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sábado, 29 de janeiro de 2011

29.- A Ilha Sob o Mar


Porto Alegre * Ano 5 # 1640

Era quase 21h quando estava de volta a Morada dos Afagos. Foram mais de 36 horas de ausência que pareceram semana. Não sei bem a explicação. Talvez pela a intensidade das emoções vividas. Talvez a irrespondida interrogação: ¿Vale a pena todo este investimento físico destas viagens para falar duas horas?

A palestra no Colégio Santa Emília marcou, na instituição, o encerramento de uma semana de atividades pedagógicas para uma centena de docentes de todas as áreas do ensino fundamental e médio. Dividi a minha intervenção de cerca de duas horas em três movimentos. No primeiro, fiz discussões da Ciência um construto humano para a leitura do mundo e comparei com outros mentefatos culturais. No segundo, centrei-me no tema elegido pela escola ‘como professores de todas as áreas podem ser pensados como formadores de jardineiros para cuidar do Planeta’. No terceiro movimento, comparei duas escolas uma de 2001 e outra de 2011 e propus alternativas para uma escola que se não mudou, foi mudada.

Em cada um dos cinco dias do evento uma editora brasileira ofereceu apoio ao evento e eu participei auspiciado pela Moderna que me ofereceu todo o suporte para a participação. Agradeços as muitas atenções recebidas da filial de Recife.

Após as atividades com o Paulo Marcelo e com o Euzébio – meu colega já de muitas jornada (a última fora no mini-curso de História e Filosofia da Ciência em Brasília em julho) que agora esta na UFPE no Campus de Serra Talhada, uma cidade no sertão Pernambucano, que surge na clivagem de extensa serra –, fomos ao município de Paulista para apreciar em fraterno ágape dois peixes que não conhecia: agulhinha negra e arabaiana. No restaurante havia uma árvore carregada de coité, um fruto que também desconhecia.

De Paulista, por algumas estradas vicinais e depois pela BR 101 chegamos ao aeroporto de Guararapes, para nas despedidas do Euzébio e do Paulo Marcelo simbolicamente dar tchaus a muitos colegas com quem me envolvi nesta abertura pernambucana de minhas palestras 2011.

Como a rotatividades de leitores aqui devo dizer que as blogadas sabáticas são de dicas de leituras. Traga usualmente comentários de autores e livros que me envolveram mais recentemente.

Contei aqui, no primeiro sábado de janeiro que tive um recesso natalino pródigo em leituras. 1.- Caso Kliemann: A história de uma tragédia. [Dica de leitura em 15 de janeiro] 2.- A Ilha sob o mar – Dica de leitura em 8 de janeiro]. 3.- El infinito en la palma de la mano. [Dica de leitura de hoje] 4.- El sueño del celta. [Dica de leitura em 22 de janeiro]. Três destes se fizeram resenhas aqui nos sábados referidos. Encerro o ciclo o comentando o ultimo romance da autora que já há 30 anos me encantava com “A casa dos espíritos”, fazendo-me então aproveitar a estada dela em Porto Alegre para pedir que autografasse meu exemplar do ‘Circulo do livro’.

Aliás, preciso dizer que a resenha de hoje se conecta de maneira muito cruenta com o livro de Mario Vargas Llosa trazido aqui no sábado passado. Um e outro retratam o massacre que brancos opressores fazem a negros escravizados.

ALLENDE Isabel, A Ilha sob o mar Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2010, 476 p. [La isla bajo el mar Tradução: Ernani Sso] ISBN 978- 85-286-1444-2. R$ 49,00.

Isabel Allende Llona (Lima, 2 de agosto de 1942) é uma jornalista e escritora chilena. Apesar de ter nascido em Lima, sua família logo voltou para o Chile, sua terra natal. Atualmente está radicada nos Estados Unidos da América.

Isabel Allende é considerada uma das principais revelações da literatura latino-americana da década de 1980. Sua obra é marcada pela ditadura no Chile, implantada com o golpe militar que em 1973 derrubou o governo do primo de seu pai, o presidente Salvador Allende (1908-1973).

Escreveu A casa dos espíritos (1982) e ganhou reconhecimento de público e crítica. A obra foi filmada em 1993 por Bille August, com Jeremy Irons e Meryl Streep. Em 1995 lançou o livro Paula, que a autora escreveu para a sua filha que estava em coma devido a um ataque de porfiria. Como a autora não sabia se a sua memória voltaria após a saída do coma, Isabel Allende resolveu contar a sua história para auxiliar a filha a lembrar dos fatos. Paula passou a ser então um retrato autobiográfico. Sua filha não voltou do coma e morreu um tempo depois.

Em agosto de 2010 chegou às livrarias de todo o país o mais recente livro de Isabel Allende, A Ilha sob o Mar, um romance histórico de homens e mulheres com coragem para arriscar tudo em troca da liberdade, durante a colonização francesa no século 18, em tempos em que na metrópole se vivia o Iluminismo e a consequências da Revolução Francesa.

O romance narra a vida de Zarité, a escrava que foi vendida aos nove anos de idade para o francês Toulouse Valmorain, dono de uma das maiores plantações de cana-de-açúcar nas Antilhas. Como escrava doméstica, ela não padeceu as dores e as humilhações de seus iguais, mas conheceu as misérias de seus patrões, os brancos.

Desde o começo o leitor sente a tensão frente à realidade da ilha e a severidade com que Zarité é obrigada a conviver. Ela torna-se concubina de Valmorain e é responsável por cuidar dos dois filhos do patrão: o legítimo, que teve com sua esposa espanhola – uma personagem deplorável no romance –, e o extra-oficial, que teve com a própria Zarité.

A Ilha sob o Mar é um livro apaixonante que começa por volta de 1770, poucos anos antes da revolução haitiana. Quando os escravos se rebelam e queimam as plantações da ilha, Valmorain, Zarité e as crianças conseguem fugir para Cuba, e depois se estabelecem numa nova fazenda em Nova Orleans, nos Estados Unidos.

Quando se assiste o estado de calamidade em que se encontra alicerçada a sociedade haitiana, não vê que está no passado de horror as verdadeiras causas do desequilíbrio e do infortúnio em que estão mergulhados. A ilha, dividida entre a colonização espanhola e francesa, viveu um dos regimes de segregação racial mais brutais que se conheceu na Terra. Os negros, trazidos em sua maioria da Guiné, na África e de regiões circunvizinhas foram submetidos a um sem número de torturas que começavam nos próprios navios negreiros e culminavam no solo caribenho de águas límpidas e sol à pino.

É sobre parte desse processo que fala o novo livro da escritora Isabel Allende. Intitulado A Ilha Sob o Mar, o título é um verdadeiro resgate dos inóspitos caminhos da escravidão. Tudo enovelado pela história da escrava Zarité.

Como referi este livro, como o aqui resenhado no sábado, traz muito das desgraças humana. Este talvez tenha um contraponto: mescla-se com lindas histórias de amor. A Ilha Sob o Mar parecer uma boa sugestão para o fevereiro que advém. Votos de um excelente sábado e a expectativa de nos lermos amanhã.

6 comentários:

  1. Uau!!! Gostei das dicas, está dentro da minha linha de interesse e vamos embora que fevereiro vem chegando e em Março é carnaval!!!

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  2. Caro Attico,

    permita-me duas correções a teu relato: o nome de nosso colega é grafado com z - Euzébio - e o nome do município é Serra Talhada, uma cidade do sertão pernambucano que surge na falha de clivagem de uma extensa serra.


    Grande abraço,

    PAULO MARCELO

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  3. Pandora querida,
    que bom que a dica pós rápido périplo em tua encantadora Pernambuco te agradaram.
    Um curtido ocaso de janeiro com um afago do
    Attico chassot

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  4. Atencioso Paulo Marcelo,
    a correção foi feita. Durante o saborear das agulhinhas já havia sido feito o reparo de vocês ao nome do município e eu reincidi no erro. Quanto ao zê em Euzébio, não sabia.
    Um bom ocaso de janeiro e mais uma vez obrigado por tudo
    attico chassot

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  5. puxa, uma livro que expõe as misérias dos patrões a partir do olhar de uma escrava, que bacana! Vai para a lista.
    É, o Haiti é aqui mesmo.

    bom domingo, Mestre!

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  6. Marília, uma filósofa muito querida.
    Realmente este livro merece ir para tua lista. A Ilha sob o mar e o Segredo do Celta são dois libelos contra os brancos pelas atrocidades cometidas contra negros e indígenas.
    Adito um convite para a blogada de amanhã: 30.- Domingo, pode ser dia de lobisomem
    Uma boa noite com afagos
    attico chassot

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