ANO
9 |
EDIÇÃO
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Hoje é o Dia do Químico. Cada vez mais, não me sinto inserto
(talvez, seja incerto meu lugar nestas celebrações), pois sou um professor de Ciências.
Hoje é feriado estadual em algumas unidades da federação (Distrito Federal, Rio
de Janeiro Rondônia). Isto não pela lei 2.800, de 18 de junho de 1956, que regulamentou
a profissão de Químico. Nesta data se comemora o Dia do Evangélico.
Estou mais uma vez em Manaus. É a segunda vez neste ano; já mais
de uma dúzia de vezes nos últimos quatro anos. Desde que integro a Rede
Amazônica de Educação em Ciências e Matemática a Amazônia tem sido um dos meus
lócus de fazer Educação.
Cheguei aqui quando pelo horário de Brasília começava a terça
e aqui tínhamos ainda quase uma hora da segunda-feira. Hoje é meu último dia
aqui. Viajo nas primeiras de sexta. Meu retorno estava previsto para sábado. Antecipei-o
em 24 horas por razões que desagradaram. Justifico adiante.
A
REAMEC é formada por vinte e seis universidades dos nove estados amazônicos que
tem como meta formar 120 doutores em ensino de Ciências, até 2020. As
atividades de seminários e defesas de teses ocorrem em uma das três
universidades líderes: Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade
Federal do Pará e Universidade do Estado do Amazonas. Todas universidades
participantes se comprometem contratualmente a garantir a participação nos
seminários dos seus doutorando e também dos respectivos orientadores.
Em
20 de fevereiro, a professora de Química, da UEA, no campus de Parintins, Célia Maria Serrão Eleutério recebeu
títulos de doutora com tese O Diálogo
entre Saberes Primevos, Acadêmicos e Escolares: potencializando a formação
inicial de professores de Química na Amazônia. Ela foi a primeira que levei
ao doutoramento na REAMEC. Tenho, por ora, dois doutorandos: Irlane Maia de Oliveira, professora da
UFAM, que ontem pré-qualificou; e Eduardo Ribeiro Mueller, da UFMT.
Participo do Seminário de Pesquisa II dos
doutorandos que iniciaram o curso em 2013. Os seminários de Pesquisa (o
primeiro desta turma foi em Belém, no ano passado; agora ocorre na UEA) têm uma
estrutura que merece ser narrada. Durante cinco dias reúnem-se orientandos e
orientadores para avaliar o andamento dos projetos de pesquisa. Estes são
divididos em duas linhas de pesquisa (LPs): Formação de Professores e
Fundamentos e Metodologias.
A dinâmica em cada uma das LPs é a
seguinte: São previamente montadas bancas, onde cada doutorando tem 50 minutos
para apresentar seu projeto de tese, com a metodologia adotada para a pesquisa e os dados já
coletados e possíveis categorias de análise, ou seja, a pesquisa em andamento. Após um doutorando tem 10 minutos para
dialogar com o autor acerca do projeto. A seguir, dois doutores fazem análises
e arguição do projeto, durante 15 minutos. A final ainda pode ocorrer
manifestações do orientador e outros dos assistentes. Assim cada doutorando tem
mais que 1,5 horas para seu projeto. Em cada uma das tardes são apresentados
quatro trabalhos por sessão.
Estas sessões ocorrem nas tarde, pois as manhãs são dedicadas às leituras dos
projetos e reuniões entre docentes. As manhãs também são dedicadas para
orientação antes e após apresentação dos projetos.
Refiro aqui a justificativa de
meu retorno antecipado. Não participo das avaliações da sessão de amanhã,
consciente que nas três que participei trouxe colaborações. Soube na tarde de
ontem que, pelo fato de algumas universidades — mais uma vez — não horarem
compromissos, doutorando estão sendo onerados com o pagamento de viagens e
estadia de seus orientadores. Protestei em sessão pública que considero isso
injusto, e mais indecente, com riscos de poder ocorrer situações aéticas.
Ainda um registro desta estada manauara. Na manhã de
terça participei de uma oficina de alfabetização científica do “Programa de Ciência na Escola” mantido
pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisa na Amazônia) e pelo governo do
Estado. Falei para quase cem professoras e professores que detêm lideranças no
PCE acerca de óculos que assestamos para ver o mundo.
Peço que aqueles que consideram deselegante minha despedida,
que relevem e entendam que não só devamos anunciar. Denunciar,
também, é preciso.
O "fazer educação" pagando o preço da ausência de ética e de humanismo na máquina administrativa que, por vezes, trabalha de braços e olhares fiéis ao mercado. Viva o capital, criador da imensa "servidão moderna" ao deus $$$
ResponderExcluirBravo! Mestre Chassot!
ResponderExcluirHá poucos que se indignam com injustiças.
O senhor é exemplo. Concordo: Denunciar é preciso.
Élvio Potiguar
Ricardo Antunes, sociólogo, professor e pesquisador da Unicamp, denunciou por volta de 2012 em um programa da tv Cultura chamado "Roda Viva", o atual estado de precariedade das coisas e relações. Em síntese, a responsabilidade a cada dia merece lugar de destaque como artigo de museu. As pessoas falham em seus compromissos mesmo sabedoras dos efeitos danosos que causarão em terceiros. E isso o fazem com uma naturalidade irritante. Há alguns anos atrás estava eu envolvido em um acalorado debate pois um fornecedor de material de vídeo segurança havia entregue umas câmeras diretamente ao meu cliente, todas obsoletas e com um preço exorbitante. O cliente "fulo" da vida vociferava a beira de um infarte, e eu tentava contornar a situação passando uma reprimenda ao vendedor pelo telefone, quando em determinado momento me surpreendi com o comentário do filho do meu cliente: " O seu problema sr. Antonio, é que o senhor esquenta muito...". E olha que eu estava defendendo os interesses do pai dele que "bufava" quase tendo um colapso nervoso...
ResponderExcluirPrezado Chassot,
ResponderExcluirVim aqui para testemunhar que este incômodo que estás passando, por conta da infraestrutura dos seminários, em Manaus, se presentificou também aqui em Belém, no ano passado, se não me engano. Assim, naquela ocasião, me confidenciaste de tua angústia, por tal estado de coisa, e pensei que era problema pontual, uma exceção e não uma regra, e que seria resolvido pelas universidades nos próximos encontros.Termino com um ditado aqui de minha terra "Por falta de um grito se perde uma boiada" Parabéns pelo teu grito!
Geziel Moura
Prof. Chassot,
ResponderExcluirMuitos de nós educadores desenvolvemos pesquisas sociais, defendemos teorias de sociólogos, epistemólogos quase sempre com o discurso de melhorar o processo educativo, formar sujeitos melhores, mais humanos, entretanto, praticas desta natureza /posturas, negam a própria missão de educador. Mostra que as teorias que defendem, não condizem com as práticas.Concordar com este tipo de prática é negar o que defendemos, o que somos. Estes professores estão formando os doutores de amanhã. Faço o seu protesto, também meu protesto.
Pagar para se fazer educação é um absurdo, os doutorandos da REAMEC NÃO tem bolsa de estudos, tem que custear suas despesas e de seus orientadores, passagens aéreas e diárias de uma semana em hotéis caros e mais pagar todo o coquetel oferecido no evento, uma preocupação financeira na qual desestrutura o doutorando, essa postura merece uma denuncia formal junto ao MEC e aos meus de comunicação nacional, vou tentar uma reportagem. Parabéns prof. Chassot
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