ANO
13 |
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EDIÇÃO
3410
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Na blogada anterior
apresentei três textos que suplementam o texto que está a seguir. Este se constitui
de alguns excertos a serem inserido no capítulo Nossa ancestralidade cristã preparado para a nona edição de A Ciência é masculina? É, Sim Senhora!
Não é algo complexo
reconhecer o quanto o DNA cristão fez/faz machistas os humanos
ocidentais. Isto é verificável nos textos canônicos fundantes da Bíblia cristã.
Todavia, parece que devamos também estar mais atentos com as contribuições de
alguns textos tidos como apócrifos. Todavia, a busca de entender como era o
nascente cristianismo, parece, então, não se poder apenas assestar óculos nos
textos ditos canônicos. Nesta situação importaria saber responder: quem definiu, por exemplo, quais e por que
tais evangelhos são canônicos e por que outros são apócrifos?
Considerar hoje, algo
da vida de Jesus ou dos apóstolos, por exemplo, a partir de um evangelho ferreteado
de apócrifo não faz a mínima diferença se comparado com um evangelho dito
canônico, na contribuição que este artefato cultural teve quando de sua
produção. O classificado como apócrifo, então, edificou a muitos? Ele fez
conversos? Ele determinou deserção? Ele foi motivo de escândalo? Isto interessa
saber hoje, mesmo que ônus e bônus já tivessem acontecidos há dois milênios.
Parece ser senso
comum, que pessoas que tenham um pequeno conhecimento bíblico quando falam em
textos apócrifos lembram do evangelho de Tomé. Trago um exemplo pessoal. Em outro
texto precisava referir a 'parábola da
semente de mostarda' narrada por três dos evangelistas (Mateus, Marcos e
Lucas). Uma versão da parábola, muito parecida com a dos evangelistas aceitos
pela ortodoxia, também ocorre no apócrifo Evangelho de Tomé. Ou seja para mim,
ao citar Tomé tinha a pretensão de ter coberto o assunto dos apócrifos.
Entretanto, Frei
Jacir de Freitas Faria descreve mais de duas dezenas de textos apócrifos, em
sua maioria descritos como ‘Atos Apostólicos’ de diferentes apóstolos e outras
pessoas significativas na nascente igreja cristã Restam as perguntas: Quem e
por que tão elevado número (se comparado com o canônicos) foram declarados
apócrifos.
O escritor Élcio Mário
Pinto narra (em comentário à edição do mestrechassot.blogspot.com de
05/07/2019) ao evocar um professor de seu curso de Teologia: “diante de um
texto é preciso perguntar 'meu querido texto, de qual conflito você saiu?'
Então, talvez se possa identificar os conflitos entre autoridades e,
principalmente, quais são os interesses, seja um bom caminho a percorrer.
Depois disto, é salutar reconhecer que toda instituição hierárquica alimenta-se
de poder e de autoridade.”
Assim, na
corroboração de teses que se quer ver ratificadas neste A Ciência é masculina? É, Sim Senhora! se ampliam as referências
assentadas em apócrifos. A ‘Nossa ancestralidade
cristã’ parece ter o machismo adensado — mais uma vez fica-se apenas em um
exemplo de apócrifo — na contemplação do capítulo Tertuliano e os Atos de Paulo e Tecla de Sebastiana Maria Silva Nogueira
(2015), inserto em Apocrificidade. Ao
referir as posições demolidoras de Tertuliano acerca dos
referidos Atos de Paulo e Tecla, mais
especialmente na censura à Tecla é reforçada um cristianismo para mulheres submissas a seus
maridos e caladas nos cultos religiosos cristãos.
Tertuliano tenta
desqualificar narrativas contidas em Atos
de Paulo e Tecla porque Tecla não apenas se auto-batizou como foi ainda mais
audaciosa: batizou a muitos que se convertiam por suas pregações que eram
comoventes e frutuosas em conversos ao cristianismo e se dizia que estes
fazeres eram validados pois tinham a chancela ou coparticipação de Paulo.
Ser batizado não
era apenas o cerimonial de adesão ao cristianismo mas também para os adultos
fazia a remissão de todos pecados anteriores. A virgindade era apresentada como
algo desejável. Se tal não fosse possível havia recomendação que os casais
levassem um matrimônio casto.
Tecla renunciou o casamento
para permanecer virgem. É fácil imaginar quanto se considerava Tecla uma
usurpadora porque também perdoava pecados e o quanto as outras mulheres, por
fazerem o mesmo, ficavam empoderadas.
Tertuliano é
explicito: “Mas se tal Ato de Paulo foi assim denominado falsamente, reivindica
o exemplo de Tecla para permitir ensinar e batizar, saibam vocês que na Ásia o presbítero
que compilou este documento [...] foi descoberto e, confessando por amor a
Paulo foi demitido de seu ofício.” Adiante questiona: jamais se poderia
acreditar que Paulo daria poder a uma mulher de ensinar e batizar. Para assegurar
a ‘cassação’ dos Atos de Paulo e Tecla, Tertuliano invoca excertos da primeira
Carta aos Paulo aos Corintos antes transcritos e comentados.
Realmente foi uma
preciosa perda o banimento dos Atos de
Paulo e Tecla dos textos canônicos. Mesmo que nos moimentos iniciais ele
houvesse sido usado em algumas comunidades, não apenas para edificação dos
cristãos com vitoriosa história da lida virgem Tecla como para argumentar em
favor de direitos às mulheres de ensinar, batizar e perdoar pecados. Não fosse
a misoginia de Tertuliano (depois apostasia da igreja machista que gestou),
talvez tivéssemos outra igreja cristã.
Sim, meu amigo Chassot! Tens razão "(...) talvez tivéssemos outra igreja cristã." Talvez se Pedro assumisse como dirigentes cristãs também as mulheres testemunhas da ressurreição; talvez se Maria, a mãe, fosse declarada líder em lugar de Pedro; talvez se Madalena fosse admitida como apóstola por sua vida junto ao Mestre; talvez se as linhas das diretrizes das primeiras comunidades elevassem a mulher à condição que merecia e que lhe cabia; talvez, talvez... E se alguém nos diz: por que Jesus não o fez? Ele o fez, até com as crianças, os velhos, os doentes e todos os discriminados pela sociedade machista da religião e autoritária do poder estatal. Mas, qual o quê, mulheres apresentando-se como dirigentes e líderes num "reino" masculino de autoridade e força? Quem poderia aceitar? A resposta é não, começando pelos primeiros que temiam a concorrência feminina. E com razão, devo dizer, porque já me convenci de que se as mulheres deixarem as instituições, religiosas ou não, elas "fecham". Quando seminarista, tantas foram as ocasiões de comprovação: se as mulheres saírem da Igreja, ela fecha as portas, não como quem faz um balanço, mas como quem declara falência. Sem as mulheres, não há Igreja. A questão é esta: será que elas, as mulheres, têm consciência da própria força? Parece-me que ainda não. Então, vamos despertá-las. Élcio Mário Pinto.
ResponderExcluirAté quando a Igreja perpetuará o explícito machismo? Será enquanto existir a subserviência humana ao medo de questionar a relação entre Fé e Cultura (a do machismo, especialmente)? Ou enquanto persistir a ignorância da ausência da "letras". Minha questão é: O Amor cristão, de Jesus Cristo. Este não era machista... Abraços.
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