ANO
10 |
EDIÇÃO
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Receamos dias aziagos. Eles sabem a agouro. A situação política
nos atrapalha. Cada um convive com ela à sua maneira. Eu a vivo de maneiras díspares.
Ora vou sôfrego ao pote; busco ler aqui e ali, tentando fazer análises. Há
momentos que só leio aqueles que estão do meu lado, catalisado pelo mote: ”Não
vai ter golpe! Vai ter luta!” E luta para mim é sinônimo de resistência. Um
pacifista não entente luta como briga. Há tempos que ensaio ser um alienado.
Desinteresso-me por qualquer notícia política. Admitir-se estar em um ponto de
saturação ajuda a fugir de disputas, por alguns fugazes agoras.
Seja qual for a maneira de conviver com a crise, em mim ela tem
sintomas determinados. Usualmente vivo uma esterilidade intelectual. A produção
acadêmica é, então, mais difícil. Lembro, quando morreu minha mãe em 10 de
setembro de 2001, com 92 anos, vivi uma inanição, um estado de vazio
intelectual quase até o fim daquele ano.
Essa difícil convivência com o estar no mundo autoriza-me a
dizer de mim. Relevem se faço deste texto um saudável exercício de
escritoterapia.
Agora, não está muito diferente. Em meio à crise política o
Centro Universitário Metodista do IPA cortou
o meu barato. Talvez, a primeira
vez que uso essa expressão em texto escrito. Encontro-a dicionarizada em www.dicionarioinformal.com na
acepção “Acabar com a graça, a alegria.
Estragar ou atrapalhar algo.” Não podia se adequar melhor à defenestração
que sofri em 12 de fevereiro.
Surge uma contra reação. Nesta sexta-feira vou voltar a lócus
que por 8,5 anos muito prezei. Não sem
muitas dificuldades, atendo convite de minha colega Marlis Polidori, com quem
compartilharia um seminário este semestre. Vou cumprir algo que planejáramos
antes de minha degola. Por três horas vou tentar responder a mestrandos do
Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão: o que é Ciência, afinal?
Vivi muito a indecisão: vou/não vou. Há dias passado, depois de
já ter dito sim, quase revi meu posicionamento. Em 21 de março, depois de
muitas tentativas, um grupo da Universidade do Adulto Maior conseguiu ser
recebido pelo Reitor. Este, ratificando a assertiva mentirosa do Pró Reitor de
Pesquisa e Pós-Graduação, presente na entrevista, afirmou que eu não poderia
continuar trabalhando no IPA porque não dispunha de horas livres. Quando em
agosto me demiti da URI Frederico Westphalen, informei ao mesmo Pró-Reitor
minha disponibilidade integral. Contei-lhe então inclusive o projeto de
pesquisa que pretendia desenvolver. Os alunos da Universidade do Adulto Maior
não conheciam essa informação e seu protesto pela minha demissão ruiu com a
mentira.
Assim, é fácil ser empático e entender quanto este retorno,
nesta sexta-feira, tem para mim dimensões muito significativa. Eles não vão
cortar, mais uma vez, meu barato. Don't cramp my style! Vou gratificar-me com os alunos e com os professores que estarão
presentes então. Vamos lá!
Isso mesmo meu Caro. Nada de se abater. Confiança e entusiasmo são diretrizes neste momento, pois a vida só vale a pena se for bem vivida. Como dizia o saudoso Rubem Alves: “Nós não vemos o que vemos, nós vemos o que somos. Só veem as belezas do mundo, aqueles que têm belezas dentro de si.” Vá em frente! Aos poucos as metamorfoses são capazes de nos modificar! Se para melhor, depende de nós! Abraço
ResponderExcluirProf., isto é o que deve ser feito, ir para frente. A verdade está em "não deixarem cortarem o seu barato"!!!!Adorei! Abra;o
ResponderExcluirProfessor,
ResponderExcluirVá de cabeça erguida, o característico suspensório elegantemente ornando os ombros, a fala calma e sábia de sempre. Vá, e deixe os alunos e alunas da prof. Marlis felizes com suas palavras e testemunho. Vá, e mostre que a mentira tem perna curta e gagueja ao tentar sair pela tangente. Dê o recado. Deixe aquele gosto de "quero mais" nas mentes do pessoal do Mestrado. E seja feliz.
Muito querido Guto,
Excluirleio, emocionado, tuas palavras. Tu acompanhaste/acompanhas o que sofri/sofro por terem tirado meu barato.
Tu, qual mago me fazes o ofertório de uma poção que há de funcionar,
Obrigado por esta maneira bonita de ser solidário.
A gratidão do achassot