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domingo, 3 de janeiro de 2010

03* Domingo também pode ser dia de sagu.

Porto Alegre Ano 4 # 1249

Estamos no primeiro domingo do ano. É um domingo diferente. Ele para muitos, entre os quais me incluo, encerra 11 dias de recesso. Amanhã não será apenas o primeiro dia útil do ano, mas o primeiro pós-recesso. Será uma segunda-feira de bocejos e saudades.

Ontem ainda tivemos mais um ensolarado dia de praia, com céu azul e com um ‘nordestão’ mais suave. Assim a ‘meteô’ me bafejou com três dias pude aproveitar para passeios na orla e banhos de mar. Desconheci-me nesses usufrutos.

Cheguei de Atlântida às 22h em ônibus que no seu inicio em Capão da Canoa foi moroso devido à alta densidade do trânsito. Registro também meu protesto contra a Unesul por não haver luzes individuais de leitura a bordo.

Mas, retornado a Morada dos Afagos vivo uma situação que se assemelha a de náufrago em uma ilha deserta na segunda década do século 21. Por contingências que não cabem detalhar não tive acesso ao meu telefone celular, que na manhã de ontem ficará na residência da Gelsa. Mais de uma vez tenho referido o quanto esse artefato tecnológico é nossa memória auxiliar. Pois desde ontem estar desprovido da mesma me faz um sujeito incomunicável com os meus. Todas as alternativas de composição e recomposição do número da Gelsa foram baldadas. Ainda quando a Gelsa me levava à Rodoviária, ontem à noite me chamava a atenção como o telefone fixo da casa de Atlântida não fora conectado. Não tenho como comunicar-me com nenhum dos meus filhos. No Skipe não encontro ninguém. Sinto-me um desprovido de qualquer acesso. Nem um mar eu tenho mais para lançar uma garrafa com um SOS.

Mas, já antes deste exílio decretado pela tecnologia, não sei bem porque resolvi hoje falar de sagu. Antecipo que não vou dar receita de uma das mais usuais sobremesas do Rio Grande do Sul. Ela se encontra em qualquer restaurante de beira de estrada e também nos mais requintados bufês.

Houve época, não muito distante, que os jornais publicavam receitas na primeira página. Como determinados órgãos de imprensa se recusavam a substituir matérias vetadas e os censores não admitiam que se deixasse espaço em branco, recorria-se a textos aleatórios para que o leitor pudesse entender o que estava ocorrendo. Cartas inventadas na redação, tratados jurídicos e notícias sobre criação de animais e cultivo de flores apareciam com destaque nas páginas nobres dos jornais, no lugar de editoriais e reportagens que o lápis vermelho do censor havia riscado.

Mas, aqui, falar em sagu sem publicar receitas tem uma explicação prosaica. Há tantas e tão saborosas receitas na rede que não ouso que esse blogue seja mais um. No Google para ‘receita de sagu’ aparecem quase 100 mil resultados. Para sagu de leite há mais de 32 mil respostas e para de vinho quase outro tanto.

Á que considerar também que nesse período de recesso mascados pelas festas de Natal e Ano Novo já houve muitas oportunidades de cometermos o pecado da gula. Muitos de nós viemos de dias com a fruição de sucessivas (e não usuais) iguarias que trazer ainda receitas de uma das mais saborosas sobremesas poderia ser até de mau tom.

Se a ambrosia – o manjar dos deuses do Olimpo -- é segundo a mitologia grega um doce com divinal sabor, tão poderoso que se um mortal, a quem era vedado, o comesse, ganharia a imortalidade. Conta a história, que quando os deuses o ofereciam a algum humano, este, ao experimentá-lo, sentia uma sensação de extrema felicidade. Mas, que os moradores do Olimpo não me ouçam, prefiro sagu à ambrosia. Assim, este primeiro domingo de 2009 – véspera de iniciarmos para valer um novo – sabe a sagu. E ele, como o manjar dos deuses, traz um sabor ao domingo, como eram os almoços dominicais de minha infância, no único dia da semana que havia sobremesa. E essa muitas vezes era sagu, acompanhado de creme de leite.

Por outro lado, mesmo que com alguns colegas da área da Química já me propusesse a participar de um ‘Simpósio sobre sagu’ eu mesmo sendo um muito habitual consumidor dessa apetitosa iguaria jamais a elaborei. Muito assisti os rituais de seu preparo na cozinha de minha mãe.

Mas qual a razão da escolha desse tema. Com muita frequência tenho visto uma discussão: O que é sagu, afinal? Aliás, se alguém fizer uma rápida investigação entre os consumidores desta apreciada sobremesa e trouxer essa pergunta se surpreenderá com o usual desconhecimento.

Sagu é uma fécula – amido – extraída de várias espécies de palmeiras, como a Metroxylon sagu – gênero botânico pertencente à família Arecaceae. Seu fruto (o sagu) é utilizado como alimento básico no Extremo Oriente, feito a partir do amido processado encontrado no interior do tronco do Saguzeiro ou do Sagueiro. O saguzeiro costuma crescer muito rapidamente (cerca de 1,5 m por ano), nas planícies e pântanos de água doce dos trópicos. Vale aditar que sagu é também uma bebida espirituosa da Índia

O sagu brasileiro é feito de fécula de mandioca, que por sua vez é um subproduto da moagem do tubérculo para a confecção de farinha. Há também o sagu de tapioca – fécula comestível, extraída das raízes da mandioca ou aipim. Assim entre nós as bolinhas brancas de sagu são artificialmente manufaturadas, como se fossem o produto do saguzeiro.


Espero que essa ‘artificialidade’ não faça a gostosa sobremesa perder adeptos. Receita hás na rede que parecem ser saborosas. Para aqueles que neste domingo terão esse manjar como sobremesa – um sagu de vinho, com creme de leite e baunilha gelado – que ela torne ainda esse dia mais saboroso. A todos, votos de uma muito boa abertura para valer de 2010, que para mim é o início do 50º ano letivo.

2 comentários:

  1. Mestre Chassot, sua fala sobre a ambrosia me apeteceu a falar sobre mitologia grega. Já que a temática foi a alimentação, e houve citação à alimentação dos deuses gregos, eu permito-me falar sobre a lenda grega para a criação da constelação de aquário.
    Reza a lenda que a responsável por servir o alimento e a bebida divina era Hebe. a deusa da juventude. porém, certa feita, a jovem imortal derramou néctar aoserví-lo, e foi motivo de chacota perante alguns deuses. Zeus troante, querendo evitar que Hebe passasse por essa situação novamente, ordena que o sempre célere Hermes desça até a terra e traga um mortal para auxiliar Hebe nas tarefas do banquete.
    Assim, cumprindo os desígnios do filho de Cronos, Hermes desce à terra e sequestra Ganimedes, um jovem pastor (outras versões afirmam que foi uma águia - ave símbolo de Zeus - quem raptou o jovem). Chegando ao Olimpo, Zeus concede a imortalidade ao jovem, e dá-lhe a honra de servir néctar aos deuses por toda a eternidade, ao passo que Hebe se responsabilizaria por servir apenas a ambrosia.
    Com o passar do tempo, os pais de Ganimedes ficam desesperados com o desaparecimento do filho. Hermes aparece a esses mortais, e fala da honra que Zeus conferiu ao jovem. Os pais ficam felizes, mas falam que sentiram saudades do filho, e é então que Hermes aponta para o firmamento e diz que Zeus permitirá que Ganimedes seja visto por todos os mortais, basta observar a mais nova constelação no céu: Aquário, que representa um jovem despejando líquido de um jarro.
    Ótimo dia.

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  2. Marcos Vinicius,
    muito especial comentarista deste blogue. Obrigadíssimo por trazida tão importante. Nem posso dizer complementar a meu texto, mas substantiva a ele.
    Confesso que desconhecia essas funções de Hermes e também da alçada de Ganimedes à imortalidade.
    Os leitores deste blogue e eu agradecemos e quando olharmos os céus e virmos a constelação de aquário haveremos de nos lembrar de Hebe e de Ganimedes.
    Tua contribuição da novo estatuto a ambrosia que tentei superar com meu sagu,
    Renovo o convite a tua escrita de blogadas como esta de hoje,
    attico chassot

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