Jorge
Limerique
ResponderExcluirDesabafo contra corrupção era o lema
Sendo o lábaro estrelado o emblema
Mas cadê partidos e bandeiras?
Não será isso grande besteira?
Amigo, partidos são parte do problema!
Caro e querido mestre.
ResponderExcluirEste é um momento da vida política e social do Brasil que causa perplexidade. Tal como o Professor de Maringá, não me reconheço mais no PT, partido do qual empunhei bandeiras durante muitos anos. Como responder a tua pergunta? Imitação ou indignação? Com meus parcos recursos teóricos de "analista de Bagé", arrisco dizer que há uma mistura de ambas, que não temos como medir. Há na sociedade brasileira um sentimento difuso de indignação contra a corrupção, a violência, os políticos em geral, com seus não sei quantos privilégios, contra a situação precária da saúde pública, contra os caros e precários meios de transporte, etc. E há também um sentimento de estar junto em mega reuniões coletivas, momento para extravasar todos os diabos interiores e sentir-se parte de um todo comunitário, como salienta Michel Maffesoli. Há um pacto emocional, muito mais eficiente que o contrato social, que une as pessoas e qu e as redes sociais sabem celebrar de forma inequívova. Quanto aos atos de vandalismo, tb há uma mistura explosiva: pessoas descontentes e influenciáveis são arrastadas por provocadores pagos que desejam canalizar o movimento para a direita, juntamente com militantes de organizações de extrema direita (que canalizam seu ódio contra militantes de partidos e sindicalistas, além de bandidos comuns que se aproveitam da situação para saquear.
Some-se a isso as ações intimidatórias das Polícias Militares. No Rio, houve cerco ao IFCS, invasão de um hospital público municipal e disparos de bombas sem nenhum propósito contra pessoas que apenas bebiam e conversavam em bares a mais de 4 km da Prefeitura, cuja suposta invasão a PM agiu para impedir.
Tudo causa imensa perplexidade, caro amigo e mestre. Deixo aqui minha modesta reflexão
Muito querido Renato,
Excluirhá um tempo desejava ouvir-te. E por tal a provocação. Obrigado.
Vivemos dias de ‘não respostas’.
Ouvir as reflexões do químico que se fez filósofo é salutar.
Muito oportunas tuas trazidas.
Não sei se ainda sou do PT!
Estou enojado do mesmo desde o final do primeiro governo do Lula.
Assim tuas reflexões me confortam. Também, amenizam saudades
Quanto a meu questionamento: indignação ou imitação, mesmo que tu vejas como ‘assamblage’ a mim parece que nesta combinação predomina a adesão ‘ao ser chic ir às ruas mesmo que saraivadas de balas de borracha e disparo de gases apimentados doam.
Com espraiada admiração,
attico chassot