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quarta-feira, 6 de abril de 2016

06.—Adoçando dias aziagos

ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3153

Receamos dias aziagos. Eles sabem a agouro. A situação política nos atrapalha. Cada um convive com ela à sua maneira. Eu a vivo de maneiras díspares. Ora vou sôfrego ao pote; busco ler aqui e ali, tentando fazer análises. Há momentos que só leio aqueles que estão do meu lado, catalisado pelo mote: ”Não vai ter golpe! Vai ter luta!” E luta para mim é sinônimo de resistência. Um pacifista não entente luta como briga. Há tempos que ensaio ser um alienado. Desinteresso-me por qualquer notícia política. Admitir-se estar em um ponto de saturação ajuda a fugir de disputas, por alguns fugazes agoras.
Seja qual for a maneira de conviver com a crise, em mim ela tem sintomas determinados. Usualmente vivo uma esterilidade intelectual. A produção acadêmica é, então, mais difícil. Lembro, quando morreu minha mãe em 10 de setembro de 2001, com 92 anos, vivi uma inanição, um estado de vazio intelectual quase até o fim daquele ano.
Essa difícil convivência com o estar no mundo autoriza-me a dizer de mim. Relevem se faço deste texto um saudável exercício de escritoterapia.
Agora, não está muito diferente. Em meio à crise política o Centro Universitário Metodista do IPA cortou o meu barato. Talvez, a primeira vez que uso essa expressão em texto escrito. Encontro-a dicionarizada em www.dicionarioinformal.com na acepção “Acabar com a graça, a alegria. Estragar ou atrapalhar algo.” Não podia se adequar melhor à defenestração que sofri em 12 de fevereiro.
Surge uma contra reação. Nesta sexta-feira vou voltar a lócus que por 8,5 anos muito prezei.  Não sem muitas dificuldades, atendo convite de minha colega Marlis Polidori, com quem compartilharia um seminário este semestre. Vou cumprir algo que planejáramos antes de minha degola. Por três horas vou tentar responder a mestrandos do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão: o que é Ciência, afinal?
Vivi muito a indecisão: vou/não vou. Há dias passado, depois de já ter dito sim, quase revi meu posicionamento. Em 21 de março, depois de muitas tentativas, um grupo da Universidade do Adulto Maior conseguiu ser recebido pelo Reitor. Este, ratificando a assertiva mentirosa do Pró Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, presente na entrevista, afirmou que eu não poderia continuar trabalhando no IPA porque não dispunha de horas livres. Quando em agosto me demiti da URI Frederico Westphalen, informei ao mesmo Pró-Reitor minha disponibilidade integral. Contei-lhe então inclusive o projeto de pesquisa que pretendia desenvolver. Os alunos da Universidade do Adulto Maior não conheciam essa informação e seu protesto pela minha demissão ruiu com a mentira.
Assim, é fácil ser empático e entender quanto este retorno, nesta sexta-feira, tem para mim dimensões muito significativa. Eles não vão cortar, mais uma vez, meu barato. Don't cramp my style! Vou gratificar-me com os alunos e com os professores que estarão presentes então. Vamos lá!

4 comentários:

  1. Isso mesmo meu Caro. Nada de se abater. Confiança e entusiasmo são diretrizes neste momento, pois a vida só vale a pena se for bem vivida. Como dizia o saudoso Rubem Alves: “Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si.” Vá em frente! Aos poucos as metamorfoses são capazes de nos modificar! Se para melhor, depende de nós! Abraço

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  2. Prof., isto é o que deve ser feito, ir para frente. A verdade está em "não deixarem cortarem o seu barato"!!!!Adorei! Abra;o

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  3. Professor,
    Vá de cabeça erguida, o característico suspensório elegantemente ornando os ombros, a fala calma e sábia de sempre. Vá, e deixe os alunos e alunas da prof. Marlis felizes com suas palavras e testemunho. Vá, e mostre que a mentira tem perna curta e gagueja ao tentar sair pela tangente. Dê o recado. Deixe aquele gosto de "quero mais" nas mentes do pessoal do Mestrado. E seja feliz.

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    1. Muito querido Guto,
      leio, emocionado, tuas palavras. Tu acompanhaste/acompanhas o que sofri/sofro por terem tirado meu barato.
      Tu, qual mago me fazes o ofertório de uma poção que há de funcionar,
      Obrigado por esta maneira bonita de ser solidário.
      A gratidão do achassot

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