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quinta-feira, 15 de julho de 2010

15.- Sobre leituras e escritas.


Porto Alegre Ano 4 # 1442

Mais dia de inverno, onde a madrugada oferece uma notícia significativa: Senado da Argentina, depois de 14 horas de discussões, aprova casamento entre homossexuais. A quarta-feira foi marcada por temperaturas negativas em plagas gaúchas, sendo que Porto Alegre teve ontem a mínima de 2ºC.

Este falar de ontem pretexta referir meu dia no Seminário Pedagógico no IPA. Pela manhã assisti à excelente palestra Tecnologias inovando a educação no século XXI proferida pelo do Prof. Davi Nelson Betts, diretor de Tecnologia e Informação da Universidade Metodista de São Paulo. À tarde foi minha vez de falar. Tive gostosas surpresas, mesmo que intimidado pela situação de tentar ser profeta na própria casa, sempre evoco nessas situações – mesmo me sabendo pretensioso – descrédito sofrido por Jesus na sinagoga de Cafarnaum. Mesmo que em 2010, amealhei dezenas de falas, estar diante de meus colegas sempre é mais difícil. As alegrias começaram pelo número de participantes. Aos cerca de 200 professoras e professores fora oferecido cinco alternativas, com temas muito atrativos. Havia na minha fala cerca de 70 assistentes. Foi confortante depois de mais de duas horas, ouvir manifestação de muitos colegas. Destaco a de Antonieta Mariante, que foi presidente do Conselho Estadual de Educação, enquanto fui conselheiro em 1999/2001. Ela disse que a minha fala foi como um passeio pela Rua da Praia, para, a cada passo, se extasiar com novidades, deixando a vontade de saber mais. Ela aditou ainda o significado que tive enquanto relator a quem creditava a muito significativa contribuição na criação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Fiquei comovido com esta menção, pois foi a primeira vez que ouvi publicamente esse reconhecimento que mereceu aplausos de meus pares, após a manifestação da Antonieta.

Hoje é dia muito especial na constelação familiar. É o aniversário da

Maria Antônia. Há 11 anos com o nascimento da filha do Bernardo e da Carla adentrei no gostoso avonar. Hoje, quando a noite começar, estaremos com ela para uma esperada celebração. Para a muito querida aniversariante, – uma leitora entusiasmada e cultora da escrita – minhas reflexões da madrugada insone de trasanteontem. O muito curtido presente que a Gelsa e eu lhe ofereceremos, comentarei aqui no sábado, para não tirar agora surpresa. A foto, de meu álbum e produto de um clic de seu tio André.

É usual dividirmos escritos (e leituras) em ficção e não ficção. Nestas estão os textos acadêmicos, os técnicos, os religiosos, os de auto-ajuda, os registros de trabalhos, os diários e outros mais. Há um ferrete nos mesmos: parecem que devem apresentar ‘verdades’. Na outra divisão – ficção – estão aqueles que, tem como marca o significado do rótulo: ato ou efeito de fingir. Assim estes textos – descompromissados de relatar verdades – são construções, voluntárias ou involuntárias, resultados da imaginação; logo criação imaginária ou fantasiosa, até fantástica; quiméricos.

Sei, mas isto não é objeto deste ensaio, que muitos textos de ficção são marcados pela trazida de realidade. Aqui caberia também uma discussão, da qual também me abstenho: o que é realidade. Até porque, quando escrevemos ficção não raro devemos nos policiar para não traçarmos biografias de personagens conhecidas ou até precaver-nos que não aflore nossa autobiografia. Nesse caso damos asas a nossa imaginação, sendo que muitas vezes o id disputa com o ego a autoria de nossos textos onde nos fazemos, não raro, em super-heróis.

Entre as obras de ficção também cabem os muito apreciados romances históricos, onde viajamos a tempos ou lugares tendo com cicerone a imaginação de um escritor. Este é talvez seja meu gênero ficcional preferidos.

Não sei em qual das duas categorias coloco os livros psicografados. Ler obras dessa natureza de personagens históricos é, mesmo para quem não professa o espiritismo, usualmente enriquecedor.

É nesta divisão ficção e não ficção que aparecem as listas dos mais vendidos, as bibliotecas pessoais e, especialmente, nossas definições de leituras. Estas parecem que estão associadas, respectivamente, a duas palavras: lazer e trabalho. A primeira, parecem ligadas a algo que fizemos quando, prazerosamente, nos permitimos a fugir a nossos deveres. Outra é comandada pelo feitor que nos cobra produção.

Quando insisto com meus orientandos que devem ler ficção, usualmente há surpresas. Ou mais, parece que os incito a uma transgressão. Mesmo como intelectuais que temos compromissos com nossa formação mais ampla, deleitar-nos com romance parece fazer assomar culpas, pois estamos ‘matando o horário que poderíamos estar trabalhando’.

Tento neste texto olhar essa divisão ficção e não ficção em outra dimensão. A escrita / leitura solidária e solitária. É muito usual que um texto acadêmico seja escrito em parceria com outros colegas. Não é raro temos textos com uma litania de participantes, que quase duvidamos de tão ampla co-autoria. Já um texto de ficção, usualmente é solitário.

Eu não sou dado ao escrever acadêmico em parceria. Tenho poucos textos em co-autoria, estes usualmente com orientandos ou ex-orientandos. São realmente textos a dois. Não considero um texto em co-autoria aqueles que são contribuições individuais em capítulos de livro. Minha reduzida experiência como organizador de dois livros me mostrou que mesmo que se insistisse na exigência de um fio condutor nos capítulos de cada um dos autores, usualmente se originam textos muito individuais.

Há que reconhecer que os textos acadêmicos não são de uma maneira geral solitários. Não é sem razão, que apensamos ao final uma bibliografia e no Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação coloquei essa abertura antes de citar as obras consultadas. Encanta-me o continuado diálogo — às vezes um imperceptível sussurro — que ouço em cada um dos livros que manuseei para fazer este livro. Minha gratidão aos homens e mulheres de quem me apossei das ideias. Realmente, é muito difícil existir um texto acadêmico que não tenha pareceria, mesmo que não consultemos nenhum autor para escrever o texto. Não é sem razão, que o livro antes citado, tem os direitos autorais das cinco edições doados ao Departamento de Educação do MST, pois muitos capítulos são resultados de meu aprendizado na formação de professoras e professores para acampamentos e assentamentos.

Mesmo que ainda volte no encerramento a escrita dita solitária, quero comentar algo da leitura. Parece a esta cabe o mesmo paralelismo que fiz a escrita.

A leitura de não ficção é mais apropriada para uma leitura solidária, enquanto a ficção é mais dada a ser solitária. No primeiro caso estão os seminários acadêmicos onde todos lêem – individualmente ou em grupo – um texto e depois se debate as ideias do autor. Há grupos literários que fazem isto com obras de ficção. Mesmo que menos usual, se pode prever que aí as discussões possam não ser tão críticas como, por exemplo, em um texto acadêmico.

Pode haver leituras em parcerias de cada uma das duas categorias que abrem este texto. Ler jornal a dois é muito bom. Não classifiquei os textos jornalísticos, mas eles parecem ser – ou deveriam ser –, de não ficção; até porque alguns jornais alardeiam o compromisso com a verdade.

Numa noite de sábado de inverno ‘ler hoje, jornais de amanhã, com notícias de ontem’ numa lareira com um bom vinho e um parceiro para comentar é algo quase paradisíaco. O mesmo vale para uma manhã de domingo chimarrear com uma pessoa querida num jardim lendo suplementos literários ou revistas semanais de variedades.

A leitura de ficção a dois também pode ser algo gostoso, não para um extenso romance, mas para um pequeno conto. Não sem razão, que na distribuição de livros pela casa, na alcova há geralmente selecionada biblioteca de livros e revistas eróticos. Estes usualmente de ficção. Neste gênero os dito não ficção são imaginado como ficção, pois quase não se crê em tudo que parece fantasiar o autor. Claro que obras da biblioteca da alcova são sempre mais apetecíveis a dois.

Encerro este texto com o que o catalisou. Parece que escrever ficção é um ato muito solitário. Dificilmente o fazemos em parceria. Usualmente não fazemos citações. Os dicionários são bons coadjuvantes.

Neste escrever ocorre algo muito especial. Não escrevemos apenas quando teclamos ou fizemos um apontamento em meio a outros fazeres. Quando nos embrenhamos em um texto ficcional, nossos personagens nos envolvem tanto, que vivemos viajando ao cenário de nossa história. Chegamos ser deselegante com outros, pois não conseguimos deixar de pensar no diálogo seguinte, na nova trama e no futuro desenlace. As horas insones se fazem férteis, mas o diálogo com um parceiro pode ficar sincopado.

Assim, é fácil entender porque, às vezes o outro não esteja a fim de papo. É muito bom viajar na ficção.

Depois dessas reflexões tecidas por escrevinhador entusiasmado, adito votos de uma muito boa quinta-feira. Ainda, ofereço um convite de nos lermos amanhã, aqui.

6 comentários:

  1. Caro amigo prof. Chassot: A Maria Antonia convive no meu imaginário desde que conheci o avô e o belo neologismo avonado. Faço imensa questão de parabenizá-la, por este meio, neste dia e nesta bela idade, daqui dos trópicos. Sei que ela está a enfrentar baixas temperaturas, contra as quais envio o calor do meu melhor abraço.
    Saudações a ela, aos pais e ao avô felizardo.
    Do amigo
    José Carneiro

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  2. Caro amigo prof. Chassot:
    diante do frio que assola POA, como é sua vida dentro de casa? Vinhos, agasalhos, leituras? Nada de piscina, certamente e as janelas fechadas? Você gosta do frio?
    Abraços,

    José Carneiro (da quente Belém)

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  3. Meu querido amigo José,
    aqui está mesmo um frio de renguear cusco [Frio de renguear cusco quer dizer que o frio é tão intenso que pode deixar um cachorro manco] em oposição ao calor de Belém que deve ser de pelar orelha.
    Nossas casas usualmente não têm estrutura para fios como desses dias. Uma boa lareira, resolve, mas isso é usual só nos lazeres de fim de semana. Quando possível um bom vinho e pinhão cozido, de preferência na brasa da lareira.
    Piscina só se for para congelar a alma.
    Um afago com admiração do


    attico chassot

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  4. Meu querido José,
    obrigado pelos cumprimentos à Maria Antônia, estou passando essa mensagem para ela e para os felizes pais.
    Teu calor vindo desde Belém aquenta-nos a alma.
    Tu que também vives os dulçores do avonado sabes desta curtição,
    um afago do
    attico chassot

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  5. Muy querido Profesor Chassot,
    ¡Feliz cumpleaños a su nieta!! es realmente muy linda.
    Por otra parte, su texto es muy enriquecedor. Me hizo evocar la cita que usted alguna vez ha traído de Newton: "Si he visto más lejos es porque estoy sentado sobre los hombros de gigantes". Eso pasa en todo. Los seres humanos nos construimos sobre lo construido por otros.
    Que tenga una linda fiesta,

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  6. Muy estimada Matilde,
    primero acepte mis escusas por solamente agradecerte hoy tu precioso comentario de ayer.
    Como he anunciado en aquella edición, he estado en el cumpleaños de María Antonia, que ha sido un momento de un gran regocijo familiar.
    Gracias por tus comentarios acerca de mis reflexiones acerca de la escrita y de la lectura. Eso es un asunto que cada vez más me encanta, pues a mi parece una de las mejores celebraciones de la creación de los humanos. Así, por ejemplo, coloco acá algunos caracteres y ahí en Ecuador tu los interpretas y vivificas los míos pensamientos poniendo con tus lecturas en tus escrituras.
    Eso para mí es fantástico.
    Una vez más, gracias por vez o otra enriquecer ese blog con tus análisis
    attico chassot

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