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sexta-feira, 8 de março de 2019

08.-Para celebrar uma história



ANO
 13
AGENDA 2 0 1 9
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
3396
Nesse fatiar a vida em voltas que, como habitantes do Planeta Terra, damos ao redor do sol, a cada 365 dias um evento faz aniversário... isto para humanos e outros animais, vegetais e qualquer construto como uma casinhola ou um complexo de arranha-céus.
Os humanos são muito dados a celebrações de completação de voltas ao redor do sol e dentre as comemorações a mais usual é o aniversário de nascimento. Tanto isso é senso comum, que ao perguntarmos a uma pessoa por seu aniversário. Ela dirá seu dia natalício.
Eu tenho um aniversário que para mim é muito significativo. No dia 13 de março de 1961 eu dei a minha primeira aula. Desde então celebro nesse dia o meu aniversário de ser professor. Assim, nesta semana que está a começar, completo 58 anos de professor, iniciando então a 59ª volta ao redor do sol enquanto professor, isto é começarei, na próxima quarta-feira, meu 59º ano letivo.
Em 2011, publiquei um livro [CHASSOT, Attico. Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto. Ijuí: Editora Unijuí; 501p. 2012. ISBN 978-85-7429-986-0] em comemoração aos meus 50 anos de magistério. O livro tem 51 capítulos: um para cada ano de 1961 a 2011. Encontrei uma alternativa que se diria ser uma solução a duas circunstâncias (Tive que me policiar para não referir um dito popular: matar dois coelhos com uma só cajadada). Como nos próximos dias tenho falas na Unicamp; na Unipampa, câmpus de Uruguaiana, RS; na UFF, em Niterói, RJ e na Unifesspa, em Marabá, PA, defino que as blogadas dos dias 8, 15 e 22 de dezembro sejam frações do primeiro capítulo do Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto que por só ser encontrado em algum sebo justifica a transcrição aqui.
Como a publicação do primeiro excerto ocorre no Dia Internacional da Mulher quero homenagear todas as mulheres na figura de minha mãe, que como se verá neste primeiro capitulo, foi decisiva no meu ser professor. A foto é reprodução de cartaz de evento há 9 anos.
1961é o ano que começa a história de professor que quer ser central nesse livro. Sei só agora que 1961 foi o ‘Ano Internacional da Semente’. Se der voz a prognósticos talvez deva pensar que hoje, quando olho as dissertações e teses que orientei, certamente quando falar delas por aqui, vou destacar aquela acerca do milho crioulo como uma das mais significativas. Há de aparecer, ao longo da história que começa a ser contada, minha participação nas ‘místicas’ enquanto professor dos cursos de formação de professoras e professores para escolas de acampamentos e assentamentos do MST, quando a semente é dos ícones mais evocados.
Nesse ano, houve duas posses em mandatos presidenciais: Jânio Quadros e John Kennedy, cujos mandatos terminaram colapsados de maneiras distintas, alterando Histórias que entraram também na sala de aula de um neo-professor. Se 1957 – o Ano do Sputnik – não entra nesta história, dentro do mesmo balizador, 1961 foi o ano que o russo Yuri Gagarin tornou-se, em abril, o primeiro homem no espaço, pronunciando uma frase histórica: ”A Terra é Azul!” com a primeira foto da Terra, que quase meio século depois muito usei em palestras ao falar acerca dos cuidados com a saúde do Planeta. Menos de um mês depois Alan B.Shepard torna-se o primeiro estadunidense no espaço. Recordo-me que me coube, como professor de Ciências, em uma ‘hora cívica’ do Colégio – no meu primeiro ano de magistério -- explicar a diferença entre o vôo circular do primeiro cosmonauta e o orbital do segundo. Esta foi talvez minha primeira fala extra-classe, dentre as inúmeras que proferi como professor.
Mas para começar a contar a história de meu fazer-me professor retorno ao ano de 1957, quando ‘me formo’ no Ginásio São João Batista, uma escola marista, em Montenegro. Os irmãos maristas eram mantenedores de Ginásios em muitas cidades do interior, que eram responsáveis pela educação masculina. A educação feminina nas escolas católicas era feita em redes mantidas por irmãs, que no curso primário eram mistas. Há um capítulo (1983) em que falo de minha escolarização no primário e no ginásio. Os colégios luteranos eram mistos. Outras denominações religiosas, além de católicos e luteranos, não tinham presença muito significativa com escolas. A existência de colégios públicos para formação secundária era muito rara nas cidades do interior.
Aqui é preciso uma explicação. No começo da segunda metade do século 20, concluir o curso ginasial [então havia cinco anos de curso primário que eram sucedidos por quatro anos de curso ginasial; neste se ingressava por um exame de admissão], especialmente no interior, era motivo de solene formatura. Esta se realizava no melhor clube da cidade e na mesa que presidia a solenidade se assentavam além do diretor do Ginásio, do paraninfo e dos professores homenageados, o prefeito municipal, o vigário da paróquia e comandante do quartel da Brigada Militar.
Formatura no curso ginasial (hoje seria terminar o ensino fundamental) merecia até quadro de formatura, que antes de ir para o panteão da escola ficava exposto na vitrine da principal loja da cidade, bem em frente à praça. Não eram poucos os formandos que passavam a ostentar a partir de então anel de grau.
Na minha formatura, além do diploma havia os que ganhavam uma láurea por bom comportamento e em cada uma das matérias [como se chamavam as disciplinas] havia premiação com medalhas acompanhadas de prêmios, geralmente livros doados pela ‘forças vivas da sociedade’. Sei que recebi três medalhas – fotografias de então mostram que uma menina, talvez de uns seis anos, finamente vestida, trazia as medalhas em uma bandeja, assim como nas Olimpíadas – na memorável noite de 8 de dezembro de 1957. Uma foi em canto orfeônico e recordo ainda o comentário do diretor Irmão Luís Benício, de que eu não merecia o prêmio, pois desafinava até o hino nacional; conquistei-o porquê a prova era teórica e eu sabia responder as perguntas do ‘Manual de Canto Orfeônico’ de Luiz do Rego, uma edição FTD. A outra medalha foi de latim. A terceira parece que foi de matemática.
Nunca me esqueço, que uns anos antes de minha formatura, talvez ainda estivesse no primário, quando o meu pai chegou de uma formatura de um filho da D. Adolfina, viúva de um ferroviário colega dele, dizendo que gostaria que um dia um de seus filhos se formasse no ginásio. Todos os sete fizeram isso, quase todos se graduaram na universidade e um deles se fez doutor. Se vivo fosse talvez contasse com orgulho, em 2002, que tinha um filho fazendo pós-doutorado ‘no estrangeiro!’.
Neste ano de 1957, venho a Porto Alegre e faço seleção para o curso científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Assim em 1958/59/60 estudo no Julinho. Destes três anos quero destacar uma data.


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