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quarta-feira, 23 de maio de 2012

23.- UMA VEZ MAIS EM SANTA MARIA



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2121
Nesta tarde+noite faço 2 x 300 km no percurso Porto Alegre/Santa Maria/Porto Alegre para na UFSM — uma das grandes universidades brasileiras, com cerca de 27 mil alunos — preferir palestra para alunos de nove cursos de graduação.
Recordo quando em 1959/60 trabalhava no restaurante da Reitoria a UFRGS, quando havia reunião do Conselho Universitário — que aumentava muito o serviço — vinham os diretores de faculdades de Santa Maria e Pelotas que pertenciam a UFRGS. Estas ‘unidades do interior’ foram sementes que se transformariam nas UFSM e UFPel.
Foi neste Conselho Universitário, 32 anos mais tarde, que o guri serviçal do balcão, já professor, ouviu a notícia dada pelo já falecido Reitor Prof. Tuiskon Dick que ele acabara de assinar minha aposentadoria da UFRGS.
A UFSM se orgulha, com razão, de ter sido em 1960, a primeira universidade federal brasileira de uma cidade não capital de estado. Na foto o Campus em Camobi. É, nesta época, com o sucateamento das ferrovias, que a cidade mais central do estado tem seu título de capital ferroviária deslustrado para ser conhecida como ‘Metrópole universitária’.
Voltar a Santa Maria me oferece evocações. Há razões históricas que me ligam a esta cidade e a sua Universidade.
Sou nascido em Estação Jacuí, filho de ferroviário, e o mundo de minha infância tinha nesta cidade o polo maior. Santa Maria foi a primeira cidade que conheci. Era aqui que vínhamos em busca de médico e aqui era um ponto de atração para a família ferroviária, no tempo que esta cidade era o grande centro geo-ferroviário do Estado.
Lembro da emoção que tive quando acompanhei minha mãe a uma Romaria da Medianeira, talvez há 65 anos. Foi pela primeira vez que vi sorvete. Recordo que a pessoa que comia o sorvete ao final atirou o copinho fora e eu ia juntá-lo — me DNA de lixeiro manifestou-se precocemente, mas minha mãe proibiu, pois este caíra sobre estrume recém-excretado por um cavalo. Ouço, ainda hoje, o barulho ritmado das ferraduras dos cavalos ao contato com as pedras do calçamento em época que não existia asfalto.
Tenho uma história médica anterior que não lembro, mas sempre foi muito contada. Quando tinha em torno de um ano caí em uma lata que fora transformada em vaso. Fiz um corte sob o olho direito, cuja marca é ainda atestado de uma peraltice que conservo. Imagino a dor de meus pais, para conseguir carona em um trem para me levar a Santa Maria para levar pontos.
Os trens eram meu sistema de referência e estes ou vinham ou iam para Santa Maria. Os trens regulavam nossos horários. E a expressão “atrasado como paulista” se devia ao fato de que o trem que vinha de São Paulo chegava invariavelmente atrasado. Também conhecíamos as máquinas. Tinha a 812, 847 e 904. A grande disputa era ser proprietário das milionárias, que chegaram ao final de nosso morar em Jacuí. Sei que a 1011 era minha. O trem de maior sucesso, e o mais esperado, era o trem pagador. O salário vinha dentro de envelopes, onde estava descritos os débitos e os créditos. Havia uns vales que substituíam as moedas divisionárias.
Em Santa Maria era a matriz (com filiais em outros núcleos ferroviários do estado) da Cooperativa dos ferroviários — uma potência então — de onde consumíamos praticamente toda a nossa alimentação como também remédios, pois a cooperativa tinha uma rede de farmácias. Elaborar a lista do rancho mensal e aguardá-lo era um ritual. No dia 19 de cada mês as filas na cooperativa eram extensas, pois então os débitos ‘corriam para o outro mês.
A cooperativa mantinha em Santa Maria a escola de Artes e Ofícios Hugo Taylor. Meu finado irmão José Maria teve um período internado nesta escola. A cooperativa subsidiava as mensalidades em estabelecimentos particulares em outras cidades.
Também foram fortes, em anos bem mais recentes, minhas ligações com o curso de Química da UFSM e com as licenciaturas das áreas de Ciências em geral. Juntos organizamos aqui o 3º, o 9º e 21º Encontro de Debates de Ensino de Química na UFSM e em 2009, 29º EDEQ na UNIFRA.
Participei, também, como representante da UFRGS, em ações conjuntas que envolviam docentes desta e de outras universidades de um programa para a educação de professoras e professores de Ciências. Também já fiz nesta cidade várias palestras e participei de bancas de dissertações.
Portanto, hoje farei um retorno prenhe de ‘avivar saudades’. Nele vou tentar responder um grande interrogante: O que é Ciência, afinal?  Volto a Porto Alegre quando a quinta-feira estiver começando.

5 comentários:

  1. Caro Chassot,
    esta 'viagem' à Santa Maria será muito mais uma excursão pela memória do que uma conferência para universitários. Pena que não poderás mais embarcar nos antigos vagões marrons da RFFSA, de primeira com poltronas que viravam no final da linha e ouvir o sino da estação.

    Boa viagem!

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Tua seção nostalgia mexeu com minhas recordações de menino vividas em Palmeira no Paraná, cidadezinha em tudo parecida com tua Jacui. Abraços memorialistas, JAIR.

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  3. Caro Chassot
    As filas do dia dezenove na cooperativa me remetem ao uso atual do cartão de crédito. Estratégias semelhantes para tempos distintos.
    Abraços,
    Fernando

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  4. OI CHASSOT!
    LENDO TUA POSTAGEM, ME REPORTEI A SANTA MARIA, LÁ ME CRIEI, TUDO QUE FALASTE ME É SAUDOSO TAMBÉM.
    PRINCIPALMENTE OS TRENS, QUE ERAM UM DIFERENCIAL PARA ESTA CIDADE, ALÉM DE UMA GRANDE FONTE DE EMPREGOS, QUE DAVA A CIDADE MUITO MAIS RECURSOS PARA TODOS OS SETORES.
    BOA VIAGEM E PALESTRA PRODUTIVA, SUCESSO.
    ABRÇS


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