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quinta-feira, 17 de abril de 2014

17. — JESUS DE NAZARÉ FALA DA “MINHA MULHER”


ANO
 8
Frederico Westphalen/ Porto Alegre
EDIÇÃO
 2745

Depois de dois dias em Frederico Westphalen volto durante a madrugada à Porto Alegre. Dos três momentos na EE EM Sepé Tiaraju, o mais emocionante não foi nem a palestra para cerca de uma centena de alunos do ensino médio e nem à noite a fala para professores de diferentes escolas. Foi em uma situação em que não falei onde por mais de meia hora fui envolvido por 50 ou mais crianças das séries iniciais do ensino fundamental que queriam autógrafos. Em outra edição devo contar acerca disso. Agora, embalo sonhos para um curtido feriadão.
A propósito de feriadão, quando já vivemos noites de lindos plenilúnios e estes — por serem os primeiros depois do equinócio de outono no Hemisfério Sul — nos remetem à semana santa. Hoje a liturgia cristã recorda a última ceia. Não há como não evocar uma das obras de Leonardo da Vinci (1452-1519) mais reproduzidas e também mais marcada pelo machismo, traduzida na presença de 13 homens e nenhuma mulher.
Notícia do jornal espanhol ‘El Pais’ do último dia 12 de abril relata que um fragmento de papiro do século IV, escrito em copta, a língua do antigo Egito, que já causou um grande reboliço ao ser descoberto, em 2012, de acaba de ser considerado autêntico pela prestigiosa Escola de Teologia da Universidade Harvard, pela Universidade Columbia e pelo MIT.
A notícia da suposta autenticidade desse documento, embora não de seu, conteúdo, atraiu uma enorme atenção dos acadêmicos depois de ele ser exposto em público numa conferência sobre língua copta que acontece em Roma, porque nele, e pela primeira vez, Jesus de Nazaré fala da “minha mulher”, o que significaria que era casado. Mas, nesse caso, quem era ela?
O papiro gnóstico deve seu nome (Evangelho da Esposa de Jesus, embora não revele sua identidade) e a pesquisadora estadunidense, Karen King, diz que está convencida de que se trata de Maria Madalena.
A pesquisadora afirma: “Para nós, que há anos analisamos os textos evangélicos da Igreja, sejam os canônicos ou os apócrifos, sobretudo os gnósticos, não é nenhuma novidade que Jesus foi casado e certamente teve filhos, pois seria algo muito anormal na sociedade judaica daquela época que não fosse assim”.
Nada mais precioso para um judeu do que a prole. A ponto de que, na Bíblia, Deus permite aos patriarcas, cujas esposas eram estéreis, que se deitassem com uma escrava que lhes desse um filho.
O papiro não nos diz quem era essa mulher de Jesus. Quem revela esse enigma com uma simples análise hermenêutica são os quatro Evangelhos canônicos, que nos contam que, durante a crucificação, Maria Madalena estava na primeira fila, enquanto todos os discípulos homens ficaram escondidos e com medo.
Madalena aparece também ungindo o cadáver do Jesus. E no domingo de Páscoa é ela a que vai de novo ao lugar da crucificação, e é para ela que aparece ressuscitado.
O Doutor da Igreja, são Tomás de Aquino, perguntava-se, incrédulo, por que Jesus, ao ressuscitar, apareceu a Madalena e não a Pedro e aos seus apóstolos. Isso porque, além do mais, a mulher judia não era fiável nem podia atuar como testemunha em um processo judicial. Por isso, Pedro “não acredita” quando ela vai lhe dizer que Jesus havia ressuscitado, e ele mesmo se dirige ao sepulcro para comprovar isso, encontrando-o vazio.
Os quatro evangelistas colocam Maria Madalena aos pés da cruz. Os três sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) a citam junto com “outras mulheres”, mas o Evangelho de João, que foi o último e mais recente, 90 anos depois da morte de Jesus, e que conhecia bem os outros três, cita apenas Madalena. Mais ainda, oferece detalhes que unicamente ela poderia ter lhe contado em vida, como sua saída no domingo para o Gólgota “na alvorada”, quando “ainda estava muito escuro”, e que diante do sepulcro vazio “se pôs a chorar”.
Quando o escritor José Saramago, Nobel de Literatura, ele comentou com Pilar, sua esposa: “Se apareceu para ela, antes que a Pedro e até mesmo à sua mesma mãe, claro que era sua mulher”, e acrescentou: “Pilar, se quando eu morrer pudesse ressuscitar, a quem iria aparecer primeiro se não a ti?”.
O papiro copta encontrado em que Jesus fala da “minha mulher”, se for realmente autêntico, como parece, não faria mais do que corroborar o que os teólogos biblistas defendem há mais de 50 anos: que Jesus foi casado com a gnóstica Maria Madalena, a quem aparece antes mesmo que aos apóstolos, que precisaram se resignar a saber por ela da importante noticia da ressurreição.

3 comentários:

  1. Penso que se faz necessário compreendermos que as religiões são organizadas dogmamente por homens (mesmo que alguns não necessariamente humanos) com seus devidos interesses. Confio que a ciência ainda elucidará acerca do possível espôsa de Jesus. E acredito que isso não vá alterar o conteúdo da mensagem deste profeta. Não sei como se portará a Igreja Católica que veemente nega tal fato. Um pouco de Ciência, Razão não faz mal a ninguém. Se é pecado, a Igreja é a primeira, maior e eternamente pecadora. Ou voltará nos tempos? Ele disse: "[...] conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"(João 8,32) c.f. versão Ave Maria, Edição Claretiana, 1992.
    Grande Abraço.

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  2. Mestre Chassot,
    o senhor escreve, com acerto, que hoje é o dia da comemoração da última ceia. Na liturgia católica este também seria o dia da instituição do sacerdócio. A igreja católica romana (e algumas outras denominações) invocam o celibato de Jesus como modelo para se impor o celibato dos padres e bispos.
    Se verdadeira a matéria da edição de hoje, como fica essa norma tardia (Século IV, com o concílio de Elvira) de impor o celibato a modelo de Cristo, se ele não foi celibatário. Bom assunto para o papa Francisco...
    L L L

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  3. Gente como a gente

    Jesus com Madalena foi casado
    Nada mais lógico minha gente
    Se eles conviviam lado a lado
    Por que não agir normalmente?

    Pelo que sabem e pelo que sei
    Jesus vivia e agia como varão
    Compredendo que não era gay
    Espera-se ter cedido à paixão.

    Viu aquela samaritana um dia
    Conversa vai e conversa vem
    Foram eles direto prá pretoria.

    E exatamente como convém
    Maria muitos filhos lhe pedia
    E isso atendeu Jesus também.

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