ANO
11 |
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Das disciplinas à
indisciplina
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EDIÇÃO
3230
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Mesmo que, de vez em vez, ouçamos falar em
ocupações, muitos de nós — exceção distinguida aos ‘ocupantes’ — não sabemos o
que é uma ocupação. Ouvimos que parte do ENEM teve que
ser postergada porque ‘uns estudantes
ocupavam escolas’. Eu fui a Barreiras, BA a convite da UFOB e não falei na
Universidade. Tive uma ida à Belém cancelada porque UFPA está ocupada. Não
consigo ter relatórios de viagens aprovados por causa de ocupações. Lembrava as
discussões acerca das ocupações (e, não invasões) do MST.
Ontem estive em uma ocupação. Encantei-me.
Comovi-me. Embacei olhos.
Na tarde deste 07 de dezembro fiz a minha 65ª palestra
de 2016. Foi a mais singela, mesmo que tenha sido aquela que mais me preocupou.
Voltei ontem, depois de alguns anos ao Campus do Vale da UFRGS, onde fui
professor por um significativo período. Sou grato por primeiro ao Prof. Dr.
Marcelo Eichler que não apenas me levou ao CV, mas que catalisou o convite. Ser
primeiro recebido pela Diretora do Instituto de Química me fez distinguido.
Encontrar sintonia nas propostas da Profa. Dra. Nádya
Pesce da Silveira foi muito significativo. Entrar no auditório do ICTA lotado me surpreendeu. E aqui algo
inesperado. Pensava que iria falar ao grupo de estudantes. Sim, mas havia
muitos docentes, alguns já há um tempo aposentados, outros meus ex-alunos e
também alguns muito jovens que não conhecia.
Fiz uma fala. Contei histórias. Falei de História.
Tentei achar respostas a questão que estava divulgada em redes sociais. Falei
da reforma do Ensino Médio, lamentavelmente aprovada ontem na Câmara. Acenei com
uma ESCOLA COMPARTIDA em oposição à falaciosa Escola sem Partido. Respondi
perguntas. Fui extensamente aplaudido. Ganhei dos professores um vaso com uma
linda planta florida. Autografei livros. Tirei fotos e pensava que estava tudo
terminado: missão cumprida.
Então, um grupo de jovens estudantes me fez um
convite que eu não esperava: “O senhor não que visitar a nossa Ocupação?” “Sim,
claro!”. Voltamos ao prédio do Instituto de Química, em uma caminhada onde
soube da história das ocupações no mundo ocidental, da situação no Brasil e o
que ocorre, por ora, na UFRGS. Chegamos a Ocupação.
Aqui é a Recepção com serviço de portaria e
segurança. Fomos a diferentes salas: Lembrei-me que em algumas dei aula. Aqui é
cozinha (o Restaurante Universitário não serve dejejum, nem almoço e janta aos
fins de semanas). Aqui é despensa para guarda de alimentos. Este é o refeitório.
Esta é sala de estudos. Aqui a sala de reuniões. Este é o dormitório, onde vi,
talvez, uma dezena de colchões, como camas (claro, que desarrumadas, como geralmente,
acontece). Falaram-me das diferentes comissões permanentes ou grupos de
trabalhos. Não retive todos grupos, mas gostei de saber que constituíram o “Grupo
Marie Curie” que se ocupa com questões de gênero. Breve vou voltar para
discutir o livro A Ciência é masculina?
Ao final tirei fotos e gravei um vídeo sobre a minhas
impressões. Fi-las em duas dimensões: uma,
A prática audaciosa da ação verbal mais presente em uma ocupação: resistir; outra, o questionamento do porquê a imprensa
(e mesmo o governo ilegítimo) ignora as ocupações.
No retorno, uma preciosa carona ensejada pelo Fábio,
com quem dividi sala em dois campi, por dezena de anos, na qual até errar
caminhos foi saboroso. E agora sei um pouco mais do que são as ocupações.
Ler o que escreves, sempre é bom
ResponderExcluirCom saudades
Jackeline
Boa tarde Tico. Lastimo que seus sonhos tenham sido levados. Por tal declaração, imagino que possa encontrá-los nos bolsos de seus julgados legítimos governantes. Farewell.
ResponderExcluirCaro mestre, enquanto houver vozes a entoarem a manifestação da manutenção das utopias há vida. Ocupar, resistir, lutar é o símbolo ação da vida real. Abraços
ResponderExcluirMeu querido amigo Vanderlei e hospitaleiro clã familiar,
ResponderExcluirrealmente RESISTIR é uma ação verbal árdua nestes dias ditatoriais marcado por ações desastrosas de um governo ilegítimo.
Saudades de Frederico Westphalen