ANO
7
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livraria virtual
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EDIÇÃO
2482
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Na
esteira do Dia Mundial do Meio Ambiente
— ontem especialmente recordado — quando os animais (especialmente cães e
gatos) recebem tratamentos, muitas vezes não dispensados aos humanos — trago
uma situação inaudita a quem já é mais que sexagenário em sala de aula: um cão
em sala de aula.
Por
ocasião da última páscoa, surpreendi-me com supermercado oferecendo a venda
ovos de páscoa para animais. Vejo nas ruas ambulâncias para pets, com clínicas
e hospitais oferecendo serviços de ecografia e restauração dentária. Há oferta
de carrinhos para ‘passear com seu cão’. Agências funerárias oferecem serviços
de cremação ou jazigos em cemitérios para animais de estimação. Vejo ‘campanhas de agasalhos’ para aninais. Será
que eles precisam ou a natureza já os dotou de ‘abrigos’?
Num planeta
onde, a cada dia, 30 mil humanos morrem por falta de água, esta zoofilia é, no
mínimo, paradoxal.
Uma
ilustração: http://impedimento.org/cachorros-invadem-sala-de-aula-na-ufrgs/
Os perros estão em franca ascensão socioeconômica e passando a fazer parte de
novos contextos. No endereço acima, um pequeno vídeo com a participação de dois
deles em uma aula de Matemática Financeira da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Cachorro não quer mais só jogar bola; também quer ser doutor.
Minha
colega e amiga bióloga Conceição Cabral, professora da Universidade Federal do
Pará, enviou-me um de suas frutuosas crônicas de sala de aula. Vale fruir o seu
relato.
A exemplo do que dizia aos
alunos naquela noite, o professor tem que se adaptar às mudanças no ensino e
nos espaços de sala de aula.
Na noite de sexta-feira, contei
com a presença de dois “sujeitos” estranhos na minha aula, no curso de
Pedagogia: um namorado de uma aluna e a cachorrinha de outra. Ao primeiro
“tipo”, já estou acostumada: ficam quietos, prestam atenção. E pra não se
fazerem tão intrusos, costumam prestar mais atenção que os alunos da turma.
Quanto ao outro “sujeito”, o cachorrinho, esse foi a primeira vez que eu tive
em minhas aulas, com a desvantagem de que, diferente dos primeiros, não era
quieto. O bichinho era um filhote, naquela fase super-brincalhão. Vocês
precisavam ver a cena: 20h20min e eu começando a aula; a aluna entrou, manteve
a porta aberta e a cachorra passou atrás dela, abanando o rabinho. Eu, achando
que o bicho era filho de umas das dezenas de cadelas que moram no campus e que
foram recolhidas durante o Fórum Social Mundial (e depois devolvidas). A aluna
diz e que não tinha com quem deixar o bichinho: "Ela só vai ficar
brincando, profa". Mas ela vai ficar correndo na sala?
Quem me conhece sabe que
permito, sem problemas, que alunas-mães levem seus filhos pra sala de aula e
até já carreguei e acalantei bebês pra que uma aluna fizesse uma avaliação
escrita, mas cachorrinhos!!! Eu mereço, falei baixinho. E gargalhada foi geral.
Mas justamente comigo, que acha que todos os animais deveriam ter continuado
sua vida silvestre. É claro que eu perdi a linha de raciocínio diante da
presença do bicho e não conseguia retomar a aula. Não tirava os olhos do
bichinho, correndo no meio da sala, abanando o rabo e mordendo um brinquedo
sonoro. Educadamente, perguntei se a aluna não poderia botar a cachorrinha lá
pra fora e ela disse que não, que ela ia terminar entrando em outra sala.
Risada geral na turma. "Ela já assistiu à aula de Pesquisa Educacional,
professora". E mais risos da turma. Eu continuei em silêncio, sem saber o
que fazer (pedagógica, ecológica e politicamente correto). No fundo, num desejo
rápido e politicamente incorreto, gostaria de dizer que aquele bichinho não
podia ficar ali, livre, sem nenhuma disciplina do corpo, mas controlei esse
desejo. Até que a aluna pegou o bichinho e disse: “pronto, ela fica no meu
colo”. Menos mal, pensei.
E a cachorrinha ficou quietinha
no colo, a ouvir que "os propósitos do ensino de ciências sempre foram
orientados por interesses diversos, resultado de um processo histórico e
socialmente construído, produto de um conjunto de escolhas definidas por grupos
sociais em determinados momentos particulares. Um exemplo, no passado, foi o
investimento dos EUA no ensino experimental de ciências, após o lançamento do
sputinik pelos russos, ou a grande expansão de faculdades de Química, no
Brasil, após a segunda grande guerra (uma guerra química). Mas, atualmente, o
propósito é outro: altos índices de gravidez na adolescência e da degradação
ambiental, por exemplo, demandam que professor de ciências dê orientação
sexual, educação ambiental etc. E entre as competências para o trabalho
educativo, devemos incluir a capacidade do professor em conviver com processo s
constantes de mudanças.
E por aí fomos, até o final da aula, com a aparente concordância do primeiro - o namorado - a tudo que eu dizia e com a quietude do segundo sujeito (o pet), que parecia estar dormindo, felizmente. Ao contar a história para uns amigos, uma professora disse: o professor tem que conviver com todas as mudanças, mesmo.
Limerique
ResponderExcluirAntes: "Eis aqui uma maçã, de coração!"
Era aluno e professor em comunhão
Mas os tempos são outros
E até entre doutos:
"Essa aula é importante para meu cão"
Ao nosso Mestre Attico: Um cão não está só em sala de aula está também nas alturas,coincidentemente o sucesso do Sputinik 1 foi tão grande que a União Soviética prosseguiu com novos lançamentos,e quem foi o primeiro ser vivo que estava lá? a cadela Laika e pro meu desespero outros animais também foram lançados. Enfim a crônica costuma mostrar muito bem sentimentalismo e humorismo. Um forte abraço ao Mestre Chassot.
ResponderExcluirLey
ResponderExcluirNa realidade este modismo de mimos exagerados aos nossos bichos de estimação exprimem a mais pura degenaração humana. Não pelo fato de dispensarem este sentimento platônico alimentando mais um vies do capital, mas por faze-lo em detrimento dos seus semelhantes. Mas acredito que ainda há ai um terceiro sentimento tambem presente, mais ou menos assim; "ele" vai me amar, mesmo eu sendo um canalha...
ResponderExcluirAbraços
Antonio Jorge
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Querido Professor!!
ResponderExcluirEis que navegando pelo blog fiquei tentada a ler o texto acima. Curiosamente em um dia que abriguei um cão na minha sala de aula durante boa parte da manhã....
Motivada pelo frio e pela tranquilidade do animalzinho... mais quieto que muitos dos alunos!
Outro motivo foi a necessidade de mostrar a eles que os animais merecem respeito e cuidado, que nada justifica querer chutar ou maltratar pelo simples fato de ser um "morador de rua".
No fim das contas todos saimos ganhando com a experiência! O cachorrinho teve uma manhã quentinha e abrigada do frio, as drianças ouviram a Profe falando sobre a importância do respeito aos animais e uma das alunas teve o prazer de dividir seu lanche com aquele que ela batizou de Mascote!
Abraços!!