ANO
9 |
B E R L I N – Alemanha
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EDIÇÃO
3005
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Desde a noite da última quarta estamos em Berlin — a exuberante
vapital de uma das nações mais rica do Planeta. Há uma razão muito especial
para estarmos, mais uma vez, nesta cidade. A Gelsa, nos dias 15, 16 e 17 (QUI,SEX
e SAB) participou do The
disorder of mathematics education na
Freie Universität Berlin. O título do evento poderia ser entendido como O distúrbio da educação matemática dentro
de propostas para investigações socialmente relevantes.
Enquanto a matemática tem a reputação
de ser uma ciência completamente consistente e coerente, o campo da educação
matemática, em certas situações parece ser algo complexo, que por vezes, assume
posturas contraditórias, caóticas ou mesmo desordenadas.
O encontro reuniu 27 pesquisadores de
educação matemática de vários países. Alguns dos pesquisadores desenvolveram ou
estão desenvolvendo metodologias de ponta, permitindo novas realidades na
pesquisa em educação matemática; outros produziram uma crítica radical e
re-politizada da educação. Uns e outros buscam realizar trabalhos relevantes na
dimensão sócio-politica. O espírito deste encontro foi compartilhar, discutir e
contestar as abordagens desenvolvidas e sondar as condições em que uma
compreensão da pesquisa em educação matemática pode ser desenvolvida e
continuada.
Nos dias do evento estivemos
hospedados no hotel para professores visitantes da Sociedade Max Planck, em uma região que até o
nome das ruas e dos prédios evoca a História da Ciência. Ofereço uma amostra na
foto ao lado. Também neste período muito lamentei as minhas limitações de idiomas
como o inglês e alemão. Não há como não sofrer com a penalização imposta
(confusão das línguas) pelo Todo Poderoso aos audaciosos semitas, quando estes resolveram
construir a Torre de Babel.
Justificada a escolha da cidade que faz abertura desta viagem
(que como comentei na blogada anterior é minha 30ª viagem internacional), uma
breve referência a duas outras vezes que estive em Berlin: 1989 e 2001.
A estada de 1989 (na minha primeira viagem internacional) precisa
ser datada, pois, há 25 anos, em julho, quando estive aqui, havia Berlin
Ocidental e Berlin Oriental. Então, para cruzarmos o Muro e ir à Berlin
Oriental, submetendo-nos a rigorosa inspeção.
Mas, em 9 de novembro de 1989 desaparece o maior e mais
imponente divisor físico entre um
limite do que se dizia ser entre o Ocidente e o Oriente, ou entre a democracia
ou o comunismo, desaparece depois de 28 anos. Isto parecia incrível e mesmo
impensável.
O antes sólido e quase intransponível Muro de Berlin se esboroa. Então, multidões de alemães orientais subiram
e atravessaram o Muro, juntando-se aos alemães ocidentais do outro lado, em uma
atmosfera de celebração. O Muro caiu!
Quando voltamos em janeiro de 2001, 12 anos depois, já não
encontramos duas Alemanhas e nem duas Berlin. Encontramos outra Berlin, que não
era a soma das duas do período do Muro. Talvez a marca maior daquela segunda
visita, já distante 14 anos da primeira, era uma onda febril de construções.
Evoco, de então, imensas gruas ajudando a subir construções gigantescas com
marcas de uma arquitetura arrojada. Talvez, agora, 25 anos depois da queda do
muro, o que mais chama a atenção são as novas construções. Elas também atestam
da pujança do capitalismo produtor de desigualdades. Aliás, muitas novas construções continuam a mostrar
a riqueza de um dos países de um capitalismo pujante.
A rigor, nossas férias começaram ontem, quando nos transferimos
da Residência de Hóspedes da Sociedade Max Planck para um hotel nas imediações
da nova mega Hauptbahnhof, não distante da Porta de Brandenburgo. Nos três dias
do evento fiz turismo sozinho. Constatei minha dependência de minha muito expedita
Gelsatur. Neste turismo solo, não me faltou apenas a intérprete competente, mas
também a guia muito atilada para me mostrar Berlin.
Não tenho como fazer uma adequada síntese de tudo que vi.
Destaco uma exposição de Lutz Friedel com dezenas de esculturas em madeira que
homenageiam a centenas de mortos na tentativa de cruzar o Muro. Visitei também um
museu sobre a República Democrática Alemã (DDR). Não apreciei muito, pois ao
tentar retratar a vida como era então, tudo (automóveis, eletrodoméstico, meios
de comunicação...) aparenta ser velho e fora de uso (se fosse feito o mesmo com
qualquer país capitalista, as coisas também pareceriam velhas).
Uma das maiores atrações que visitei no sábado foi a Catedral de
Berlim (em alemão Berliner Dom). Esta
é uma catedral protestante (luterana) que se encontra na Ilha dos Museus. A
"Berliner Dom" está localizada em Berlim Mitte, junto ao rio Spree,
no século 13, para tornar-se uma das maiores cidades da Europa com mais de 3,5
milhões de habitantes.
A catedral é uma joia arquitetônica da cidade, juntamente com o
famoso Portão de Brandenburgo. É impossível não encantar-se com a imponência de
suas cúpulas e seus monumentais 114 metros de comprimento e 116 metros de
altura.
A Berliner Dom, a maior e mais importante igreja protestante de
Berlim, foi construída entre 1894 e 1905, mas a sua história se inicia muito
antes. A história da catedral de Berlim se inicia em 1465 quando a Capela St.
Erasmus, pertencente ao recém-construído palácio real foi elevada ao status de
igreja colegiada ou “Domkirche” que era o termo usado na época para designar
este tipo de igreja. Em 1535, o príncipe-eleitor Joachim II começou a remodelar
o prédio que abrigava a igreja
dominicana e que ficava ao sul do palácio, para ser a igreja da corte. Com a conversão de Joachim II ao protestantismo, a até então igreja católica foi transformada em protestante luterana.
dominicana e que ficava ao sul do palácio, para ser a igreja da corte. Com a conversão de Joachim II ao protestantismo, a até então igreja católica foi transformada em protestante luterana.
Cujus
regio, eius religio é uma frase latina que significa literalmente "De quem [é]
a região, dele [se siga] a religião", ou seja, os súditos seguem a
religião do governante. Trata-se de um princípio tão antigo como o Cristianismo
de Estado, estabelecido no Império Romano pelo imperador Constantino.
Na Reforma Protestante, o velho princípio ganhou uma nova vida.
Foi usado no tratado de Paz de Augsburgo, assinado em 1555 entre as forças do
Sacro Imperador Romano Carlos V e as forças da Liga de Esmalcalda, que
determinou um compromisso entre as forças luteranas e católicas na Alemanha. O
tratado ofereceu a confirmação imperial ao princípio que havia sido apresentado
pelos príncipes alemães na Confissão de Augsburgo, em 1530.
Na Dieta de Augsburgo, os príncipes territoriais e as cidades
livres ganharam a liberdade de definir a religião local, o direito de
introduzir a fé luterana (o jus reformandi) e direitos iguais aos dos estados
católicos do Sacro Império fo central de então.
Como o prédio da igreja já estava bem degradado, Friedrich II
ordenou em 1747 que um novo prédio fosse construído. Assim, baseada no projeto
arquitetônico de Johann Boumann, foi construída entre 1747 e 1750 uma nova
catedral em estilo barroco no local que hoje se encontra a Berliner Dom. Cerca
de 70 anos mais tarde, para celebrar a união das comunidades luteranas da
Prússia, a catedral foi remodelada por dentro e por fora em estilo neoclássico
pelo arquiteto Karl Friedrich Schinkel. Anos mais tarde, a família real achou
que esta catedral era muito modesta e não representava bem a monarquia. Sob
ordens do rei Friedrich Wilhelm IV, foi decidido então que uma catedral mais
imponente deveria ser construída. Assim a antiga catedral foi demolida e a
construção da atual Berliner Dom se iniciou em 1894, sendo finalmente
inaugurada em 27 de fevereiro de 1905. Projetada por Julius Raschdorff em
estilo barroco com influência do renascimento italiano, a catedral com suas
dimensões monumentais de 114 metros de comprimento, 73 metros de largura e 116
metros de altura acabou sendo comparada e considerada um contrapeso protestante
para a Basílica de São Pedro no Vaticano.
Como muitos prédios, a catedral foi muito danificada durante a
guerra e como ficava na Berlin Oriental, os russos na privilegiou sua
reconstrução e esteve muito em discussão a sua total demolição. Em 1975, começou
a ser parcialmente reconstruída. Já em 1993, alcançada a reunificação foi
totalmente reconstruída, para voltar a sua aparência antiga e bonita.
A Berliner Dom pode ser visitada e sem dúvidas vale muito a
pena, pois a catedral também é majestosa e belíssima por dentro, sendo
ricamente decorada com relevos que ilustram histórias do Novo Testamento e
importantes figuras da Reforma Protestante. A estátua de Lutero, por exemplo, é
impressionante.
Em seu interior encontra-se o maior órgão de tubos da Alemanha,
tendo mais de 7.200 tubos, simplesmente uma obra de arte construída por Wilhelm
Sauer. A catedral também abriga a cripta contendo mais de noventa tumbas e
sarcófagos, incluindo as do rei Friedrich I e da rainha Sophie Charlotte, que
são ricamente trabalhadas, das quais a foto da esquerda é um pequeno exemplo. Há tumbas de bebes e mesmo de crianças natimortas
pertencente a famílias reais.
Devo registrar que por ocasião de minha visitação eu devo ter
batido meu recorde de ascensão e descida em um mesmo dia. Não subi todos os 270
degraus que leva a até o alto da cúpula. Mas cheguei até a passarela onde
começa a cúpula. Fui recompensado com a vista deslumbrante tanto exterior como
do interior da catedral.
É fascinante viajar na história em sua companhia. Já estávamos com saudades da partilha dos seus conhecimentos. Chama a atenção a preservação que os alemães tem da sua história, memória e cultura com uma liberdade de credo de dar inveja. É o que transparece à distância. Uma excelente viagem. E não nos deixe órfãos. Grande abraço.
ResponderExcluirCaro Chassot
ResponderExcluirNão resta dúvidas de que uma viagem assim é recompensadora em todas as suas dimensões. A descrição da Domkirche é ilustrativa da riqueza cultural dessa nação capitalistamente progressista. Votos de boas férias que se iniciam com a assessoria da Gelsatur. Um forte abraço.
Feliz com as novas publicações. Ansioso pelas futuras. Bom descanso. Gedson.
ResponderExcluirPai
ResponderExcluirBom ter noticias !
Muito lindo !
Bernardo
Chassot,
ResponderExcluirfiquei maravilhado com a descrição da Berliner Dom. Também encanto-me com igrejas grandiosas.
É notável a regeneração de Berlim, sinto vontade de conhecer este loco impregnado de história.
Espero que tenhas orado pelos amigos em tua peregrinação…
Fiquei pensando em fazer um Chassot-hörsaal lá na escola.
Abraços,
Guy
Em tempo: conto com mais fotos e relatos! Adorei o passeio por Berlim.
Amigo CHASSOT,
ResponderExcluirÉ muito bom saber que vocês estão caminhando por este mundo – vendo suas belezas, suas história, suas “gentes”!
E, ainda, . . . contando as experiências para os que ficam.
Liguei para o almoço de janeiro/15 e me falaram: só se tiveres passagens para Berlin.
Vou almoçar assim mesmo . . . numa mesa de 2 lugares . . onde 1 estará vago pessoalmente, mas presente no carinho e na lembrança.
SAUDAÇÕES a ti e à Gelsa.
Até.
Muito legal! Adorei as fotos também!
ResponderExcluirAmei a descrição de sua viagem a Berlin, me senti passeando por estes lugares.
ResponderExcluirQue maravilha Professor Chassot!
Abraços!