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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

08.- O que é uma ocupação?




ANO
 11
Está na livraria virtual em www.professorchassot.pro.br
Das disciplinas à indisciplina
EDIÇÃO
 3230

Mesmo que, de vez em vez, ouçamos falar em ocupações, muitos de nós — exceção distinguida aos ‘ocupantes’ — não sabemos o que é uma ocupação. Ouvimos que parte do ENEM teve que ser postergada porque ‘uns estudantes ocupavam escolas’. Eu fui a Barreiras, BA a convite da UFOB e não falei na Universidade. Tive uma ida à Belém cancelada porque UFPA está ocupada. Não consigo ter relatórios de viagens aprovados por causa de ocupações. Lembrava as discussões acerca das ocupações (e, não invasões) do MST.
Ontem estive em uma ocupação. Encantei-me. Comovi-me. Embacei olhos.
Na tarde deste 07 de dezembro fiz a minha 65ª palestra de 2016. Foi a mais singela, mesmo que tenha sido aquela que mais me preocupou. Voltei ontem, depois de alguns anos ao Campus do Vale da UFRGS, onde fui professor por um significativo período. Sou grato por primeiro ao Prof. Dr. Marcelo Eichler que não apenas me levou ao CV, mas que catalisou o convite. Ser primeiro recebido pela Diretora do Instituto de Química me fez distinguido. Encontrar sintonia nas propostas da Profa. Dra. Nádya Pesce da Silveira foi muito significativo. Entrar no auditório do ICTA lotado me surpreendeu. E aqui algo inesperado. Pensava que iria falar ao grupo de estudantes. Sim, mas havia muitos docentes, alguns já há um tempo aposentados, outros meus ex-alunos e também alguns muito jovens que não conhecia.
Fiz uma fala. Contei histórias. Falei de História. Tentei achar respostas a questão que estava divulgada em redes sociais. Falei da reforma do Ensino Médio, lamentavelmente aprovada ontem na Câmara. Acenei com uma ESCOLA COMPARTIDA em oposição à falaciosa Escola sem Partido. Respondi perguntas. Fui extensamente aplaudido. Ganhei dos professores um vaso com uma linda planta florida. Autografei livros. Tirei fotos e pensava que estava tudo terminado: missão cumprida.
Então, um grupo de jovens estudantes me fez um convite que eu não esperava: “O senhor não que visitar a nossa Ocupação?” “Sim, claro!”. Voltamos ao prédio do Instituto de Química, em uma caminhada onde soube da história das ocupações no mundo ocidental, da situação no Brasil e o que ocorre, por ora, na UFRGS. Chegamos a Ocupação.
Aqui é a Recepção com serviço de portaria e segurança. Fomos a diferentes salas: Lembrei-me que em algumas dei aula. Aqui é cozinha (o Restaurante Universitário não serve dejejum, nem almoço e janta aos fins de semanas). Aqui é despensa para guarda de alimentos. Este é o refeitório. Esta é sala de estudos. Aqui a sala de reuniões. Este é o dormitório, onde vi, talvez, uma dezena de colchões, como camas (claro, que desarrumadas, como geralmente, acontece). Falaram-me das diferentes comissões permanentes ou grupos de trabalhos. Não retive todos grupos, mas gostei de saber que constituíram o “Grupo Marie Curie” que se ocupa com questões de gênero. Breve vou voltar para discutir o livro A Ciência é masculina?
Ao final tirei fotos e gravei um vídeo sobre a minhas impressões. Fi-las em duas dimensões: uma, A prática audaciosa da ação verbal mais presente em uma ocupação: resistir; outra, o questionamento do porquê a imprensa (e mesmo o governo ilegítimo) ignora as ocupações.
No retorno, uma preciosa carona ensejada pelo Fábio, com quem dividi sala em dois campi, por dezena de anos, na qual até errar caminhos foi saboroso. E agora sei um pouco mais do que são as ocupações.

4 comentários:

  1. Ler o que escreves, sempre é bom

    Com saudades
    Jackeline

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  2. Boa tarde Tico. Lastimo que seus sonhos tenham sido levados. Por tal declaração, imagino que possa encontrá-los nos bolsos de seus julgados legítimos governantes. Farewell.

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  3. Caro mestre, enquanto houver vozes a entoarem a manifestação da manutenção das utopias há vida. Ocupar, resistir, lutar é o símbolo ação da vida real. Abraços

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  4. Meu querido amigo Vanderlei e hospitaleiro clã familiar,
    realmente RESISTIR é uma ação verbal árdua nestes dias ditatoriais marcado por ações desastrosas de um governo ilegítimo.
    Saudades de Frederico Westphalen

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